top of page

Entrevista ao actor Rogério Rosa


Disse, em 2010, numa mensagem para a Rádio Comercial que o Teatro Profissional e Amador têm sido muito maltratado em Portugal. Quais têm sido os problemas que ambos vivem e para si de que forma se pode mudar este paradigma?

Quer o teatro profissional, quer o amador, estão maltratados. O Profissional, porque não há ajudas do Governo, que cada vez quer saber menos da Cultura e com a crise, leva muito menos gente ao teatro. No segundo caso, o amador, então nem se fala. Apoio um grupo de teatro amador chamado Acreart-Artes Cénicas, composto por actores cegos e de baixa visão, nunca são nem acarinhados, nem divulgados. Cada vez mais, a nossa sociedade tem grandes preconceitos quanto a deficientes serem artistas. Há actores, há músicos, há professores com limitações e nem assim, as pessoas vão ver. Em cada estreia deste grupo, não há nem salas cheias,nem divulgação na imprensa, e os que lá vão, são amigos e familiares dos intérpretes. Eu, sempre que tenho oportunidade de ir á televisão em entrevista, procuro levá-los e mostrar, que existem e são tão bons como os os outros.

Começou a gostar de Teatro depois de uma monitora lhe ter dado o papel principal em “O Astro”. De que forma é que foi positivo ao ponto de lhe mudar a opinião, tendo em conta a má experiência que tinha tido anteriormente? O que é que esta mudança, pela positiva, deu-lhe de motivação pelo teatro e pela vontade da representação?

Comecei na peça de Gil Vicente em"Auto dos Três Reis Magos" por obrigação escolar. Não gostei da experiência porque nunca foi um sonho ser actor. Depois de facto, no ano seguinte ou seja, em 1978, mesmo não gostando, acabei por aceitar entrar na peça"O Astro" de Janet Clair. O que mudou? Não mudou grande coisa. Como a novela tambem ela estava a começar a dar, acabei por me aproximar mais da representação e da maneira como os actores falavam. Li as entrevistas deles e sabia de cor os verdadeiros nomes de todos e isso para mim era um grande estímulo, mas sem a consciencia de que aquilo não era nada comparado com o que mais tarde constatei. Acabei por alimentar, o pequenino bicho da representação.

Em 1984 representou para o Festival da Malta promovido pelo Diário de Notícias com a peça “Marco” que retratava a sua experiência como sem-abrigo. Mesmo partindo duma vivência não tão positiva para si, como conseguiu dar vida à peça e à personagem? Foi fácil?

Quando me colocaram "entre a espada e a parede" para poder participar nesse Festival da Malta-84, foi um grande risco. Não sabia o que escrever nem conhecia o termo monólogo. Então, lembrei-me do que passei, e passei mesmo assim para o papel e depois foi de improviso até ao fim. Tornou-se muito mais fácil para mim, na Academia de Santo Amaro.

A partir desta peça foi o início da sua grande aventura pelo mundo do espectáculo. Como foi importante e determinante para essa aventura?

Foi muito importante, porque a partir daqui, estava a tomar o gosto pela representação. O motivo, foi sem dúvida a maneira com que via os actores brasileiros, e lia as entrevistas. Despertou-me a atenção, os movimentos, expressões e a realidade que passavam.

Não foi fácil entender-se como marchante. No entanto, lá se entendeu e fez um brilharete e convidaram-no de novo. Como é que foi a experiência de ter trabalhado como marchante? De que forma é que foi enriquecedor para a sua cultura e para o seu progresso no mundo do espectáculo?

Estava no teatro quando me deparei com os ensaios da Marcha de S. Vicente em 97. Pensei, como seria eu ali nos ensaios, será que era capaz, que via para aquilo? Teria de experimentar pelo menos. Quando dei por mim, em 1998, estava eu ali, a ensaiar. Muito duro. Foi uma experiência absolutamente extraordinária. As marcações, os desfiles no Pavilhão Carlos Lopes e no Atlântico. Para um deficiente visual poder desfilar numa marcha, foi um momento único. Foi importante conhecer os bastidores de uma marcha e fazer parte dela e isso, para a minha formação cultural foi uma mais-valia.

