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Entrevista ao Animador e encenador João Augusto


Foto De Ricardo Graça


Que importância atribuis à aprendizagem, à formação e ao teatro/animação?

São tudo coisas diferentes, todas elas importantes, mas cada uma à sua maneira! Ora a aprendizagem é um processo que acompanha toda a vida. Um cérebro que se recusa a aprender é um cérebro que caminha para o definhamento, pois as nossas células cinzentas foram feitas para não parar de trabalhar. A formação, por sua vez é também um processo de aprendizagem, mas que serve objectivos bem mais concretos, ou como a própria palavra indica, dá-nos forma. Uma outra forma, principalmente de “pensar” mas também de “fazer”. Importantíssimo na “Formação” é também o papel do formador, um técnico “in”formado em dar forma aqueles que se permitem a tal. Falando do Teatro, da importância que lhe atribuo, e tentando explicar-me de forma simples. O Teatro é importante em todos os níveis, porque simula e educa a Vida. Desde todo o trabalho de equipa que tem de existir para o Teatro acontecer, até aos momentos em que se prepara o Teatro, até ao momento em que o Teatro acontece à vista dos outros sem rede nem possibilidade de pausar, rebobinar ou avançar o Mundo, o Teatro é a Vida em todo o seu esplendor. A animação já por si é mais que uma curiosidade, área de estudo e um trabalho para o qual (modéstia à parte) tenho bastantes competências. A animação é também, no seu sentido mais alargado, a magia de transformar uma ideia em realidade, de dar vida a pensamentos e possibilidades, de dar ânimo às ideias que tenho ou que outros têm. Aplicar as mais variadas técnicas das mais variadas áreas para: (como há uns anos dizia a uma grande amiga minha) fazer acontecer.

Tens investido bastante na tua formação e tens procurado fazer coisas novas como produtor de eventos, foste consultor para um restaurante, és professor de música e de inglês. Sentes que é essencial apostares em coisas novas e ires mais além da tua formação inicial?

Ter tido formação e aprendizagens nas mais variadas técnicas das mais variadas áreas permite-me acolher e trabalhar nos mais variados projectos. Por vezes porque é por aí que vou ter rendimento para pagar a renda da casa, outras porque se potencia a possibilidade de trabalho e não sou de dizer que não a um desafio novo.

Como correu a experiência de seres consultor para um restaurante de Artes, o Tuá Tuá – CozinhArtes?

Uma delícia. Correu uma delícia e ainda hoje lamento que a sobrevivência da maioria dos projectos em Leiria esteja mais dependente das pessoas que conhecemos e das influências de que daí retiramos, do que do mérito dos espaços, é um amargo de boca. Mas o espaço e a proposta que este tinha foi fresco, inovador (por vezes até visionário) e marca uma época do centro histórico de Leiria (como tantos outros espaços o fazem e o vão fazer). Terá pecado por ingenuidades mas valia-se do esforço e dedicação dos que por lá passaram e principalmente dos que o geriram.

Do teu estágio no Académico de Leiria o que mais gostaste foi do João Coelhão? O que aprendeste com o estágio e com a formação que deste para o Curso de Animadores Juvenis – Plaforma, FAJDL, Centro de Emprego?

O meu estágio no Académico de Leiria foi um estágio profissional, apesar de já ter alguma experiência na profissão e de já ter tido emprego como Coordenador do Espaço de Juventude de S. João da Madeira- O Sítio. Foi uma experiência da qual ainda hoje me valho, que me permitiu acima de tudo lidar com a parte menos “elitista” da animação, lidar com equipas de animadores pouco, mal ou não formados (e muitas vezes deslocalizados de competências) e ao mesmo tempo como era recém-chegado a Leiria, permitiu-me rapidamente entrar em contacto com a realidade de Leiria e arredores. Mais uma vez foi uma equipa de gestão com quem tive o privilégio de trabalhar que era muito esforçada e ia bem acima das suas competências naturais trabalhando no duro para colmatar essas dificuldades. Tive a sorte de ser teu formador no Curso de Animadores Juvenis – Plaforma, FAJDL, Centro de Emprego e digamos que aprendi que com o incentivo e paixão certos, conseguimos contribuir para a aprendizagem e até para a formação das pessoas mais improváveis.

Estiveste envolvido no Projecto do Novo Mercadinho. Como foi a construção deste projecto? Conseguiram mobilizar o povo e mudar as mentalidades, fazendo-as acreditar que há alternativas e que as mudanças são possíveis?

Fui convidado a envolver-me com o Novo Mercadinho de Leiria e na altura foi mais um envolvimento com amigos que tinham uma ideia e que a queriam pôr em prática (coisa que já confessei que é meio caminho andado para eu querer envolver-me). Do Novo Mercadinho não serei a pessoa indicada a falar, mas do grupo de pessoas que envolveu, suas proveniências e diferentes áreas sociais só tenho de bom a dizer. E lamento a falta de apoio e por vezes o manifesto desapoio e concorrência que a Câmara de Leiria fez ao Grupo que iniciou esta Iniciativa Cidadã. O facto de ser um projecto desenvolvido por cidadãos e não por nenhuma Associação nem Grupo apoiado por nenhum Partido ou movimento “de boas famílias” Leirienses, fez muitas vezes aqueles que participaram nos Novos Mercadinhos, acreditar que era (e foi) possível construir um espaço para os produtores “informais” e novos produtores sem termos de obedecer a nenhum critério que não seja o de ter trabalho ( ou mesmo tralha lá por casa) para mostrar e vender (nem de amiguismo, nem de protagonismos, nem de dinheirismo) na cidade de Leiria.

