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Entrevista a Maria da Graça Marques Pinto – Resistente Anti-Fascista, Activista, Professora

Esteve na resistência anti-fascista e na clandestinidade, foi torturada. Hoje, como professora, activista e membro do Antifascistas da Resistência. Como foi combater a Ditadura Fascista? Que aprendizagens obteve dessa luta? Como é para si poder ensinar acerca da sua luta, a tortura, o fascismo?

O meu processo de crescimento como pessoa é inseparável da luta pelo derrube da ditadura fascista e pela construção de uma sociedade, onde os direitos dos trabalhadores e o acesso, à educação, saúde e habitação sejam uma realidade.

O que podemos e devemos aprender sobre o fascismo/estado novo e o 25 de Abril?

Sou oriunda de uma família de democratas, sendo que desde cedo me apercebi da privação da liberdade e de direitos sociais no meu país e de que os jovens eram enviados para a guerra colonial ,onde morriam, ou sofriam sequelas ´físicas e psicológicas numa guerra injusta que tinha como objetivo perpetuar o colonialismo.

Frequentou a Faculdade de Direito em 1968, onde se tornou activista do movimento estudantil e onde colaborou com a secção cultural da Associação de Estudantes durante a denominada crise de 1969, aquando da luta dos estudantes por uma educação democrática, direitos de reunião, associação e manifestação reprimidos pelo regime fascista de salazar e caetano. Como activista e anti-fascista, considera estas lutas uma mais-valia para o seu processo como pessoa e activista? Como devem as pessoas olhar para estas lutas, a repressão, o estado novo?

Entrei na faculdade de direito de Lisboa em 1968 e a crise académica de 1969 veio reforçar as minhas convicções. O direito de reunião e associação eram fortemente limitados e a proibição de iniciativas, nomeadamente da secção cultural da Associação de Estudantes de que era colaboradora eram recorrentes. Os estudantes não tinham lugar em qualquer órgão de gestão universitária e nem sequer lhes era permitido tomar a palavra em sessões académicas. A luta estudantil de 1969, teve início com a recusa por parte do movimento associativo de acatar a proibição de um representante dos estudantes falar na sessão de abertura do ano letivo, em Coimbra. Sucedeu-se uma repressão violenta. Muitos estudantes foram alvo de processos disciplinares e enviados compulsivamente para a tropa.

Seguiu-se um período de protestos sob a forma de greves e manifestações ferozmente reprimidas que alastraram às academias do Porto e Lisboa. Desde a primeira hora escolhi o meu “lado da barricada”, participando ativamente nestes protestos e na luta por um ensino democrático .

Mas a luta estudantil não se circunscreveu, apenas, às questões académicas. Uma boa parte dos ativistas participaram em iniciativas pelo fim da guerra colonial e de solidariedade com o movimento operário vítima de repressão.. Neste contexto, sofremos várias cargas policiais quando tentávamos manifestar-nos (o direito de manifestação não existia). Muit@s estudantes foram detid@s.

O ativismo ensinou-me que a indiferença é pactuar com o que está mal, é desistir da construção de uma sociedade mais justa A prisão e a clandestinidade ensinaram-me a ser resiliente e persistente, a vencer o medo, na certeza de que não estava sozinha e que, para além dos afetos, tinha ao meu lado milhões de pessoas!

O meu percurso de hoje, no essencial, é a continuação desta caminhada. Ter consciência que o meu contributo individual é importante para o futuro , ser operária da construção de um Mundo melhor ajudou-me a dar sentido à passagem pela vida. Para além do apoio da minha família e amigos, foi essa convicção que me deu força quando fui sujeita à privação da liberdade, à tortura do sono, ou nas duras condições de luta na clandestinidade longe de todos os que me eram queridos.

É membro do SOS Racismo. Como acha que é possível reverter todo o preconceito e ignorância ainda totalmente presentes na sociedade portuguesa, como são exemplos como são exemplo as vítimas os residentes dos bairros nos bairros dos arredores de Lisboa? Como vê todo o racismo ainda existente, como se viu nos últimos meses?

Hoje, mais do que nunca, quando assistimos ao recrudescimento dos populismos de extrema direita que, cavalgando a insatisfação popular, tentam culpar os mais fracos pelas crises sociais e económicas, e apelam a posturas xenófobas e racistas, é vital não apagar a memória das décadas de ditadura por que passámos. No que respeita às gerações mais jovens que felizmente não viveram esse período cinzento da nossa História. essa memória é particularmente importante., para que não haja um grave retrocesso no que respeita a direitos conquistados

Como professora, como vê o estado do ensino em Portugal e a luta dos professores?

Os desafios no século XXI serão, em alguns aspetos, diferentes, desde logo o combate à intensificação da financeirização global da economia, a centralidade da luta por um novo paradigma económico e social capaz de travar as alterações climáticas que colocam em risco a vida no Planeta e a defesa da igualdade de género e dos direitos LGBTIl É nestas como em outras áreas que tento., como professora e ativista. contribuir para a consciencialização e intervenção cidadã..

Quais são os seus sonhos para Portugal e para Moçambique?

Por razões de coerência , continuo a colocar a energia de que disponho ao serviço de todas as causas em que acredito, em nome da esperança num futuro melhor, do aprofundamento da democracia no meu país, dos direitos sociais, animais e ambientais e ,à escala global, do fim da guerra e da exploração dos povos pelo império! e no combate às alterações climáticas que “penalizam” sobretudo os países menos desenvolvidos, os que menos contribuíram para este drama, como Moçambique atingido por tempestades de extrema gravidade.

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: Jú Matias

26 de Abril de 2019

27 de Abril de 2019

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