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Entrevista a Susana Teixeira – Cozinheira e autora do Livro “Da Cozinha com Amor”

Entrevista a Susana Teixeira – Cozinheira e autora do Livro “Da Cozinha com Amor” Portugal, Guiné, Alemanha, Londres foram os lugares por onde passou.

Para além de quereres conhecer culturas novas, o que te levou a quereres tornar-te emigrante temporária? Essa sede de aventura, foi o que também te levou a aventurares-te pela história das receitas portuguesas?

Creio que na época em que nos encontramos as experiências internacionais são cada vez mais valorizadas, pois podem revelar autonomia, capacidade de organização, espirito de aventura e claro uma grande responsabilidade. Além de gostar de conhecer novas culturas gosto de descobrir novos lugares, aprender outros idiomas, superar desafios diariamente e claro tentar outra estabilidade financeira que infelizmente em Portugal não conseguia tão facilmente.

Como é que têm sido essas aventuras? E que histórias gostarias de nos contar sobre essas viagens por esses países, pela poesia, fotografia, sensualidade/amor/paixão, a cozinha?

Claro que me deparo sempre com coisas menos boas, por exemplo a dificuldade em tratar das burocracias, tudo em alemão quando fui morar para Berlim, não querer aceitar a situação de pobreza que se verifica na Guiné - Bissau, a escassez de certos produtos em São Tomé ou ficar constantemente doente por causa da poluição em Londres. Mas... no meio de todas as coisas boas que experienciei, acabo por tentar esquecer esses aspectos menos positivos de cada local. Tudo o que vivenciei por os lugares que passei influenciou bastante o conteúdo do livro, mas tive sempre em conta a nossa cultura e as coisas que por cá se fazem.

Para realizares o teu estágio* escolheste São Tomé por alguma razão em especial? Já tinhas pesquisado sobre os projectos em São Tomé, foi ai que te levou a interessar no que te motivou a estagiares lá?

São Tomé surgiu por sem um destino onde existiam hóteis da companhia onde eu já tinha feito outros estágios e da minha grande vontade de conhecer África e sobretudo São Tomé por tudo aquilo que tinha lido sobre aquela ilha maravilhosa. E como acho que nada acontece por acaso, nesse ano conheci uma colega de turma que era São Tomense e imediatamente lhe contei que tinha intenções de fazer um estágio lá. Nos meses seguintes tomamo-nos nas melhores amigas e antes de entrar no avião eu até já sabia algumas palavras e expressões em crioulo.

Foste como educadora para a Guiné Bissau, o que é que lhes ensinaste e o que é que aprendeste? É uma experiência a repetir?

Integrar um projecto de voluntariado em Varela, na Guiné - Bissau, através da associação Afectos Com Letras foi algo muito enriquecedor e transbordou as minhas expectativas. Terei sempre de agradecer á associação por essa oportunidade! Sem dúvida que eles me ensinaram mais a mim que eu a eles. Foram dias repletos de sorrisos, brincadeiras, aprendizagem, música, dança e dor.. quando os via com feridas no corpo ou doentes. Muitos deles apenas comiam aquilo que lhes dávamos no jardim de infância e saber isso claro que mexeu muito comigo, fez-me sentir impotente. Dai que a luta desta associação para conseguir recolher fundos e doações é constante. Sem dúvida que sim, quero muito regressar à Guiné - Bissau, especialmente à creche onde estive durante os 4 meses.

Para além de quereres divulgar Portugal, também sentiste vontade de mostrar a nossa tradição quando surgiu a ideia?

Por todos os locais que passo faço questão de mencionar que sou portuguesa e de partilhar a nossa cultura e quase no final de todas as conversas a maioria das pessoas já está a dizer que tem de visitar Portugal!! Por isso fico feliz de conseguir mostrar a nossa cultura e património por onde passo.

Juntaste vários temas, como a paixão, a poesia, a tradição, a fotografia, a cozinha. Foi fácil juntares todos estes ingredientes, e trabalhares com as receitas, e a cozinha portuguesa?

