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Entrevista ao Rapper Valete

Em Mulheres da Minha Vida que canta com Orlando Santos, produzido por Dario & M, aborda a falta de respeito da esposa e da filha pelo pai, que levam o pai recém falido ao suicídio. O que o levou a abordar um tema tão delicado sobre a falta de apoio, de respeito e de compreensão por parte das mulheres deste homem, que o levaram ao suicídio?

A ideia para este tema surgiu depois da crise de 2008 e à invasão da Troika em Portugal. Via muitas pessoas que não se divorciavam porque simplesmente não tinham condições para suportarem uma casa sozinhos.

Disse em entrevista à Rádio AfroLis que gostava de profissionalizar a sua veia produtora e focá-la no Rap e na música negra. De que forma é que para si é importante apoiar a música negra e o Rap através duma produtora?

Criei recentemente uma editora chamada Periferia. O objectivo é mesmo esse, tentar encontrar talento, principalmente dentro da sonoridade do Soul e do Rap, de forma a, mostrar esse talento ao mundo. Os cantores de Soul, principalmente, precisam muito duma estrutura sólida para poderem lançar as suas carreiras. Há artistas que só cantam, precisam de tudo o resto, letristas, compositores, produtores etc. A ideia é ter uma estrutura que disponibilize isso.

Nessa entrevista, abordaram uma resposta que deu a outra entrevista sobre o Homem, a luta racial, o machismo e a homofobia e disse que há muitos movimentos de esquerda e marxistas leninistas que são racistas ou homofóbicos... Porque é que acha que ainda hoje existe esta forma de estar e a pouca luta (como referiu) para se combater o racismo e os preconceitos?

O que quis dizer foi que há muita gente nos movimentos de esquerda que ainda não está curada do racismo, do sexismo e da homofobia. Nas sociedades ocidentais todos nascemos racistas, sexistas e homofóbicos e temos que ter essa noção de que é preciso fazer um trabalho longo e duro para nos curarmos dessas doenças sociais. Muita da luta desses movimentos nesse campo é frágil precisamente porque incluem muita gente que ainda não está curada a fazer esse pseudo-combate.

Ouvia o Rap norte-americano que idolatrou e que foi uma referência para si. De que forma é que essa referência foi essencial para começar a cantar e como o ajudou a superar os problemas que sentia por ser filho de imigrantes? Como é que se deu o processo de mudança de referências? Até que ponto elas foram importantes e conclusivas para o seu processo de criação como rapper?

Comecei por ouvir rap americano porque era praticamente o único rap que me chegava mas, culturalmente, o rap americano é muito diferente do português e da minha realidade. O rap americano sempre esteve muito centrado na marginalização da comunidade negra e a minha realidade era mais ampla, mais misturada também. Daí uma identificação mais forte e natural com os grupos de cá.

Durante o desenrolar da legislatura anterior criticou imenso o percurso do governo de Passos Coelho. Como artista/rapper/produtor amador, considera essencial essa luta por um Governo melhor, que esteja do lado do povo?

Considero essencial as pessoas perceberem que os governantes não são nossos patrões mas sim nossos empregados. Têm mandatos para representarem as pessoas e para resolverem os nossos problemas. Se como muitas vezes acontece percebemos que as pessoas não estão em primeiro deve haver consequências e o protesto tem que ser viril.

Em “Fim da Ditadura” aborda a política internacional e a destruição de muitos países por parte dos Estados Unidos através das suas inúmeras guerras, que triplicaram. Para si, é imperioso retratar esta problemática da política dos Estados Unidos e a vida internacional?

Não, não é nada imperioso. A minha relação com a escrita é muito simples e visceral. Dificilmente não escreverei sobre coisas que sinto, sobre coisas que me incomodam. Obviamente que esse tipo de temas acabam por surgir naturalmente porque sabemos que tudo está interligado. Um drone a voar em Damasco, uma eleição da Front National , uma crise de refugiados, tem tudo a ver connosco e tudo nos afecta.

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques Correcção: Fátima Simões

24 de Novembro de 2016

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