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Entrevista a Vasco Balio – Cantor



Uma das tuas lutas é pelo direito do uso e tratamento da canábis para a eliminação da dor. De que forma é possível dar mais visibilidade a esta causa e torná-la possível? E como pode mudar a situação de quem precisa mesmo deste tratamento? Olá Pedro Marques, obrigado pela tua atenção. A legalização da Cannabis para fins terapêuticos já existe, mas é para quem tem mesmo muito dinheiro. Na última Consulta da Dor, deram – me duas opções: Tratamento com Cannabis ou ajustar (aumentar) a dose de comprimidos analgésicos. Claro que respondi que quero o tratamento com Cannabis, porque até agora foi o melhor analgésico que tomei (fumei), actua mais rápido sobre a dor, porque é natural e na minha opinião é mais eficaz que os anti-depressivos. Antes da minha lesão medular, já conhecia bem o Cannabis Recreativo e consumia quando queria, nunca senti dependência nem nenhum mau efeito secundário. A primeira vez que se fuma Cannabis ou haxixe,chega a “assustar “, somos confrontados com uma grande ansiedade, mas isso resolve – se com uns copos d’água, não há risco de overdose. Entretanto, há quem nunca mais queira fumar, outros fumam o segundo e sentem uma leveza, um relaxe, boa disposição, um apetite devorador e continuam a fumar com a frequência que quiserem. Atenção, eu nunca recomendei o consumo de drogas a ninguém (embora eu seja também a favor da legalização da Cannabis Recreativa), cada qual sabe se quer ou não experimentar e o que fazer recreativamente. O que os médicos me disseram na Consulta da Dor é que o tratamento requer um aparelho de vaporização que custa 400 € e cada carga 150 € e não há comparticipação do Estado, Estado esse que comparticipa a 100% o tratamento de toxicodependentes (e muito bem) com Metadona . Fumar é contra natura, a vaporização é usada e prescrita para várias patologias (Ex; Gripe, Asma …) uma grande parte de Consumidores de Cannabis consomem via vaporização usando uma simples garrafa de água e engenho (ver no Youtube), o SNS quer que eu pague 400€ por um aparelho quando eu só preciso de uma garrafa d’água e em vez de 150€ por cada carga, compro 20€ ao “Zé da esquina “e dura-me uma semana.

Conclusão: o Estado ou o INFARMED já permite a prescrição para efeitos terapêuticos, mas só para quem tem muito dinheiro e o que torna isto ainda mais ridículo ou sádico (porque a Dor Crónica dói mesmo) é que em Portugal já existe a maior área de cultivo de Cannabis no MUNDO … só para exportação.

Esta é a resposta mais sincera que te posso dar, uma resposta séria de quem sente a dor todos os dias (penso que não sou um caso isolado de Dor Crónica), só não sente quando adormece.

Não pretendo argumentar, especular, não é minha intenção tratar este assunto de uma forma


Tens feito trabalho social quer na Prisão de Paços de Ferreira quer com os “Doutores (as) Sorriso” Que importância tem para ti levares música à prisão e aos hospitais e animares essas pessoas?

Faz algum tempo que não canto no contexto Hospitalar ou de Reclusão pelas razões do Covid, da minha mobilidade e até sinto falta, faz – me bem poder ser útil a alguém que precisa, que está internada ou em reclusão. Não o faço para parecer um santo, eu próprio precisei da música nos hospitais por onde passei como paciente, acho que teria enlouquecido se não tivesse uma viola para tocar e cantar, acho que todos os hospitais deveriam ter sempre um tempo e um espaço para a música, ajuda muito os pacientes e os pacientes que participam. Quando estive internado (uns 9 meses) fiz uma “ torné “ entre o Hospital de Sto. António (Porto),Centro de Reabilitação do Norte


,(Vila Nova de Gaia) Hospital do Bonfim ( Vila do Conde) , a viola acompanhou -me sempre e dos versos do Mazola fiz canções que editei na minha ultima Edição de Autor produzido pelo Zé Paulo Marques com o titulo: do Mazola para o Vasco.

