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Entrevista A Delmar Maia Gonçalves

 

Entrevista dada pelo poeta moçambicano Delmar Maia Gonçalves ao animador cultural e social português Pedro Marques do Projecto “Vidas e Obras”.

 

1)      Estás desde 2017 na Associação IUNA – Implementar Uma Nova Atitude Social. Como é para ti promover a cultura lusófona e a Língua Portuguesa?


Faço a minha pequena parte sempre que chamado /convidado /desafiado a dar o meu contributo que já considero substancial. Sobre a IUNA creio que é um projecto bonito, útil, ambicioso e com uma boa liderança. Sou apenas presidente de um Conselho Consultivo, com uma participação limitada. Aconselho portanto sempre que solicitado ou que necessário relativamente aos PALOP, Timor-Leste e Brasil.

O meu maior contributo na área cultural e linguística é sem dúvida através do CEMD (Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora) desde 2008 e com a oficialização desta associação em 2010.


2)Participaste no Projecto Literatura e Cultura em tempos de pandemia. Que importância teve trabalhares neste projecto numa altura complicada para os artistas e em que as pessoas precisavam de cultura?


Foi um projecto literário da UCCLA para o qual surgiu um convite aberto aos poetas e escritores. Obviamente não podia rejeitar a oportunidade.  Foi um gesto único de reafirmação humanista de que estamos vivos, bem vivos e resistimos na união da diversidade, uma demonstração da nossa resiliência. Participei também noutro projecto literário paralelo promovido pelo Consulado de Portugal em Itália que muito me honrou e alegrou. A cultura sobrevive nas condições mais adversas.


3)No Festival Internacional Grito de Mujer Lisboa 2023 e o CEMD do qual és Presidente da direcção foi parceiro do mesmo, que impacto pode ter este festival na sociedade? De que forma é que pode homenagear a mulher e a luta contra a violência sobre as mulheres?


O impacto do festival na sociedade portuguesa é relativo, até porque ele decorre em simultâneo em várias cidades do mundo e é presidido a partir da República Dominicana onde reside a sua fundadora, a poeta Jael Uribe. Eu coordeno-o em Lisboa dando o meu pequeno contributo no movimento internacional. Há muitos outros eventos pela paridade de género em várias outras vertentes a decorrerem que não a cultural e artística a decorrerem. Digamos que este festival de natureza cultural é um entre muitos outros a decorrerem em Portugal. Mas acredito que terá inspirado muitos outros eventos que não festivais que hoje existem na e para a promoção das mulheres.

Não posso deixar no entanto de ressalvar que foi pioneiro na homenagem às mulheres em Portugal o Dr. João Micael presidente da Matriz Portuguesa e da Academia do Protocolo com o lançamento do Prémio Femina que homenageia as mulheres do universo lusófono. E é sem dúvida de grande importância e impacto em Portugal e nos outros países lusófonos.


4) Estiveste na Conferência para assinalar os 40 anos da independência da República de Moçambique como orador convidado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. O que significa para ti teres participado nesta Conferência?


Para mim foi uma honra ter sido convidado e participado, principalmente porque pude deixar claro que passados estes 40 anos, já com alguma maturidade de um país “adulto” e a mudança de um regime monopartidário para um regime multi-partidário fruto de um acordo geral de paz, depois de uma guerra civil fratricida de 16 anos, não faz mais sentido haver perseguições políticas, assassinatos políticos e atentados à liberdade de expressão.

Sou e sempre serei pela reconciliação genuína dos moçambicanos e pelo grande objectivo que a todos anima de um verdadeiro desenvolvimento do país e em que todos os moçambicanos possam contribuir com o seu potencial.

 

´5) És curador literário, coordenador literário, animador cultural, conferencista, poeta, escritor, declamador, tens promovido as culturas africanas e a língua portuguesa. O que te tem motivado e o que tens aprendido com as histórias e a poesia africanas? O que nos podes falar sobre estes anos em que tens feito este trabalho de promoção da cultura?


Sabes amigo Pedro, sou como as lendas africanas, constroem-se paulatinamente e no processo reconstroem-se. A poesia é a lenda da história e eu sou apenas mais um protagonista. A poesia conta sempre uma história, a lenda de cada um que exprime a sua realidade e o seu universo. A presença de algum peso narrativo é uma realidade, por vezes detectado apenas nas entrelinhas.

Vou dando o meu modesto contributo, deixando pegadas ao longo do caminho e da caminhada, não sem encontrar pedras no caminho de personagens medíocres que se arrastam com a sua paupérrima e vergonhosa mediocridade, boicotando o porvir. Umas vezes ultrapassando os obstáculos e outras atrasando apenas a caminhada. Nada é fácil quando se trata de enfrentar infiltrados com sorrisos de hienas. No entanto, confesso que com o tempo, a resiliência é maior que a paciência, o peso da idade e a multiplicidade de projectos me tornaram mais recatado e moderadamente activo. Já lá vão alguns anos de activismo cultural e de investimento sério, sincero e honesto na educação e cultura. Lembro-me perfeitamente do meu engajamento na cultura desde 1986 enquanto estudante na Escola Secundária da Parede (ex Liceu da Madorna) como vice-presidente para a cultura da então Associação de estudantes e já depois no ensino superior em Lisboa e depois em Almada. Creio ter chegado o momento da colheita. Há novas gerações em quem devemos apostar. O porvir exigi-o.

 

6)Quais são os teus sonhos para Moçambique e Portugal?


Obviamente espero que o caminho da democracia seja irreversível em ambos os países e que o desenvolvimento sem corrupção seja uma realidade não utópica e não um projecto de intenções.

Acrescentaria ainda que espero uma paz definitiva e duradoura em Moçambique fruto não só a ausência da guerra, mas de uma genuína cultura da paz e da reconciliação. Por outro lado e até pela circunstância de ter identificado “infiltrados” de praticamente todos os PALOP na cultura e na informação jornalística com alguma cumplicidade portuguesa e brasileira, que não passam de comissários políticos de um exército ao serviço de ”ditadorzecos” disfarçados ou mascarados de democratas que envergonham os africanos enquanto os nossos povos vivem a míngua de pão.



Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

 

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: João Aristides Duarte

19 De Fevereiro De 2024

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