Não, não foi um projecto fácil, sobretudo por não ter tido muitos apoios, os únicos apoios que tive foram os fotógrafos e modelos que se voluntariaram para me ajudar, algumas lojas que cederam espaços e produtos para as sessões e uma empresa de aluguer de apartamentos que nos conseguiu espaços para as sessões. Tudo o resto foi pensado por mim e muitos amigos que me ajudaram totalmente a custo zero, aos quais eu fiquei grata para sempre, porque sem eles teria sido impossível este projecto ter nascido. A conjugação dos temas foi surgindo à medida que fui fazendo o esboço do livro, porque as ideias eram muitas, não paravam de surgir, dai também ter optado por ser tudo o máximo português possível, a poesia, os fotógrafos, as receitas, os cenários, entre outros aspectos.

Para além de incitares as pessoas e puxares por elas para aprenderem a cozinhar, e aprender as nossas receitas, também puxas pelo lado sensual, e a paixão, e toda a envolvente amorosa. É essencial para ti primeiro conheceres e mostrares o que é nosso? Motivares as pessoas para aprenderem e inovarem, e envolverem-se mais na sua relação?

A ideia de elaborar este livro foi precisamente por achar que não existia nada do género em Portugal, porque normalmente os livros de receitas contém a receita e uma foto do prato e anda tudo muito à volta disso, eu queria ir mais além e decidi arriscar com um conceito diferente. Não são necessárias receitas muito complicadas para se surpreender alguém, por vezes a intenção e o amor/paixão com que se fazem as coisas são o suficiente para a surpresa ser um verdadeiro sucesso.

Que reacção tens tido do teu público leitor, e dos amigos que te foram pedindo receitas, e dos fotógrafos que colaboraram contigo?

Até ao momento as opiniões têm sido muito positivas, têm-se divertido a experimentar as receitas. Os fotógrafos, para muitos deles foi a primeira vez que fizeram algo do género, dai ter sido um desafio, mas penso que gostaram de ver sobretudo o resultado impresso. O teu segundo vídeo de apresentação, mostra um casal heterossexual apaixonado, em que o rapaz está numa cadeira de rodas. Ao abordares no vídeo este tema, queres quebrar barreiras, o mesmo com o amor e cozinha?

Todos os livros da área que conheço apenas mostram o cliché homem e mulher, todos bem arranjados, bonitos em condições perfeitamente normais, então porque não colocar fotos também de homossexuais ou de pessoas com limitações ou qualquer outro tipo de incapacidade? Senti que tinha mesmo de abordar esses aspectos. Tenho plena consciência que poderia chocar algumas pessoas e as vendas do livro sofreram com isso, mas eu tinha de arriscar e seguir com a minha ideia em frente.

Foi uma decisão importante o facto de parte dos lucros reverterem para duas instituições Cercipom que integra Federação Nacional das Cooperativas de Solidariedade Social e a Obra do Frei Gil: Sociedade de Promoção Social? Consideras que se devia tomar mais vezes esta atitude? Quando é que tiveste a ideia de colaborar com estas instituições?

O meu objectivo com o livro nunca foi ganhar dinheiro ou ter fama, apenas queria concretizar o projecto para realização pessoal e para tentar mudar algumas mentalidades. Por isso desde o inicio que decidi que queria que parte dos lucros revertessem para uma ou duas instituições, escolhi a Cercipom e a Obra do Frei Gil por serem duas associações com as quais tinha mais contacto na altura. Há imensas instituições em Portugal que necessitam de uma grande ajuda diariamente, por vezes apenas um euro pode fazer toda a diferença.. se todos contribuirmos com um bocadinho no final do mês pode-se ter um valor bastante agradável para ajudar.

Quais são os teus projectos para o futuro?

Acima de tudo seguir o meu coração, ser feliz, ajudar os outros, ter qualidade de vida, ser saudável, viajar, ter as pessoas que mais amo ao meu lado, tentar contribuir para um mundo melhor e nunca deixar de sorrir ou acreditar!

Quais são os teus sonhos para Portugal?

Portugal será sempre o meu país, que me acolhe sempre muito bem quando preciso de recarregar baterias, mudar de ares, sentir que pertenço a um lugar. Tenho receio de como será Portugal daqui a 10 - 15 anos por exemplo, mas gostava de ver Portugal ainda mais reconhecido mundialmente, com mais ofertas de emprego e não de estágios que muitas das vezes são grátis, um Portugal com uma mente mais aberta, menos interessado na vida alheia, no mundo cor de rosa, nas desgraças e infelicidades dos outros.

*Um projecto de voluntariado de quatro meses na Guiné-Bissau com o nome «123guinebissau» integrado com projecto da ONG “Afectos com letras»

Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: BT

17 de Agosto de 2014

14 de Agosto de 2014

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