Trabalhou para as séries “Vila Faia”, “Liberdade 21”, “Inspector Max” e “O Dia do Regicídio”. Como foi para si primeiro participar na primeira telenovela portuguesa e representar com actrizes e actores tão importantes da representação?

Participei no remake "Vila Faia". Foi muito divertido ver como numa novela, que relembra a novela original de 1982. Nesta não houve os actores daquele tempo, Mariana Rei Monteiro, Ruy de Carvalho ou Nicolau Breyner, mas em lugar deles, tive a honra de lidar com Simone de Oliveira, Virgílio Castelo ou Albano Jerónimo. Fiz 60 episódios, entre o rigor e a disciplina,entre os ensaios de uns e as cenas que eu tinha de gravar. Aprendi a gostar cada vez mais, e não tendo sido um sonho, estava a transformar-se num objectivo, que estava a alcançar. Estes que fizeram a novela, foram pessoas amáveis, sociáveis, almoçávamos todos juntos, o que permitia um são convívio de aprendizagens uns com os outros.

O Dia do Regicídio foi uma data importante para Portugal. Para si foi determinante representar um dia histórico português?

Foi mais do que importante. A mini-série"Regicídio", permitiu-me "viver" uma época histórica que na realidade aconteceu. Entrei nos episódios 4 e 6, com outra personagem, mais próxima até do Príncipe Luís Filipe. Uma oportunidade de fazer parte de um documentário histórico em série para as escolas e faculdades.

Participou em filmes de grande relevância, como “O Barão”, “Conexão”, “As Variações de Casanova/Giacomo” e “Contrato”. De que forma é que todos estes trabalhos foram enriquecedores para o seu progresso enquanto actor e para a sua experiência?

Para mim na área do cinema, permitiu-me mostrar que era capaz. Fiz formação de actores e uma cadeira extra curricular de direcção de actores. Vários filmes que entrei, já conto 18 filmes e 7 dos quais como principal. Ainda faltam estrear 2 longas metragens. Uma delas, quero destacar por ter sido a mais difícil de sempre. Chama-se "O Esquema" do realizador italiano Alberto Rocco. A minha personagem "Boris", era um papel pequeno e que foi crescendo ao longo do filme e teve a particular importância de ter acabado o filme igualado ao protagonista. Muito difícil, pois filmámos em 3 meses, fora os ensaios e em várias localidades. Era um personagem mau, um vilão, uma espécie de jihadista russo, mas que, não sendo drama, é uma comédia, logo a personagem apenas goza um pouco com os jihadistas. Depois, outro filme que está por estrear, do Edgar Pêra, o mesmo realizador de"O Barão", chamado "Adeus Carne", que reúne um elenco de luxo, para alem de mim, Nuno Melo, Sofia Ribeiro, José Raposo, entre muitos outros. Foi muito gratificante, ser recebido por eles, ser acarinhado por todos como se eu também fosse de tv.

Quais são os seus sonhos para o teatro, para a representação e para Portugal?

Não tenho sonhos como actor, pois como disse, apenas se transformou num objectivo já cumprido. Fiz mais 4 filmes "Reflect Spot", "Nada Sucede Por Acaso", "About Red", "Vidas com Sentido" e "Outro Filme da Morte". Todos acrescentam à minha carreira,por serem diferentes, e por me enriquecerem como actor, pessoa e curricularmente. No teatro, preparo uma peça, que retrata um ambiente de rádio, onde se grava uma novela radiofónica. Baseado num velho folhetim "Simplesmente Maria". Espero continuar no teatro e como cronista em wattpad.

www.wattpad.com/user/RogerioRosa

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: Mário Martins

05 de Julho de 2016

5 de Julho de 2016

Recent Posts 
bottom of page