top of page

Entrevista à actriz Rita Brütt

Que significado teve para ti participar como actriz para o “Fá-las Curtas”, ao lado do Almeno Gonçalves e trabalhando com novos realizadores?

Gosto muito de participar em curtas-metragens, sejam de escolas, programas ou profissionais. As das escolas têm a particularidade de poderes observar as dinâmicas cruas das equipas, ainda em aprendizagem e sem filtros e isso é muito bonito, aprendes imenso sobre o trabalho e sobre o teu lugar, como actor ali no meio. Os novos são os de amanhã, e estar perto do que de novo surge é continuares a fazer parte do que se constrói, é essencial.

Que repercussões teve para ti em termos profissionais e pessoais a participação na série “Conta-me Como Foi”? O que é que aprendeste, especialmente sobre o 25 de Abril, através desta viagem histórica ao tempo da Ditadura?

O Conta-me foi o meu primeiro grande projecto, mal sabia eu que sorte me estava a cair ao colo! Rodeada de actores incríveis, de equipas escolhidas a dedo e de escritores que viveram a época e estavam cheios de referências, prontos a passá-las para o papel e, todos, para o pequeno ecrã, era fácil fazer um bom trabalho! Foi uma rampa de lançamento brutal, para mim. E aprendi desde o início da minha carreira que te podes posicionar e ter uma opinião, no início até era demasiado reivindicativa, com o tempo aprendi a escolher as minhas lutas.

Tens continuamente reciclado, através de cursos, foste aluna do António-Pedro Vasconcelos e do João Canijo, para além do processo de aprendizagem constante que recebes através dos trabalhos que tens. Que frutos tiras dessa aprendizagem contínua?

Acho que todos os profissionais se devem actualizar e continuar a explorar as suas técnicas e conhecimentos. Em Portugal ou fora, estudando coisas que tenham directamente a ver com o teatro ou não. Quanto mais seguires o que te interessa e aprofundares conhecimento, mais livre serás, e isso passa para o teu trabalho. Permanente procura, permanente descoberta.

Teres começado a trabalhar em comédia, com Rui Unas, Jorge Mourato e David Almeida (entre outros) foi um grande avanço para a tua aprendizagem e para te abrires a mais trabalhos como actriz?

Foi um projecto muito engraçado, não fazíamos ideia do que saíria dali, até um episódio musical fizemos! Pedi-lhes ajuda montes de vezes, era muito “natural” mas imensas vezes não sabia como fazer uma piada funcionar. Acho que no “Viver é Fácil”, aprendi a arriscar mais e a não me levar tão a sério.

Representaste para “Camada de Nervos” do Canal Q, um programa de rábulas de comédia. Na tua opinião, a comédia pode passar por ser um caminho a seguir com mais seriedade?

Acho que a comédia pode e deve ter imensas abordagens. E deveria estar mais presente na ficção portuguesa. É muito difícil de fazer bem, na medida certa, muito mais do que outros géneros. Poderíamos arriscar um pouco mais e fazer comédia de qualidade. Eu adoraria experimentar mais!

Participaste na série “Perdidamente Florbela”, como uma rapariga da rua, amante também da poesia. Deu-te um prazer maior representares esta personagem tendo como história uma das maiores poetisas?

Sim, claro! Gosto muito quando a História e a ficção se misturam. Tinha uma pequena cena nessa série, onde encontrava a Florbela (Dalila Carmo) e esse encontro mudava o curso da sua estória. A época é lindíssima e a série e o filme foram feitos com um cuidado e um elogio à beleza, que fazem com que, mesmo uma pequena cena, dê imenso prazer fazer. Em 2015 fiz outro filme de época e histórico, fiz a filha de um presidente da República, Manuel Teixeira Gomes, estou desejosa de o ver.

Estudaste durante alguns meses fora do país. Quais foram as maiores diferenças que encontraste? E o que é que adquiriste quer dos cursos em que estiveste quer dos espectáculos que fizeste pela Europa?

Fiz o curso da École des Maîtres em 2012, aprendi que somos actores em qualquer lado do mundo e que nada nos está vedado. Aprendi também que o que se faz cá é muito bom, não que não soubesse isso, mas tive a confirmação. Esse curso deu origem a trabalho, e as pessoas em Itália e em França unem-se e produzem e fazem as coisas acontecer com outra agilidade, essa foi uma das grandes diferenças que notei. Fiz uma digressão com o espectáculo por muitos sítios em Itália e as pessoas juntam-se no final e vêm cear com os actores e conversar, aqui fazes um espectáculo fora da tua cidade e as pessoas juntam-se timidamente e falam pouco, acho poderiamos ser mais efusivos e partilhar mais as nossas opiniões.

