top of page

Entrevista ao Guitarrista Rui Costa da Caruma e Ex-Silence4

1 - Começaste há pouco tempo pela escrita de crónicas/textos críticos de protesto. Era algo que já querias fazer, ou começaste mesmo a fazê-lo por causa do convite do Região de Leiria? Sempre adorei escrever e ler, principalmente, ler, talvez por causa de uma oficina de livros dos meus tios encadernadores, foi lá que passei parte da minha infância e adolescência! Aproveitei o convite do Região de Leiria para dizer umas "coisas", sem nunca me levar muito a sério!

2 - Como é que tens visto a reacção dos leitores aos teus textos?

Nunca tive tempo ou disponibilidade de analisar isso, recebi tanto mensagens de apoio como outras que mostravam desagrado, mas isso nunca influenciou a escrita. Mas foi apenas uma fase que já encerrei, mas adorei!

3 – E como vês a reacção do povo às políticas do Governo? Consideras que se tem feito o suficiente para combater este sistema?

O povo é sereno e estúpido... e vai pagar muito caro a sua inércia!

4 - Consideras importante e essencial a escrita de protesto e o apontar os problemas e todos os danos colaterais das decisões políticas dos governantes e dos autarcas dos partidos que nos têm governado?

É cada vez mais importante, infelizmente mais importante que o próprio voto, que neste momento não vale absolutamente nada, por culpa do próprio eleitor!

5 - Num momento tão delicado como este que vivemos, de que forma poderemos dar a volta por cima?

Pegar nos Cavacos, nos Passos, nos Portas, nos Sócrates, nos Seguros e toda a escumalha do costume... e reformá-los compulsivamente!

6 - Tens uma aversão ao Cavaco que, para ti, é um dos grandes culpados da situação em que vivemos. De que forma podemos evitar ter mais políticos governantes como ele?

Cavaco representa o pior que existe na política em Portugal, acho que até somos vítimas da sua maldição, a terrível maldição da múmia! Acho que devemos ser muito mais exigentes com as pessoas que nos governam, ser mais criteriosos, votar com a nossa própria cabeça, com as nossas próprias ideias! O voto não pode ser um reflexo condicionado, o eleitor não pode armar-se em cão de Pavlov, votar bem e em consciência é determinante para o nosso futuro!

7 - Na tua opinião o que é que falhou na Revolução e pós Revolução para que hoje estejamos a viver uma situação de asfixia governamental?

A ambição pessoal, o ego dos homens que ficaram com os comandos desta Nação. Também faltou uma visão de futuro, precisamos de visionários neste país e eles são raros ou praticamente não existem na polítca portuguesa. Acho que não tivemos ao nível do grande homem que foi Salgueiro Maia, uma das figuras da Revolução que mais admiro!

8 - O facto de as pessoas terem deixado de debater, discutir (seja sobre política seja sobre cidadania), participar e aderir a mais espectáculos culturais ainda serão efeitos nefastos do trabalho de Salazar e de não se ter concretizado uma revolução cultural?

Infelizmente, acho que Salazar faz parte dos nossos "genes" e ainda vai demorar bastante até que esse "gene" se dissipe!

9 - A cultura onde estás inserido tem vivido também momentos muito dramáticos. Como te parece que se possa dar a volta por cima?

Sinceramente, não sei como se poderá contrariar tudo isso, continuamos mais preocupados em salvar bancos!

10 - A cultura é um bem essencial para os países. Acreditas que falta haver uma grande revolução de mentalidades entre todos para que haja uma maior valorização da cultura? O povo português ainda tem tanto para crescer, somos as maiores vítimas de nós e pagamos caro esse atraso!

11 - Joana Vasconcelos é considerada como a artista portuguesa mais conceituada. Em tua opinião, isso deve-se ao facto de haver muita falta de cultura nas pessoas?

Não conheço bem a "arte" da senhora, confesso que é por preconceito! Simplesmente o nosso Estado quer vender-me a ideia que a senhora é uma grande artista e eu acabo por a ignorar, detesto rebanhos! Não digo isto para me vangloriar, porque é mesmo preconceito e não acho que seja algo muito positivo da minha parte.

12 – É inevitável voltar uns anos atrás e perguntar-te o que é que os Silence 4 representaram para ti e para a tua carreira?

Magia! Foi uma entrega incondicional! Muito trabalho e toda a dedicação! Valeu a pena!

13 - Tens boas recordações desse tempo com a banda? Podes partilhar connosco alguma história do tempo dos Silence 4 e / ou de outras aventuras?

Tenho muito boas recordações! É impossível esquecer quando encerrámos o Festival Sudoeste, uma banda de Leiria com apenas uma bateria, uma guitarra acústica, um baixo e duas vozes... e com bastante coragem tocámos a seguir a P.J Harvey e Portishead! Lembro-me dos nossos olhares e sorrisos depois desse concerto, não havia palavras!

