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Entrevista à actriz Joana Metrass

O que representa o dia das mulheres para ti?

Celebrar mulheres que tanto lutaram para as mulheres de hoje em dia terem os direitos que têm e o não esquecer das que ainda lutam diariamente. Na tua opinião é importante e urgente que as mulheres lutem pelos seus direitos? Se sim, porquê?

É importante que toda a gente lute pelos seus direitos sem esquecer os seus deveres. É importante é que as mulheres olhem à volta e percebam que ainda há bastante para lutar, muito já foi feito é verdade, mas ainda há mais a fazer.

O facto de uma Tunisina ter-se despedido para lutar contra a falta de liberdade representa um despoletar de consciências a nível mundial, quer entre mulheres quer entre homens? O que pensas deste acto? E de a quererem condenar à morte? Presumo que queira dizer “despido” e não “despedido”. Não acredito que as mulheres que são vítimas de falta de liberdade seja em que parte do mundo for só agora o sintam, portanto não acho que isto signifique um “despoletar da consciência”, simplesmente há quem tenha coragem de tomar acções no sentido de mudar ou chamar à atenção para esse facto. Mas é um despoletar da consciência ocidental para o que ainda se passa em certas partes do mundo. Em relação a este episódio, não quero deixar de mencionar a mulher, que apesar de já saber que estes actos poderiam ter estas consequências (a primeira não sabia que iria ser pedida pena de morte contra ela) ainda assim esta segunda mulher repetiu o acto da primeira num profundo acto de solidariedade e esse passo é gigante. Se nesse momento todas as mulheres vítimas de falta de liberdade na túnisia tivessem feito o mesmo não as poderiam matar a todas pois não? Mas também se tinham todas cometido o mesmo “crime” também não podiam matar só uma e as outras não certo? Se essa coragem e solidariedade tivesse existido da parte de todas ter-se-iam defendido umas às outras aos invés de serem só algumas a lutar por todas. Falta muita solidariedade. No mundo e em todos os géneros. Teres participado no Sinais de Vida, Crónicas de Uma Revolução Anunciada e a Princesa, foram importantes para ti em termos de aprendizagem sobre os problemas sociais? Que frutos colheste destes três trabalhos?

Alguns desses trabalhos tiveram uma componente de consciência social mais do que outros. “A princesa” fazia parte de um projecto da RTP que tinha exactamente haver com a chamada de atenção para certos problemas na sociedade de hoje em dia, por isso esse parece-me obvio. O outro que teve um grande componente de consciência social foi a “Crónica de uma revolução anunciada”, para mais foi filmado em plena semana da manifestação do 15 de Setembro, as emoções estavam ao rubro em relação aos temas que o filme aborda, mas o filme é uma grande lição (levada ao extremo claro) de que as coisas não devem ser feitas pelo meio da violência. Para além do processo de aprendizagem interior, que obtiveste desses trabalhos, e da Intriga Fatal, também sentes que vale a pena pela partilha das mensagens? Isso é importante para abraçares mais facilmente os projectos? Principalmente o filme “A princesa” teve essa questão muito presente. Lembro-me no dia em que tive de filmar a cena da violação, que é uma cena obviamente difícil de fazer, lembro-me de repetir para mim mesma “Lembra-te que podes estar a ajudar alguma miúda a não ser violada” Fazer um trabalho em que sinto que posso estar a ajudar alguém, dá-me de facto outra motivação.

A dança foi a que te fez levar pela primeira vez a um palco. Mais tarde quando entraste para o Teatro, foi mais fácil pisar um palco por já o teres feito? É engraçado, quando pisei um palco pela primeira vez, em dança, devia ter uns 4 ou 5 anos e foi um dos momentos mais felizes da minha vida e mais emocionantes e que nunca me vou esquecer. A primeira vez que pisei em teatro mais a serio não me deixou uma sensação assim tão forte mas também eu já fazia teatro deste muito pequenina. E por mais que goste do palco e do teatro, essa tal sensação de êxtase dessa primeira vez é mais parecida hoje em dia com o que sinto quando oiço “acção”. Mas entrar em palco é sempre uma mistura de sentimento maravilhoso com um gigante ataque de nervos.

E como actriz, a dança foi importante em que aspectos? Era algo que gostavas de voltar a fazer?

A consciência física é muito importante para um actor, conhecer o seu corpo, ter noção do espaço que o rodeia e que espaço que o corpo ocupa nesse espaço é essencial, por isso sim a dança foi muito importante. Fiz recentemente um piloto para uma série em que a personagem é uma bailarina e tive de voltar a treinar para dançar, (já no filme do Alberto Seixas Santos a personagem também era bailarina e tive de voltar a treinar mas não foi tanto porque não havia cenas específicas de dança como na Heresia era só mais por uma questão de postura), Foi um treino super intensivo e obviamente não se recupera em pouco tempo tudo o que o corpo aprendeu há imensos anos atrás, mas foi óptimo voltar a dançar, voltar à exigência física do ballet. É de facto um bichinho que sempre me ficou e que gostava de voltar de uma forma mais intensiva. Começaste pelo cinema após teres estudado em Nova Iorque. Como vês este teu processo contrário ao percurso normal dos actores: primeiro teatro, ou televisão e só depois cinema?

