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Entrevista ao Actor João Reis

Uma das suas personagens foi a de Camilo Castelo Branco na série a Ferreirinha, que motivação e aprendizagem obteve ao representar o papel dum dos maiores escritores do século XIX?

A motivação é sempre maior quando falamos de grandes figuras que se constituem e afirmam quase como arquétipos. O Camilo era um homem grande, maior que a vida! A minha aprendizagem foi mais intensa porque tive entrar na sua obra com um olhar de alguém que vai tomar posse de um património imenso.

Como actor que está em constante aprendizagem representou Camilo Castelo Branco, textos de Shakespeare, Samuel Beckett, Bernardo Soares entre outros. Que importância tem representar textos destes autores para o seu desenvolvimento enquanto actor?

Quanto maior é a obra, maior é a responsabilidade e a vertigem. Enquanto actor procuro estar sempre à altura desses desafios e nesse sentido o contributo para o meu desenvolvimento é enorme!

Recentemente participou na série Maternidade, como pai duma menina que tem problemas cardíacos que se depara no início com várias dificuldades em ser diagnosticada, o processo de tratamento é prolongado a vida de ambos passa bastante tempo no hospital... como foi dar vida a esta personagem retratando um pai que vivia para a filha?

Felizmente como pai nunca vivi situações semelhantes às que me foram colocadas pelo guião. Tive de seguir apenas o meu instinto e como actor deixar-me contaminar por essa possibilidade. É uma sensação de impotência muito marcante, mas lá está, o trabalho do actor é tornar credível essas emoções e vivê-las de uma forma intensa.

Participou na curta-metragem "Esquizophonia" e na telenovela Mulheres as duas personagens são bastante distintas, no entanto a preparação para as mesmas deve ter sido muito intensiva. Como foi preparar-se para estes trabalhos e o que adquiriu durante esse processo?

Preparo-me sempre da mesma forma: analisando minuciosamente os guiões, tentando perceber a dimensão humana das personagens e as suas contradições e estando muito atento e disponível às sugestões dos realizadores ou encenadores. Depois disto é tentar criar uma empatia crescente com as personagens e torná-las verosímeis e intensas.

Em 2005 faz parte do elenco da média metragem sobre “A Conquista de Faro”, “O Quinto Império -Ontem Como Hoje”, qual é a para si a motivação de trabalhar sobre a história de Portugal e as suas conquistas?

Não é uma motivação maior que outras. Quando muito terei mais informação ao meu dispor e tento aproveitá-la da melhor maneira possível.

Em 2014 deu voz à campanha (1) contra o abandono dos animais domésticos, teve um significado especial dar voz à luta contra o abandono e fazê-lo de forma mais clara, quiçá mais crua?

O tom mais agressivo e crú com que eu fiz a campanha foi-me expressamente pedido pelos responsáveis pela mesma. Mas de facto, a minha indignação pelas pessoas que abandonam emaltratam os animais corresponde ao tom que estava expresso na campanha.

Em 2000 fez a voz do Capitão Salgueiro Maia em “Capitães de Abril”, como foi dar voz no filme que retractou um dia histórico e importante para o país e ter dado voz ao herói desse dia?

Tinha uma admiração enorme pelo Salgueiro Maia, e no muito pouco tempo que tive para fazer este trabalho tentei corresponder às expectativas, mas na verdade preferiria ter dado não só a voz como também o corpo, teria sido bastante mais fácil e mais certeiro!

Já foi dirigido por diversos encenadores: Luís Miguel Cintra, Carlos Avilez, José Wallenstein, Rui Mendes, Ricardo Pais, Miguel Guilherme entre outros e já passou por palcos como a Cornucópia, Teatro D. Maria II, T. Nacional S.João, Teatro Circo. Que riqueza tem sido esta experiência de trabalhar nestes variadíssimos teatros e com estes variadíssimos encenadores? Que vida lhe dá o palco, que sabedoria leva sobre cada peça, cada encenação, cada passagem pelos vários teatros?

O teatro é basicamente metade da minha vida. Foi sobretudo nos palcos que cresci, que me tornei mais sábio, que conheci pessoas maravilhosas, que partilhei com elas momentos únicos e inesquecíveis, que dei e revelei a tantas pessoas experiências de vida únicas e de certa forma irrepetíveis. Esta disponibilidade, que faz parte do processo de trabalho de todos os actores, dá-nos uma experiência e uma visão sobre as coisas e o mundo que jamais esquecerei e que tento colocar em todas as coisas que faço.

Quais são os seus sonhos para Portugal?

Portugal poderia ser um país de sonho. Mas falta-nos ainda maturidade, sentido de responsabilidade e de missão, visão, ambição e menos mesquinhez. Metade deste trabalho, tem de ser feito por quem nos governa, por uma classe de políticos absolutamente incorruptíveis e com vontade de dar às pessoas as condições mínimas para se desenvolverem e crescerem em harmonia e com respeito pelo próximo. A arte, a educação e a cultura, seriam então a outra metade do puzzle para colocar Portugal na rota dos países mais desenvolvidos e com melhor qualidade de vida. Temos ainda muito trabalho pela frente!

(1) – Animais de Rua

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: B.T

23 de Março de 2016

Cor

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