Em teatro, tens feito peças de William Shakespeare e de Cervantes, também a “Ópera do Malandro” do Chico Buarque. Para o teu processo de enriquecimento como actriz, e também cultural, foi essencial trabalhar tão grandiosos autores?

Os autores de todos os tempos e séculos são incontornáveis e ensinam-nos imenso, mas os do nosso tempo também! Poder levar à cena um texto que foi escrito ontem, sobre o que se está a passar no mundo agora, parece-me essencial da mesma forma como manter vivos os textos de sempre, nos alimenta! O José Maria Vieira Mendes, a Lluïsa Cunillé e o Rafael Spregelburd (com quem trabalhei em Itália) tratam este tempo e de uma forma bem desafiante e desconcertante, espero que daqui a uns séculos continuem a ser levados a cena, quem sabe?

Segundo a cábula/currículo publicado no sítio da Leonor Babo Actores, já actuas desde 2001. O que cresceste até agora?

Vou trabalhando e crescendo, espero. Tenho tido sorte e tenho sabido aproveitá-la, também.

Tens talento para o tango, para o canto e para as danças renascentistas. Quando é que te podemos ver a viajar um pouco por estas artes?

Elas fazem parte da minha formação, estão cá nos meus gestos e passos, na minha voz, mas sim, seria bonito dançar um tango um dia destes!

O ano de 2013 foi um ano menos bom, como disseste numa entrevista ao Betrend. Como esperas superar esse facto?

Foi um ano com menos trabalho, mas onde fui estudar italiano por ter tempo e por querer aprender mais. Mais tarde deu origem a imenso trabalho em Itália. Acabou por não ser tão grave como na altura me pareceu. Aprendi a relativizar, entretanto.

Que projectos tens para o presente e para o futuro?

Tenho trabalhado muito em televisão e em teatro. Estes últimos três anos têm sido muito bons. Acabei esta semana uma digressão do Águas Profundas + Terminal de Aeroporto, do Simon Stephens encenado pelo Nuno M Cardoso, reencontrei-me com actores que adoro, a Maria João Luís, o António Durães e a Íris Cayatte e conheci outros, maravilhosos que já não largo...e foi o meu maior voo até agora, um monólogo estreado no Teatro Nacional São João. Cresci, ultrapassei-me e estou muito feliz. Neste momento continuo n´A Única Mulher com a Inspectora Laura, que gosto muito de fazer.

Gostaria que partilhasses connosco alguma história engraçada vivida ao longo destes anos de representação.

Ai são muitas… como escolher uma? Na última cena que gravámos do Conta-me Como Foi, estávamos a gravar em exteriores, à noite, à porta do café do Fanán (João Maria Pinto) e era a cena da despedida dos Lopes que iam sair do bairro. Nessa tarde tinha começado a ensaiar com os Artistas Unidos e numa dança maluca e improvisada com o Pedro Lacerda, parti um dedo do pé. No fim do ensaio sabia que tinha de ir gravar, muito gelo e lá fui. Nessa cena desatou tudo a chorar e aos abraços, que fazia parte da cena mas a emoção real da série estar a acabar misturou-se, então dei por mim (Maria Isabel) a dar um grande abraço ao Dino (Filipe Vargas) que foi dos grandes amigos que fiz naqueles anos de gravações, mas... não fazia sentido nenhum aquelas personagens caírem assim emocionados nos braços um do outro.

Quais são os teus sonhos para Portugal?

Um orçamento para a cultura, maior e melhor gerido. Que mais gente, desde mais cedo se interesse pela cultura do seu país. Que as pessoas não tenham medo de emitir opiniões. Que os espectáculos possam ser vistos por um maior número de pessoas em todo o país. Que as pessoas possam ser verdadeiramente livres e que tenham acesso à formação que querem e que possa haver emprego e um futuro menos precário para todos. Que as pessoas tenham orgulho no que são e no que construíram.

Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: Fátima Simões

14 de Junho de 2016

14 de Junho de 2016

Recent Posts 
bottom of page