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Entrevista à actriz Cleia Almeida

1 - Como surgiu o gosto pela representação?

Não me lembro de querer ser outra coisa. Sempre foi uma arte que me fascinou. Fui encorajada por todos à minha volta e desde criança que fazia peças na escola e punha toda a gente ”no teatro”...

2 - Participaste em dois trabalhos sobre a época fascista. Antes de mais, gostaria de saber o que sentiste ao trabalhares em filme/série sobre uma história tão negra e tão devastadora de Portugal?

É muito estranho colocar-nos naquele tempo e senti-lo na nossa pele, vivê-lo de facto. É completamente impensável não puder dizer o que se quer, quando se quer onde se quer, por exemplo. Foi um excelente exercício mas não foi nenhuma novidade. Desde cedo que a minha família me explicou bem e fez questão de frisar o quão difícil e atormentador era viver debaixo de uma ditadura.

3 - Enquanto actriz e enquanto pessoa, achas que estes temas foram importantes para ti e para o teu enriquecimento sobre História?

Claro que sim. Cada personagem tem um mundo de história, vivências e experiências diferentes e sempre muito interessantes. Claro que no caso de séries e filmes de época ainda mais se aprende.

4 - E que influência podem ter nas pessoas que estão a ver?

Isso já acho que não sei responder. Depende das pessoas, das suas opiniões já formadas, no quanto acreditam naquilo que vêem...É sempre uma versão da história certo? Contada por umas certas pessoas...cada uma faz o seu juízo. E há tantos...cada cabeça sua sentença

5 - Já trabalhaste com o realizador João Canijo por diversas vezes; uma delas foi no filme “Noite Escura”, que retracta o mundo da noite, da prostituição e o tráfico de mulheres. É importante para ti participar neste tipo de filmes que transmite algumas mensagens?

Sim, é importante. Quanto mais mensagens que me interessem passar estejam presentes nas coisas que faço, melhor claro. Mas por exemplo, na altura do Noite Escura era um assunto que nunca me tinha debruçado mais de dez minutos, confesso, não era uma realidade próxima. Depois desse filme é um assunto que me desperta sempre atenção.

6 - Este filme “Noite Escura” esteve no Festival de Cannes. O que representa essa grande victória para quem, como tu, estava a começar?

É bastante emocionante mas tento ter uma noção clara dos prémios e das distinções. Toda a gente gosta de ser distinguido e se há realizador que o merece é o João mas ainda não aconteceu...ai sim, acho que ficarei entusiasmada. E sem ser falsa modéstia, eu sou uma pequena parte de um grande todo.

7 - Que sentiste ao seres escolhida para representar na reedição da primeira novela portuguesa?

Achei que era o momento para começar a fazer tv e que era uma boa oportunidade.

8 - A curta-metragem de comédia “Assalto à Mão Armada”, de Telmo Martins, fala sobre a forma como os homens vitimizam as mulheres e o facto de as mulheres não se poderem deixar sentir como vitimas. Teres feito este papel foi essencial para ti pelo facto de tocar num assunto tão importante como este?

Queres a verdade certo? Achei muita graça a parecença daquela mulher comigo. Eu desde miúda que respondo se sou abordada na rua de forma menos correcta. E faço aquilo tal e qual. Portanto também era um assunto que me interessava falar sem dúvida. Agora não posso dizer que foi essencial. Eu já pensava da mesma forma que penso hoje. Que ainda vivemos num país muito machista e cabe-nos aos jovens tentar mudar isso.

9 -Qual a tua opinião sobre o facto de as mulheres serem donas e conhecedoras da sua própria sexualidade?

Acho muito bem e lógico se andamos para a frente. Só tenho pena que ainda não seja assim por todo o mundo.

10 - O que pensas de hoje, em pleno século XXI, as mulheres ainda serem tratadas como puro objecto sexual, e ainda não terem direitos iguais aos homens?

Acho que ainda temos muito trabalho pela frente

11 - Tens trabalhado com muitos actores/actrizes, realizadores e encenadores de qualidade: Rita Blanco, João Canijo, Luís Miguel Cintra, Carlos Santos, entre outros. O que tens aprendido com eles?

É impossível resumir aqui. Tantas coisas. Diferentes com cada um deles. Posso dizer assim muito genericamente que eles fizeram com que eu queira cada vez ser melhor, mais profissional, mais dedicada.

12 - É essencial a aprendizagem com os actores mais velhos e a passagem pelas escolas?

Eu não tenho dúvidas que sim. Qual a outra hipótese?

13 - De certeza que foi uma honra para ti trabalhares no teatro textos de nomes importantes da literatura e do teatro, como Tchecov, Gil Vicente ou Shakespeare. Como actriz, quão enriquecedor é representares e estudares estes autores?

É ter um olhar um pouco mais abrangente, é saber a história do teatro e saber como tentar fazer cada um e transportá-lo para cada momento.

14 - A participação em “Mistérios de Lisboa”, mais uma vez a representares um autor consagrado português, é significante para o teu trabalho, representares autores portugueses, e obras importantes da literatura nacional e ou internacional?

Considero que sempre que haja oportunidade de levar autores portugueses mais longe se deva fazê-lo. Logo, não hesitei, embora tenha sido uma participação muito pequena foi uma experiência aquele ambiente do mosteiro, representar uma freira...confesso que foi sempre uma curiosidade. E lá está, mais uma aprendizagem, mais uma experiência.

15 - Como vês a situação da representação em Portugal? O que achas que se deveria mudar?

Presentemente, quase tudo devia mudar...a legislação, revisão do estatuto de actor, unir a nossa classe, o sistema de recibos verdes, melhores condições de trabalho, pensarem que também somos pessoas e que também queremos arrendar uma casa, ter filhos...

16 - Quais são os teus sonhos para Portugal?

Que seja um país mais justo e orgulhoso de ser Portugal.

Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: Fátima Simões

17 de Março de 2014

25 de Fevereiro de

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