Estes grupos e projectos do Mercadinho têm desenvolvido um trabalho interessante na agricultura, na dinamização dos espaços verdes e protecção da natureza e uma procura de alternativas. Achas provável que estes grupos comecem a ser procurados por todos e que isso passe a ser algo natural e de continuidade?

A agricultura é do presente, do passado e do futuro, pois enquanto houver fome há necessidade de cultivar comida, portanto falta só a parte de consciencialização à qual este grupo e projectos vêm contribuir de forma determinante. Para mim esta consciencialização faz parte do processo evolutivo das sociedades e só demonstra que os Portugueses estão a fazer o seu caminho para uma sociedade mais Consciente, como outras sociedades mais evoluídas.

O que tens aprendido com as tuas passagens pelo “O Nariz Grupo de Teatro”?

Muito, porque pertencer de qualquer maneira à estrutura d’O Nariz é uma experiência de vida, é o Teatro numa das suas possibilidades mais verdadeiras como um Grupo de Teatro Profissional numa capital de Distrito com as vicissitudes que Leiria tem. Mas acima de tudo é com orgulho que me associo a esta marca teatral conhecida e reconhecida a nível nacional.

A tua experiência pelos campos de férias foi essencial para a tua aprendizagem e importante para os teus trabalhos posteriores?

Trabalho em Campos de Férias desde os meus 16 anos e já assumi todos os diferentes papéis nos mais variados Campos de Férias para (quase) todas as idades nos mais diferentes pontos do País. Sublinho a experiência e aprendizagem que trabalhar vários dias, 24 horas por dia com o público-alvo à tua frente dá. Já para não falar nos momentos e pessoas com que nos vemos envolvidos.

Foste encenador num grupo de teatro na Escola Superior, estiveste envolvido no Pinhal das Artes com Permacultura, és igualmente contador de histórias nos Contos ao Pôr-do-Sol é fundamental para ti participares em várias e distintas actividades, o que retiras?

A minha área de formação é a Animação Cultural, com principal incidência para as Artes e a produção artística. E esta área obriga-me a estar sempre actualizado e a envolver-me nos mais variados projectos. É ainda importante considerar o País em que vivemos que para podermos trabalhar nas áreas da produção e arte, temos de por vezes trocar o que queremos por o que vamos arranjando. Mas por acaso em todos os exemplos que referes, foram casos em que pude associar ou a minha formação ou uma área à qual me dediquei a aprender com algo que pude ajudar a fazer acontecer.

Neste momento estás a representar a peça Audiência de Václav Havel, o que nos podes dizer sobre a tua personagem, como é participar numa peça sobre Liberdade, Direitos Humanos, Resistência, Procura de Ideais?

Na “Audiência” sou um Cervejeiro numa Cervejaria de uma Checoslováquia Comunista. Um Homem comum com problemas muito sérios e comuns. O texto é brilhantemente bem construído e é um dos mais difíceis e exigentes trabalhos que alguma vez fiz em palco. Havel é um humanista e a “Audiência” é um texto que demonstra esse forte pensamento anti-opressão e anti-totalitarismo de ideias e ideais. Há sempre alguma dificuldade em olharmos para o lado negro das nossas existências as feridas que transportamos todos os dias, mas nesta encenação do texto de Havel acredito que conseguimos fazê-lo de uma forma simples, directa, por vezes divertida até sem apontar um dedo acusador a ninguém em concreto, nem mesmo ao público.

Estás a trabalhar neste momento no Portugal dos Pequenitos, como é que sido esta experiência, como animador, como te tem enriquecido?

O Portugal dos Pequenitos é uma instituição de dimensão nacional, só por si o desafio e exposição do meu trabalho sofre de fenómenos de grandeza (e responsabilidade) maiores. O meu trabalho é agora visto por dezenas de milhares de pessoas, de todas as idades e das mais variadas proveniências. Os visitantes merecem o nosso melhor todos os dias, pois todos os dias, todo o dia são novos no espaço. E como lidar, de forma profissional, com toda essa consistência tem sido a melhor curva de aprendizagem deste último ano.

Quais são os teus sonhos para Portugal?

Tenho uma filha com 5 anos, bastantes (demasiados até) amigos emigrados e penso frequentemente no que anseio que seja o rumo do meu País. Acima de tudo que nos seja permitido evoluir para um País civilizado, com cidadãos civilizados e informados, capazes de acreditar e investir (principalmente a um nível emocional) num dia a dia melhor para todos.

Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: Fátima Simões

22 de Setembro de 2016

21 de Setembro de 2016

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