O facto de ter feito cinema não foi exclusivamente por ter estudado em Nova Iorque, o curso que fiz lá não era específico para cinema. E cá estava a fazer o Conservatório e vários outros cursos mais pequenos e workshops. Todos foram importantes. Outra coisa, que essa sim eu acredito que foi crucial para ter ficado no casting do filme foi ter feito várias curtas-metragens, é preciso ganhar treino na prática, é preciso saber de facto como é estar em frente a uma câmera. Na ESTC não temos isso portanto acho que foi importante fazer essas curtas. Quando ao processo, foi assim que aconteceu, foi assim que as oportunidades surgiram. Simplesmente isso. Espero que surjam mais. Como já participaste em vários telefilmes e em alguns filmes, qual é a tua opinião sobre a falta de público no cinema nos filmes portugueses? Acho que está a melhorar. Acho que se fazerem telefilmes é muito importante para habituar o público a ver cinema Português. Se as pessoas receberem em casa cinema Português acabam por ver e eventualmente acabam por se habituar a ver cinema falado em Português e assim quando se levantam para ir ao cinema não sentem que querem só ver filmes falados em Inglês porque já se habituaram a também ver em Português e eventualmente até descobriram que gostam e que o cinema Português também faz coisas muito boas e que merecem ser vistas. Como vês o futuro da cultura, do teatro e dos actores? Preocupa-te muito e a situação dos jovens em geral? Sim preocupa-me pois sei que a cultura é sempre das primeiras coisas em que se corta, mas também olho à minha volta e vejo imensos colegas a erguer os braços e a não desistir face às dificuldades e portanto acredito que apesar de ter que ser contra tudo e contra todos, juntos, não vamos deixar a cultura morrer. Preocupa-me a situação dos jovens, preocupa-me a situação dos idosos, dos reformados, dos futuros reformados, dos que nunca terão reformas, dos que nem estão a pensar nisso e só querem que os deixem trabalhar etc etc etc preocupa-me muita coisa.

O que aprendeste com o intercâmbio e com as culturas quando estiveste nos EUA enquanto aluna, e em Itália? O que te faz querer aprender novas culturas e viajar pelo mundo fora?

O motivo que quis ir fazer a AFS (programa de intercambio) nem me lembro qual foi, foi uma coisa que tomei conhecimento que existia quando ainda era muito nova e sempre foi obvio para mim que queria e ia fazer. Acho que é a curiosidade normal, de outro povo, da experiência. Etc. Mas AFS tem um conceito interessante e que me faz todo o sentido: A afs surgiu na 2a guerra mundial e eram voluntarios que iam conduzir ambulâncias para os países em Guerra, portanto o tema da guerra é forte dentro do conceito desta organização. Hoje em dia a afs acredita no seu trabalho porque acredita que se toda a gente fizesse um programa destes haveria menos guerras no mundo, pois a tolerância por novas culturas seria maior e porque no limite por exemplo a mim, se agora me enviassem para a guerra contra os EUA, eu iria estar a combater contra aqueles que já foram a minha casa e a minha família portanto certamente não iria(não iria para nenhuma guerra fosse contra quem fosse, mas assim ainda menos iria) Se isto acontecesse com toda a gente, talvez as pessoas não fossem para a guerra e se não houver soldados o governo bem pode declarar guerra que não está lá ninguém para lutá-la. Quais são os teus sonhos para Portugal?

Sonho que haja mais respeito e reconhecimento pelo papel da cultura na sociedade, acho que basta isso acontecer para algumas coisas mudarem. Sonho que haja melhores condições para todos para nós podermos fazer cultura sem ser com a corda no pescoço e para que o publico tenha condições para nos vir ver. Mas sonho também com um pais que o ensino e a educação dar apoio às artes e habituam as pessoas a consumir cultura, para que quando haja essa tal melhoria de condições de vida as pessoas gastem os seus 5€, 10€ ou seja o que for, a ir ao teatro ao invés de ir para as compras. Sonho que volte a ser um pais de onde os jovens não precisam de sair ,de deixar a sua casa, tenham de escolher viver longe dos que mais amam para ter trabalho ou para se sentirem realizados nas suas carreiras. Sonho com tantas coisas.

O que podes contar do Projecto V? Como foi a experiência?

Foi das coisas que me foi mais difícil fazer confesso, a cena da conduta (que é 95% da curta ou mais) foi toda feita num dia, e toda essa cena é num grande pico de emoção e numa situação extrema, e era só eu por isso nem havia energia de cena para dividir com alguém. Ou seja foram muitas horas, em emoções extremas, com a câmera sempre em cima só de mim, e ter de repetir vezes e vezes e ter de manter sempre o mesmo pico de energia e emoção. Foi um grande desafio. É nesses momentos que a técnica vale de muito. De facto existe instinto e talento e tudo o mais, mas há alturas em que se não fosse a técnica e a formação o corpo não aguentava.

Enquanto actriz, que papéis é que gostarias de desempenhar?

Todos os personagens têm os seus desafios, no entanto eu gosto particularmente de situações extremas: de loucos, vilões, distúrbios etc

O papel de estudante médica foi-te importante na aprendizagem como pessoa e artista?

Claro que foi, mas todos o são. É este o tipo de personagem que te enche a alma e te faz gostar do que fazes? O que me enche a alma é representar, claro que há personagens pelos quais nos apaixonamos mais do que por outros, mas poder ser actriz, poder viver disso, isso é o que me enche a alma e me faz querer continuar o percurso que tenho feito.

Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

Obrigada eu pelo teu interesse, espero não ter desiludido.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques

24 de Abril de 2014

Correcção: Sílvia Dias

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