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Entrevista à Psicóloga Ana Sousa

Algum do seu trabalho como psicóloga foi desenvolvido junto de populações desfavorecidas e com níveis de desemprego elevados. O objectivo foi promover a mudança através de estratégias actualizadas e cientificamente comprovadas. O que a motivou a trabalhar estas situações graves que muita gente vive hoje em dia? Desde que começou a focar-se nas problemáticas destas pessoas, o que conseguiu mudar? Foi possível consciencializar estas pessoas de que era possível uma mudança?

A minha motivação sempre foi poder ajudar as pessoas, desde muito cedo na minha vida. Antes de escolher a Psicologia como profissão, no meu íntimo queria muito ajudar os meus amigos e outras pessoas à minha volta. Este trabalho com pessoas em situação de desemprego acabou por surgir de forma natural quando acabei o curso. Revelou-se uma experiência absolutamente incrível de aprendizagem e troca de conhecimentos com cada pessoa que era acompanhada pelo Projecto Espiral, promovido pelo CESIS – Centro de Estudos para a Intervenção Social.

A equipa onde fui inserida era constituída por algumas pessoas com muita experiência em Sociologia e Psicologia Comunitária e isso facilitou muito o processo de mudança junto das populações.

Sinto que as pessoas que acompanhámos ganharam vários tipos de competências pessoais e sociais. Senti ganhos ao nível da comunicação, das relações com a família e com a comunidade, no aumento da auto-estima e na forma como passaram a cuidar de si, só para citar alguns.

As pessoas começaram desde cedo a entender que estávamos no terreno para as ajudar e para estabelecer pontes com outras instituições, por isso acho que o processo de confiarem em nós foi sendo ganho com o tempo, de forma gradual.

Ajudou bastante moldarmos o trabalho às necessidades de cada pessoa/família, quer a nível psicológico, como social. O trabalho começou a ser desenvolvido por mudanças em necessidades essenciais, como o acesso à alimentação e saúde física, passando ao mesmo tempo pelo trabalho ao nível da saúde mental e emocional.

Muitas destas pessoas tinham e têm histórias de vida muito difíceis e isso sublinha a importância de ter uma equipa multidisciplinar que as acompanhe e as apoie para que possam depois ganhar a sua autonomia.

Entre 2012 e 2014 trabalhou num outro projecto para ajudar pessoas em situação de desemprego com sessões individuais e de grupo. O seu trabalho focava-se mais em problemáticas como Depressão, Ansiedade e algumas Perturbações de Personalidade. Como foi para si poder trabalhar estas patologias tão recorrentes para tantas pessoas nos dias que correm? Que importância teve para si poder coordenar estas consultas individuais com grupos terapêuticos?

O projecto de que fala foi estruturado e desenhado por um dos meus actuais colegas, o Dr. Luís Gonçalves, na empresa onde ambos trabalhávamos na altura. Contemplava consultas individuais de acompanhamento psicológico e sessões de grupo onde eram fornecidas ferramentas para organização do dia-a-dia, relaxamento, entre outras.

Como cada grupo tinha duração limitada no tempo (cerca de 4 meses), o objectivo não era fazer um trabalho aprofundado do ponto de vista psicoterapêutico, mas sim diminuir sintomatologia ansiosa e/ou depressiva (para citar algumas) que estivesse a dificultar a inserção no mercado de trabalho.

A maioria das pessoas relata que o projecto foi uma mais-valia para a sua abordagem ao mercado de trabalho e dois terços terminaram o projecto a trabalhar ou em formação relevante para a sua futura vida profissional.

Esse projecto foi um dos projectos de que mais me orgulho de ter tido oportunidade de dinamizar e desenvolver e acho que mais projectos como esse deveriam ser promovidos por entidades estatais como o IEFP ou a Segurança Social.

Tem também dinamizado oficinas sobre vários temas: Motivação, Auto-Estima, Gestão de “Stress” e da Ansiedade, Comunicação eficaz. Como são importantes e fundamentais essas oficinas? De que forma têm permitido uma melhoria na vida das pessoas que as frequentam?

Actualmente por motivos de agenda não tenho conseguido desenvolver esse trabalho em grupo como o fiz no passado mas regra geral as pessoas ganham ferramentas importantes para a sua vida, mesmo que seja um workshop de um dia ou dois.

Claro que, para uma mudança mais estrutural, pode fazer sentido um acompanhamento mais personalizado (como uma psicoterapia individual), no entanto, estes workshops têm como objectivo a aquisição de ferramentas/conhecimento, o esclarecimento de dúvidas ou terem uma primeira abordagem com temas relacionados com a sua saúde mental.

“Relações Saudáveis: Como consegui-las?” - Escreveu este artigo em parceria com a Psicóloga Vanessa Damásio. O que as motivou a escrever este texto? Considera essencial escrever e debater este tema para que as pessoas aprendam a conseguir atingir e manter relações saudáveis?
Sim, é essencial falar sobre relações porque a nossa vida é recheada delas, seja a nível pessoal ou profissional, na família ou nos amigos. As relações são complexas, desafiantes e tanto podem nutrir como magoar. A Psicologia ajuda a explicar como se formam e mantêm essas relações, assim como os cuidados a ter para que sejam honestas, genuínas e saudáveis. No fundo a motivação é sempre ajudar as pessoas a encontrar estratégias saudáveis para ultrapassar os obstáculos que encontram, neste caso em particular, nas relações.
Tem feito diversas formações ao longo da sua carreira, umas mais específicas sobre sintomas ou perturbações, outras sobre abordagens terapêuticas e novas formas de trabalhar com os seus pacientes. O que a levou a querer estudar e trabalhar sobre estes temas que afectam negativamente a vida das pessoas?
Eu diria que a formação de um/a psicólogo/a nunca deve terminar. O avanço constante da investigação, nomeadamente da neurociência, é muito importante para as intervenções que fazemos com os nossos pacientes. Na Psinove (www.psinove.com), empresa que ajudei a formar (da qual fazem parte o Dr. Luís Gonçalves e a Dra. Vanessa Damásio já referidos anteriormente), damos muita importância à formação contínua dos nossos terapeutas para podermos fornecer as intervenções mais eficazes às pessoas que nos procuram. Neste momento, por exemplo, encontro-me a terminar a componente teórica da Formação Avançada em Arte-Psicoterapia.

Quais são os seus sonhos para Portugal?

Tenho vários sonhos para Portugal, em várias áreas distintas.

No que toca à Psicologia acho que tem sido feito um trabalho importante de sensibilização no que toca à Saúde Mental e que deve ser continuado para que ninguém tenha receio de ir ao psicólogo.

Já existem muitas pessoas a entender que a psicoterapia e a psiquiatria devem ser duas áreas que trabalhem em parceria e complementaridade. Na minha opinião, o consumo que temos de psicofármacos é assustador e o acompanhamento psicológico e a psicoterapia têm aí um papel fundamental.

Do ponto de vista social, e aproveitando estar a responder a esta entrevista em tempo de pandemia/quarentena pelo COVID-19, outro dos meus sonhos seria que as pessoas pudessem ajudar-se mais e julgar menos. Quando percebemos que somos todos iguais, independentemente das diferenças que nos caracterizam, poderemos avançar mais um pouco em termos humanitários e de solidariedade.

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho. Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques

Corrigido por: Jú Matias

02 de Maio de 2020

02 de Maio de 2020

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