Entrevista ao Actor Cândido Ferreira
Esteve no exílio em França e iniciou aí o seu percurso no Teatro. Como é que foi esse tempo no exílio e o que aprendeu como actor no Teatro Operário?
Aprendi a ter postura no palco e a comunicar com o público. E improvisar também. Aprendi a investigar a construção dramaturgica e alguns princípios da encenação.
E mais tarde com a fundação do Teatro O Bando, na efervescência da Revolução do 25 de Abril?
O rigor profissional. A evolução técnica e artística. A criação colectiva. Com o João Brites fiz o curso e o mestrado.
Passou pela Companhia Teatro de Sintra, o TEP, Cornucópia, Escola da Noite, foi encenado e dirigido por Mário Viegas, Luís Miguel Cintra, Manoel de Oliveira, Joaquim Leitão, Raquel Freire, José Carretas entre outros... O que tem bebido ao representar em diversos grupos de teatro, de várias culturas diferentes, e com variadíssimos profissionais?
Foram tudo boas experiências. Do teatro que premeia a cenografia, a imagem, a mensagem (O Bando), do teatro que premeia a palavra e a realidade (Cornucópia), do teatro que premeia a comunicação e a empatia (com o Viegas). Com o Joaquim Leitão aprendi a trabalhar em cinema.
Em 2005 participou no filme “Até Amanhã, Camaradas” inspirado na Obra de Miguel Tiago (Álvaro Cunhal) filme de Tino Navarro, como foi representar a época do fascismo e entrar na vida clandestina de revolucionários do PCP? Foi bastante enriquecedor em termos políticos e históricos para si?
Foi uma bela aventura. Da história e da política eu já sabia, mas a forma apaixonada como toda a equipa abraçou o projecto e a explendida direcção do Joaquim Leitão, tornaram-se polos referenciais para a minha vida profissional.
Em 2010 representou nas curtas, de Raquel Freire, “Contra a Violência”. Trabalhar este tema da violência tem uma importância especial? Como actor é imperioso representar o papel com a premissa “para uma mudança de comportamentos”?
Toda a arte tem como premissa obrigar a pensar e ficarmos pessoas mais decentes.
Entrou no filme “Os Maias - Cenas da Vida Romântica”, baseado na peça de Eça de Queirós. O que significa para si representar e conhecer ainda melhor uma das maiores obras portuguesas de sempre?
É muito bom quando um filme tem como suporte dramaturgico uma obra de arte. É sempre um privilégio navegar nessas águas.
Representou “Comunidade” de Luiz Pacheco. Mergulhar nesta peça e na sua obra como actor e como pessoa fez-lhe retirar o quê para a sua própria experiência?
Foi o meu primeiro monólogo. Foi o meu primeiro prémio (Garrett). Foi um grande desafio e uma grande luta que ganhei. “Foi a nossa glória” (Luíz Pacheco)
Tem participado igualmente noutros trabalhos, com temas fracturantes, como a guerra em 20,13 Purgatório, Rasganço, Camarate, A Esperança Está Onde Menos se Espera, como actor o que sente por dar visibilidade a questões fracturantes como a guerra, as praxes, o abuso de poder...?
É também para isso que a arte serve. Tornar o mundo mais humano. Mostrar a crueldade de certos actos e os sentimentos de muitas pessoas
Quais são os seus sonho para Portugal?
Acabar com a exploração do homem pelo homem, a ignorância e a miséria. Material e espiritual.
Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.
Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: Mário Martins
22 de Março de 2019
22 de Março de 2019