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Entrevista à Vera Varatojo - Cantora

Em 2009 participaste nos Ídolos. Como foi a participação? Foi uma óptima experiência, que não me arrependo nada, apesar do resultado. Consegui perceber como funciona todo o programa e conhecer e ouvir imensa gente com muito valor. O que aprendeste com o convívio com os outros participantes? Aprendi principalmente que há muito talento em Portugal. É claro que falei com uma muito pequena parte dos participantes, mas aqueles com quem falei foram muito importantes, afinal passamos quase dois dias inteiros todos juntos. Nessa tua participação digna, levaste o Kazoo, um instrumento musical de sopro. O que te levou a arriscares e a levares esse instrumento para a audição? A principal razão foi porque no grupo onde cantava, costumava usar o kazoo naquela música. Achei que era atrevido e original, por isso decidi arriscar. Como te sentiste ao desvalorizarem o instrumento? Sendo música, acreditas que foi uma infeliz reacção perante a tua prestação com esse instrumento? A maioria dos júris nem sequer sabia da existência daquele instrumento, acho que o momento foi pior para eles, que demonstraram alguma falta de conhecimento, do que propriamente para mim. Como surgiu a tua paixão pelo fado? Sempre gostei de fado, costumava cantar em festas de família. Um dia decidi experimentar ir a uma escola de fado, e a partir daí nunca mais parei. Quando é que a paixão pelo fado tomou as tuas veias e as tuas cordas vocais e passaste a encantar o público com belos fados? O difícil, de facto, é começar. A minha primeira noite de fados foi em Março de 2012, em Arroios. Depois fui sempre cantando, mas ainda estava muito no começo, os convites não eram muitos. Em Setembro fui ao programa “Fado Vadio” da Rádio Amália, onde conheci um músico, Fernando Costa, a quem tenho muito a agradecer, pois foi através dele que conheci o Restaurante Caldo Verde, sitio onde estive a cantar durante 6 meses. Foi de Julho a Dezembro de 2013 que estive nessa casa, o que foi muito bom para o meu desenvolvimento, no entanto, por motivos pessoais e profissionais tive que desistir. O que é que a música significa para ti? A música é uma parte essencial na minha vida. Acompanha-me desde há muito tempo. Comecei a aprender música tinha 5 anos de idade, numa pequena escola de música, e foi aí que comecei a cantar em publico, nos espectáculos que fazíamos. Mais tarde fui para a Banda Recreativa de Bucelas, onde aprendi a tocar clarinete, uma outra paixão que tenho. Para mim é impossível pensar na minha vida sem música, era um vazio completo. O que sentes ao cantares fado? Como se costuma dizer, o fado não se canta, sente-se. O fado é quase como um reflexo do que nos vais na alma, cada qual sente à sua maneira, por isso é que não há ninguém igual a ninguém. E para mim, há um misto de sentimentos. O que sinto quando canto, depende de como estou. Que responsabilidade te trouxe pelo facto de o Fado ter sido considerado Património Imaterial da Humanidade? Como o Fado é mais reconhecidamente importante, sentes mais responsabilidade quando estás em palco? Eu ponho responsabilidade em tudo o que faço, seja a cantar para a minha família em minha casa, como cantar quando estou a trabalhar. Quando comecei a cantar fado, este já tinha sido considerado Património Imaterial da Humanidade. A partir daí o fado ganhou mais importância e reconhecimento, mas para quem o canta, penso que sempre o respeitou como devia ser respeitado. Para ti o ensino da música é essencial para qualquer músico ou qualquer pessoa que o queira ser? O que aprendeste? Como foi teres tido a experiência de tocares numa banda com os teus colegas? Há muitos fadistas que não sabem música e não é por isso que cantam melhor ou pior. Para mim foi uma vantagem, porque sabia ouvir a música, respeitar os tempos e as afinações. Mas para quem quer ser músico, aí sim, tem mesmo que aprender teoria musical. A melhor coisa que retirei dos tempos em que tinha a minha banda foi o à vontade e a presença em palco, tudo isto se aprende, e é mais fácil quando já cantamos para dezenas de pessoas. No entanto, para mim o fado merece um respeito totalmente diferente, sempre que vou cantar, fico muito nervosa! Para além do Fado, quais são os teus projectos no futuro? E pensas em voltar a cantar outros registos, como a música dos Entre Aspas? O meu principal projecto para além do fado é trabalhar na minha área, Economia. No entanto, quero ter sempre o fado presente na minha vida. Não pretendo ter outra banda do estilo que tive, porque não trocava o fado por nada disso, no entanto não digo que não a uma brincadeira, se for esporádica. Dizem que o Fado fazia parte dos 3 Fs do sistema do Estado Novo (Fado, Futebol e Fátima). Acreditas que ainda existem estes 3 Fs? E acreditas que o Fado pode transmitir outras mensagens? Completamente, e agora mais que nunca. O Fado tem uma importância no povo português tão grande como qualquer um dos outros Fs. O fado transmite a mensagem que cada um entende. Há muitos estrangeiros, que apesar de não perceberem uma única palavra, ficam emocionados e conseguem perceber o sentido do que ouvem através de quem o canta. Como música fadista, como vês a situação portuguesa? E de que forma é que se pode progredir, sair deste paradigma negro? Vejo a situação como qualquer português. São tempos muito difíceis, onde cada um tem as suas opiniões e soluções de mudança. O estado da cultura preocupa-te? Se sim, o que te preocupa, do que precisa a cultura, e de que forma se pode melhorá-la? Como consideras que esta pode e deve ser tratada pelo governo, autarquias? Deve estar à disposição do povo/massas? O estado da cultura preocupa-me, mas na minha opinião, o problema esta mesmo nos interesses do povo português. Há cultura à disposição de qualquer pessoa, no entanto, cada qual tem as suas preferências. Hoje em dia, vamos a um centro comercial e está completamente cheio, mas vamos ao teatro e temos imensos lugares vazios. As pessoas fazem as suas escolhas. Quais são os teus sonhos para Portugal? O meu único sonho é que Portugal seja um país onde as pessoas se sentem bem e querem viver e não onde o desespero e a emigração aumentam de dia para dia.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques

Correcção: J. M.

24 de Fevereiro de 2014

Correcção: J. M.

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