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Entrevista a João Carlos Callixto



Entrevista a João Carlos Callixto – Investigador, Autor de vários livros, programas de Rádio e TV

Participou como membro do Júri de sala do Festival RTP da Canção e escreveu o livro “Portugal 12 pts” que significado tem a sua participação como júri e o livro sobre este resultado histórico para Portugal?

Participar como jurado nas semi-finais do Festival da Canção de 2017 foi um prazer muito grande a vários níveis. Ao facto de ver como o Festival nesse ano passou de novo a ter outra importância para as gerações que dele estavam afastadas e o reconhecimento que o seu peso histórico merece juntou-se a vitória na Eurovisão de Salvador Sobral, que teve um significado bem especial por várias razões. O livro “Portugal 12 Pts”, em co-autoria com Jorge Mangorrinha, estava projectado para sair antes do Festival de 2017, mas ao ver-se tudo o que estava a acontecer à volta do evento decidiu-se adiar e acabou por sair em simultâneo com a realização do Festival da Eurovisão em Lisboa, em 2018.

Escreveu em 2014 o livro - “Canta, Amigo, Canta - Nova Canção Portuguesa (1960-1974)”, um livro de recolha sobre o que vários músicos populares e de protesto contribuíram para várias mudanças na música portuguesa nos últimos anos do regime fascista português. Que importância tem para si todo este trabalho de recolha dos músicos populares e de protesto para este livro?

O livro retrata um universo de mais de 100 nomes, com obra publicada em disco nos últimos 15 anos do Estado Novo, e pretende trazer ao presente legados que foram mais ou menos importantes na época – mas que, em grande medida, se encontram por redescobrir. Se aqui encontramos vozes que hoje em dia continuam as suas carreiras e todos conhecem – como Sérgio Godinho, Fausto, Carlos Mendes, Paulo de Carvalho ou Fernando Tordo – muitos outros há que, por diversos motivos, têm a sua obra injustamente esquecida.

Em 2005 escreveu o livro "Na Terra dos Sonhos" sobre a obra poética de Jorge Palma e inclui toda a sua discografia. Foi co-Autor do livro "Portugal Eléctrico" (a história ilustrada sobre os primeiras décadas do Rock em Portugal) .

Como foi para si trabalhar a obra poética e discografia do Jorge Palma, trabalhar neste livro "Portugal Eléctrico", e o que aprendeu com estes dois trabalhos?

Estes dois livros, tal como os outros, são a materialização de muitas aprendizagens prévias – mas, como em tudo, aprende-se ainda mais ao fazê-los. No dedicado à obra de Jorge Palma, o primeiro que fiz, tentei organizar a sua produção poética e discográfica – a editora entretanto faliu e está pensada uma segunda edição bastante revista e aumentada. Quanto a “Portugal Eléctrico”, foi um trabalho de equipa em que escrevi parte dos textos – aí pretende-se mostrar que o período anterior ao chamado “boom” do rock de 1980 é, pelo menos, tão interessante e criativo como essa década.

Acredita que pode ainda despertar as pessoas para o início da história do Rock em Portugal em 55 e para o enorme impacto do Rock nos finais de 70 inícios de 80?

Sim, como de certa forma respondi na pergunta anterior. Se os anos finais da década de 1950 em Portugal conhecem apenas umas tímidas aproximações ao rock, a partir de 1960 ele chega com toda a força. E há depois muitas fases por conhecer e estudar, como a dos conjuntos à Shadows, a fase em que os Beatles ditam as regras, a fase do rock psicadélico, a do rock progressivo, a do punk ou até a dos cruzamentos entre o jazz e o rock. O boom de 1980 é o resultado de tudo isto, especialmente dos grupos que na segunda metade de 70s iam abrindo caminho na estrada.

Em 2010, colaborou na obra em 4 volumes “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX”. Foi igualmente co-autor do programa “Estranha Forma de Vida - Uma História da Música Popular Portuguesa”, na RTP.

Como foi para si desenvolver estes projectos, de dar a conhecer a música em Portugal e a Música Popular Portuguesa?

A minha colaboração na Enciclopédia ocorreu em 2002 e 2003, numa fase de preparação de entradas. É um grande prazer ter participado numa obra que, sem dúvida, está desde já na história da bibliografia musical em Portugal. Quanto à série televisiva, foi o meu primeiro projecto na RTP e, apesar do meu olhar parcial, acredito que também seja um marco – nunca se tinha feito uma série tão ambiciosa sobre a nossa música. São 26 episódios e cerca de 150 entrevistas! Acredito que estas possam ser portas de entrada para muita gente conhecer mais a fundo o nosso legado musical e isso é essencial.

Tem feito igualmente os programas “Passado ao Presente” e “Gramofone”, ambos relacionados também com a Música Portuguesa. O que o tem motivado a estudar e promover a música portuguesa quer através destes livros, quer através de programas que faz na RTP ou outros?

Há de facto uma paixão imensa que vem da juventude em relação à Música em geral e, em particular, à Portuguesa. Se inicialmente os universos dos cantautores e dos músicos de rock foram as grandes paixões, pouco tempo depois percebi que não fazia sentido estudar e/ou apreciar a música de cada época de forma estanque. A História da Música em Portugal é um contínuo em que músicos de diversas áreas se cruzam com outros que muitas vezes se pensa que pouco têm a ver com eles. Acabei por me debruçar mais sobre o panorama musical a partir da década de 1950, nomeadamente em termos da indústria discográfica pós-introdução do disco de vinil – que, hoje em dia, volta a ser um dos formatos de eleição do mercado.

Vivemos num tempo de enormes dificuldades e desafios para quem trabalha na cultura.

Como agente cultural, o que nos pode dizer e aconselhar sobre como ultrapassar estas dificuldades, e sobre como mudar este paradigma de desigualdade e esquecimento?

A recente reabertura das salas de espectáculos, em moldes diferentes dos inicialmente pensados, é um sinal positivo. No entanto, é preciso pensar em outras medidas, nomeadamente em apoios reais às muitas pessoas que estão ligadas à indústria do espectáculo e a quem o decréscimo acentuado ou mesmo a inexistência de trabalho tem feito passar por sérias dificuldades.

Quais são os seus sonhos para Portugal?

Portugal é um sonho colectivo com muitos séculos de História. Creio que todos gostaríamos muito que fosse cada vez mais um país em que as desigualdades sociais se esbatessem e em que o lugar da Arte fosse cada vez mais presente, desde a aprendizagem escolar. Se somos um país de poetas, há-que os ver lidos, representados e cantados – e, sempre que possível, em vida dos mesmos!

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho. Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: João Moreira

21 de Julho de 2020

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