Serafim Gesta (Mazola) enviava – me textos e versos e eu musicava

– os, isso ajudou– me a mitigar as dores físicas e da alma.


É uma das muitas nobres funções da música,e quando posso alinho.


Tens no teu Facebook “Free Palestine”. Como é para ti associares-te a esta luta e de que forma é possível combater toda a violência exercida sobre a Palestina e a sua invisibilidade?


A minha foto “Free Palestine“n no Facebook é mesmo só isso,uma foto.

Gostava que fosse mais que isso, que influenciasse muita gente e que Israel (& EUA) parasse com a ocupação e tentativa de genocídio do povo Palestiniano.

Não tenho reconhecimento nacional nem mundial, se o tivesse alinhava ao lado do Roger Waters.

Será talvez o conflito de guerra mais antigo que continua a lavrar no mundo.

Resta a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, esta última parte da Palestina está cercada há muitos anos, não podem receber ajuda de ninguém,nem ajuda humanitária.

Houve Organizações não Governamentais que tentaram prestar ajuda humanitária via Mediterrâneo e Israel ameaçou afundar as embarcações que o tentavam fazer, … aos olhos de todo mundo.


Actuaste algumas vezes no projecto “John Wesley Harding – Bob Dylan”. Que significado tem para ti participares neste projecto/banda?

Sim, quando há condições de espaços com mobilidade, o José Paulo Marques generosamente convida-me para cantar o tema que dá título ao disco, mas antes de eu ficar paraplégico já era convidado. Eu já não o considero projecto, mas sim um facto confirmado. O ZPM teve a excelente ideia de fazer um tributodiferente a Bob Dylan porque em vez de ir ás canções conhecidas, foi buscar um disco que nenhum membro da banda conhecia à excepção dele próprio. É o Tributoa um disco de Bob Dylan que marca uma fase polémica de mudança do autor, com o título:John Wesley Harding. O ZPM tocava e cantava as canções (que ninguém conhecia)e a Banda ia trocando ideias sobre arranjos e solos. Uma das curiosidades desta Banda, é que os músicos trocaram os instrumentos que habitualmente tocam e tocam bem: o guitarrista foi para o Baixo, o Baixista foi para a bateria … bons músicos, multi-instrumentistas. Já agora, se me permites, aproveito para apresentar a Banda; “Senhoras e Senhoras, na voz e guitarra … José Paulo Marques!! (Salva de palmas, por favor!), na Guitarra solo …. Zé Beto!! (palmas),no Baixo …. Hélder Gama!!(palmas), na Bateria…. Gil Garrido!! (palmas), no Saxofone… António Ventura !!(palmas), na Harmónica…João Paulo!! …, (palmas)e Convidado Especial na voz e Harmónica …Vasco Balio!! (palmas) … Obrigadooooo!! Ensaios, bom ambiente e talvez no segundo concerto, Bob Dylan é congratulado com o Prémio Nobel da Literatura, facto que foi mundialmente polémico,mas a nós acrescentou algo mais de gozo e responsabilidade. O António Ventura, foi músico vários anos de Bandas Militares, chegou à classe de Sargentos, daí fez a ponte de John Wesley Harding com a Banda Militar do Porto, foi a cereja em cima do bolo. Fez a estreia no Festival Cultural Gasómetro em S. Pedro da Cova


na data dos 50 anos do álbum e o concerto a seguir foi no Porto,na Casada Música, uma noite mágica,fantástica e correu muito bem.

Entretanto, com e sem Orquestra já fez alguns concertos mais longe, como em Grândola, Guimarães… é uma Banda de agenda cultural e como alguém disse: “É outra forma de ouvir Bob Dylan “.

Gosto muito do som, do pessoal e quando posso participar ou assistir é dos momentos mais bem empregues que posso ter e recomendo.


