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Entrevista ao Blogue O Marxista Leninista

O seu blogue está ligado ao PCR. Como partido revolucionário, como é que vêem a situação que se passa no seu país, Brasil, da tentativa de golpe de estado fascista contra o PT?

ML: O golpe em curso no Brasil acontece em meio à maior crise do sistema capitalista desde 1929. Não é mera coincidência que esta crise política aconteça justamente em meio a uma crise econômica. A classe média, que pedia nas ruas a saída da presidente Dilma Rousseff sob acusações de corrupção, está agora calada diante dos escândalos do governo golpista, deixando claro aquilo que já era denunciado pelas forças progressistas: que a bandeira contra a corrupção servia apenas para mascarar, para encobrir, para esconder os verdadeiros motivos do golpe. O objetivo deste golpe é jogar sobre as costas da classe trabalhadora o ônus da crise capitalista. Os industriais e os banqueiros não querem mais perder nenhuma fatia de seus gordos lucros, e pretendem fazer com que os trabalhadores paguem por uma crise que não é deles. O governo Dilma Rousseff, embora sendo um governo de conciliação de classes, ainda hesitava levar adiante certas reformas trabalhistas exigidas pelos industriais e banqueiros, e por isso era vista por eles como não-confiável, como um obstáculo que deveria ser removido de seu caminho. Estas são as causas mais profundas do golpe em curso no Brasil.

Tem dedicado muitos textos sobre Stalin. Tendo ele sido o Líder da União Soviética e um dos comunistas mais odiados, foi o que lhe suscitou interesse em estudar melhor sobre ele e poder dar uma outra visão e aprendizagem para comunistas, democratas e cidadãos que tenham esse interesse?

ML: Sempre suspeitei da forma como Stálin é retratado pela mídia ocidental. Esta imagem do “ditador-monstro” e “irmão gêmeo de Hitler” sempre me pareceu muito caricatural e inverossímil. Por me considerar discípulo de dois pensadores considerados os “mestres da suspeita”, que são Marx e Freud, decidi estudar mais profundamente sobre Stálin, e nosso blog busca trazer alguns resultados destas pesquisas e fazer um contraponto à avalanche de desinformação propagada sobre o líder soviético. Autores como Ludo Martens, Robert Thurston, Domenico Losurdo e Grover Furr estão entre aqueles que, a nosso ver, mais têm contribuído para a desmistificação da figura de Stálin. De forma resumida podemos afirmar que quase tudo o que se divulga sobre Stálin no ocidente são ecos da forma como a história soviética era contada aqui no ocidente ainda no período da guerra fria. A verdadeira história soviética ainda está para ser contada no ocidente.

“Revolução Russa para crianças - Paz, Pão e Terra” é uma publicação sobre uns desenhos animados que referem ser uma forma de mostrar o anti-stalinismo. Como é que vê a deturpação da realidade? Ao transmitirem, esta mensagem como pode prejudicar o comunismo e a verdade sobre a União Soviética?

ML: Esta animação da Warner Bross é mais um exemplo de anti-stalinismo. O desenho conta a história da revolução russa de forma até simpática, menos no que se refere a Stálin. Na verdade, a versão da história soviética refletida neste curta, na qual Trótsky era o braço direito de Lênin, Stálin era um burocrata desconhecido que repentinamente tomou de assalto o partido e instaurou uma “ditadura” no país, simplesmente não faz sentido. Quem conhece o funcionamento interno de uma organização leninista sabe que as coisas não funcionam desta forma. Além do mais, uma biografia menos tendenciosa da juventude de Stálin, como “A vida privada de Stálin”, de L. Marcou, mostra por que Stálin tinha a confiança do partido e foi designado\eleito sucessivas vezes, desde o princípio, para os cargo que ocupou.

Abordou na sua página sobre a ditadura de Pinochet e as sucessivas tentativas de cancelamento do jogo por parte da União Soviética, devido ao campo de futebol do Chile ter passado a Campo de Concentração Fascista, que não é uma ditadura largamente discutida e ensinada. Como é que o exemplo da URSS pode ser uma forma de aprendizagem? O que os povos não podem esquecer da ditadura Chilena? Como podem os povos tomar atenção, e consciencializar-se para que não se repitam ditaduras?

ML: Este episódio envolvendo as seleções da URSS e do Chile é apenas um exemplo da solidariedade do povo soviético com os povos oprimidos de todo o mundo. Sabemos da importância da URSS no processo de descolonização de vários países no século XX e de seu apoio a todos aqueles que viviam sob ditaduras fascistas como a chilena. Uma importante lição que podemos tirar da ditadura chilena é que o proletariado não pode hesitar em levar a luta de classes às suas últimas consequências como hesitou Salvador Allende. Não se pode confiar na democracia burguesa ou nas suas instituições, pois a própria burguesia é a primeira a desrespeitar estas instituições ao ver seu poder ameaçado.

No tópico sobre a crise aborda a fome na Somália, a luta dos trabalhadores Espanhóis da Iveco, o recorde de pobreza nos EUA e sobre a crise global. De que forma é que é possível mudar este paradigma? Tendo em conta que o seu blogue é Marxista Leninista, através das teorias de Marx e Lenin como se pode ver este contínuo retrocesso, esta contínua divisão de classes, e aumento da riqueza por um lado e miséria e desigualdade por outro?

ML: O capitalismo não tem meios de resolver suas contradições internas. Apenas o avanço para um tipo de sociedade superior, que mantenha as conquistas efetuadas pelo capitalismo ao mesmo tempo em que supere as contradições deste sistema, pode resolver problemas tão graves e tão básicos de serem solucionados como o da fome. Este sistema superior, que Marx denominou comunismo, é a única alternativa ao capitalismo colocada hoje para a humanidade. Todas as tentativas de supostas “terceiras vias” são apenas atenuações do capitalismo, propostas de um capitalismo mais brando ou menos selvagem, como se isso fosse possível. Isso é, tais propostas não são um terceira via, mas apenas uma reafirmação do capitalismo. Marx havia demonstrado ainda no século XIX que a lógica interna do capital leva à acumulação da riqueza em um pólo e à pobreza no outro. Por isso os marxistas não foram surpreendidos pela recente notícia de que hoje os 1% mais ricos do mundo possuem sozinhos mais de 50% da riqueza existente no planeta.

Através dos vários processos revolucionários da América Latina, da ex-URSS, Marx, Lenin, o que tem aprendido e de que forma podem ser úteis para o presente e futuro da luta proletária de todos os povos que vivem em regimes capitalistas ou autoritários?

ML: A principal lição é que a classe trabalhadora precisa se constituir como uma classe independente, com seu próprio projeto de sociedade e que o momento de ruptura com a sociedade burguesa é inevitável. É preciso se preparar para tal momento e ser consequente até o final.

Quais são os seus sonhos para o Brasil e para Portugal?

ML: A emancipação da classe trabalhadora destes dois países mediante uma revolução comunista.

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: Mário Martins

19 de Junho de 2016

19 de Junho de 2016

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