14 - Estiveste envolvido num projecto de leitura de poesia com música, o projecto "Passagem dos Dias", no Teatro Campo Alegre. Foi enriquecedor trabalhar nesta vertente e explorar novas poesias? Como correu a experiência de trabalhar com o Nuno Júdice?

Inesquecível! É um projecto que desejo retomar, apesar das dificuldades inerentes! O acaso permitiu uma série de acontecimentos muito curiosos! Lembro-me de um dia ter ido à Arquivo e abrir a "Geometria Variável" de Nuno Júdice... comprei imediatamente aquele livro! Na mesma semana compus umas 12 canções para alguns dos seus poemas, sem qualquer objectivo, foi apenas por necessidade de deitar "coisas" para fora de mim! Dois meses depois, por obra do acaso (acho que teria mesmo de acontecer, ou seja, talvez não existam acasos) estava em Barcelona, em La Pedrera, a tocá-las com o Nuno Júdice à minha frente! Foi mágico! Conheci o Nuno na noite do concerto! Adoro a pessoa e adoro o poeta!

15 - Em 2003 fizeste arranjos, produção e também participaste como músico no CD “Na Alma e na Pele” da Mafalda Veiga, o que foi, certamente, uma experiência gratificante. Antes disso, já tinhas produzido e feito arranjos? Os Silence 4 foram o meu laboratório de produção e de arranjos, desde guitarras acústicas, quartetos de cordas, orquestras, quintetos de metais, enfim, muita tinta gasta em partituras! 16 - Esse convite foi inesperado? Que importância teve na tua carreira? Foi completamente inesperado. Adorei a experiência, é sempre esse lado que aproveito mais, a aprendizagem! Depois ainda fiquei cerca de dois anos como guitarrista da Mafalda Veiga. 17 - Também produziste e fizeste arranjos na música “Balada da Rita” de Sérgio Godinho e já antes tinhas trabalhado com ele nos “Sextos Sentidos”. Que representou para ti o facto de teres trabalhado com o Sérgio? Isso teve algum impacto na tua carreira? Não sei se teve impacto na carreira, até porque sou péssimo a gerir "oportunidades" e "carreiras", mas foi uma experiência emocional magnífica! Sempre admirei o Sérgio! Quando compus os "Sextos Sentidos" estava a pensar nele! Um dia soube que ele estava em Leiria a convite do Te-Ato e decidi pegar na guitarra para tentar mostrar-lhe a música. Fui... nem o conhecia pessoalmente! Toquei e cantei a parte da melodia (sem letra, claro!) e... "Sextos Sentidos"!!!

18 - O projecto “Brass Guitar Club Band”, em que tocam temas dos lendários “The Beatles”, foi o concretizar de um sonho?

Foi um projecto para poder estudar guitarra eléctrica! Sempre fui mais das guitarras acústicas e a "Brass Guitar Club Band" obrigava-me a trabalhar muito a parte mais eléctrica da guitarra. E depois tinha um euphonium a fazer as partes do baixo, era muito interessante! Um dia tenho de voltar a pegar nesse projecto!

19 - És uma pessoa com um enorme amor aos animais, costumas ajudar a associação de animais e os animais que encontras na rua. Como vês a forma como muitos humanos os têm tratado?

Vivemos uma enorme tragédia no que diz respeito ao abandono de animais! Continuamos a gastar dinheiro a abater animais em vez de termos uma campanha nacional de esterilização que poderia evitar muitas situações que já vivi na própria pele! Já tirei gatinhos recém nascidos de contentores, estive envolvido no salvamento da "Spirit", uma égua abandonada num charco em Leiria... são tantas histórias!!! Cheguei a bater à porta de uma senhora que tinha o cão numa varanda num estado lastimável, fui lá oferecer ajuda, não fui acusar! Enfim, tantos casos de abandono! O que me deixa mais optimista é que não estou sozinho nesta luta, há mais companheiros que pensam desta forma! Portugal precisa de colocar a mão na consciência e despertar para a gravidade do que está a acontecer!

20 - De que forma se podem mudar estas mentalidades e estes hábitos desumanos?

Duas formas: A mais construtiva, a de despertar a mente e o coração das pessoas para olharmos os animais como seres vivos e não objectos! E a forma punitiva, punir quem maltrata um animal!

21 - Quais são os teus sonhos para Portugal?

Sonho com um país mais justo e igual para todos e, infelizmente, afastamo-nos cada vez mais disso! Somos um país lindo, apenas temos de ser mais inteligentes a escolher as pessoas que decidem os nossos destinos.

Projecto Vidas e Obras Entrevista por: Pedro Marques Correcção por: Fátima Simões

13 de Agosto de 2014

13 de Agosto de 2014

Recent Posts 
bottom of page