Tocas na “Troika D' Atães”, banda onde cantam música tradicional e de rock de protesto. Como tem sido para ti estares neste projecto e cantares música de protesto e passar a palavra à malta? TROIKA d’ATÃES Falar ou escrever sobre a TROIKA D’ATÃES deixa – me sempre um bocado embaraçado, prefiro que seja o “Chalana” ou o João d’Atães porque são os fundadores, eu caí na Banda de “páraquedas” e felizmente a convite do Dr. António Pinto (Chalana), o verdadeiro “frontman”. Para mim a TROIKA d’ATÃESé festa, é combate, é partilhar e privar com gente que eu gosto de estar, fazemos parte de uma Ass. Cultural que se chama ACGITAR (Associação Cultural Geral Independente de Trabalhadores Amadores e Recreativa) , seguir o João, o Chalana, o Diogo, (novo baixista ) é uma aventura, é a oportunidade de tocar e cantar canções que remontam aos tempos do PREC mas que parecem actuais, é também cantar versões de clássicos portugueses, é discos pedidos, é ir tentar levar um bom bocado de tempo a quem precisa de animo e isso passa por hospitais, centros de reclusão, a quem vive e dorme na rua porque estes precisam de comer, precisam agasalhos mas também precisam de algum calor humano, de rir, conversar e cantar. Ficamos felizes quando fazemos alguém feliz, nem que seja por instantes, é isso que nos motiva é esse o nosso cachê.


Também funciona como o nosso Grupo de Apoio e Auto-ajuda, tipo AA mas podemos beber.

Acho que um dia vamos à televisão.


Fizeste o “Mazola”, um disco que criaste sobre S. Pedro da Cova e participaste nos “100 anos do Bairro Mineiro de S. Pedro da Cova. História e identidade de luta”. Como foi para ti criares este disco e teres participado nesta homenagem sobre S. Pedro da Cova?


Sobre as canções que editei com as letras de Serafim Gesta(Mazola)

Tinha que o fazer, porque faz algum tempo que o Mazola me nomeou como um dos fiéis depositários da sua Obra e para mim isso, para além de um motivo de orgulho é também uma grande responsabilidade, trata-sedo Poeta, Actor, Pesquisador da História da minha terra, tenho por ele um respeito muito grande, de certa forma fiquei aliviado porque ao musicar 7 poemas dele (3 foram musicados pelo ZPM ) penso desempenhei a função de nomeado com o contributo musical para a sua obra que é vasta. No seu acervo há muitos poemas para musicar ou recitar, crónicas, textos, documentos históricos, argumentos para peças de teatro,muitas fotos de época…

Devo dizer também, que o processo de composição das músicas me abstraiu da dor crónica(física e da alma), a música é terapia.

Depois deu-se a coincidência de o Bairro Mineiro completar 100 anos de existência (hoje completamente transformado) e haver canções da casa para celebrar o centenário.

É um daqueles momentos que marcam, acontece de 100 em 100 anos, Vasco Balio & A Banda participaram e um dia os nossos bisnetos vão poder confirmar. Agradeço eternamente o convite da ex-Junta de Freguesia de S. Pedro da Cova.


Quais são os teus sonhos para Portugal?


Os meus sonhos para Portugal, é que um dia seja soberano do ponto de vista económico, que a riqueza seja bem distribuída (nada tenho contra os ricos mas tenho muito contra a pobreza) que a ciência descubra a cura para muitas patologias, que os mais velhos tenham o apoio que precisam para um fim de vida com dignidade e as crianças em geral tenham um crescimento feliz, que as famílias tenham casa, condições para ter mais filhos, combatera Demografia que nos está a tornar um país de velhos e em particular, que as crianças com deficiências tenham o melhor do mundo para as terapêuticas que necessitam.

É possível.


Abraço Pedro Marques e obrigado pela tua atenção.





Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.


Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: João Aristides Duarte

31 De Março De 2023




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