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Entrevista ao Luís Filipe Borges

Entrevista ao escritor, actor, argumentista, humorista, apresentador e mais uma série de coisas que ainda se desconhece – Luís Filipe Borges

1 - Para a RTP apresentaste um programa sobre a História de Portugal. O que aprendeste ao trabalhar com o historiador Fernando Casqueira e a mostrar a História ao público?

Tanto. Dava para escrever um pequeno romance, mesmo sendo desde miúdo um apaixonado pela nossa História. Além do mais, criei uma fortíssima amizade com o Prof. Casqueira e estou absolutamente convencido de que este foi o projecto da minha vida. E espero que volte a ser. Notável conceito, equipa perfeita, cada pessoa um profissional exemplar e apaixonado pelo trabalho.

2 - Como é que surgiu este projecto de apresentação entre um apresentador/humorista e um professor/historiador?

O conceito original é argentino e foi adquirido pela Eyeworks Portugal, na altura dirigida por um grande amigo. A RTP interessou-se pelo projecto e este estava destinado a uma das estrelas do canal, lado a lado com o Historiador (o trunfo máximo do programa), que tinha de ser encontrado primeiro. O meu amigo pediu-me o favor de ajudar no casting. Decorei duas cenas e fui fazer o papel de apresentador, durante uma tarde no Terreiro do Paço onde repeti as ditas com 4 historiadores diferentes. Ficou claro de imediato, para quem estava no local, que Fernando Casqueira era a escolha perfeita. Mais tarde, quando o DVD com o casting foi observado pela Direcção de Programas, acharam que havia uma grande química entre nós e apreciaram a minha prestação. Decidiram que deveria fazer o programa. Fiquei muito surpreendido e ainda mais feliz.

3 - Fizeram também um apanhado da história da RTP. O que é que este trabalho te permitiu aprender sobre a RTP?

Já era um conhecedor, confesso. Cresceu o meu respeito pelos grandes profissionais daquela casa.

4 - Foi mais um privilégio ou foi mais uma honra teres feito estes dois trabalhos?

Claramente ambas.

5 - Estes dois projectos foram decerto importantes para ti. Acabaram por representar uma mais-valia para o teu trabalho hoje no “5 Para a Meia Noite”?

Sem dúvida alguma. Deram-me experiência, estaleca, ferramentas, permitiram-me – para citar Lou Reed – “crescer em público”. O ‘5’ é um primo direito da ‘Revolta’, a genética está lá.

6 - Lançaste o António Raminhos e também tiveste o Nuno Duarte (Jel) na Revolta. O que sentes hoje por teres promovido e ajudado a lançar estes e outros artistas?

Um enorme orgulho, satisfação, alegria por eles. Mas só conseguiram graças ao seu talento. Os meus amigos e colegas de trabalho sabem que sinto muita honra em duas características: tenho bom olho para descobrir talentos e não faço fretes (em tempos, cheguei a dispensar o meu próprio irmão dum projecto!). Portanto, posso ter dado um empurrão, mas o mérito é de cada um deles.

7 - Deu-te muito gozo escrever o argumento da série “Liberdade 21”, escrever para actores como António Capelo, Ana Nave, Rita Lello, Ivo Canelas, António Cordeiro, Albano Jerónimo…?

Sim, até porque me permitiu – finalmente – dar aplicação prática à minha licenciatura em Direito (risos). E trabalhar com dois grandes argumentistas: Nuno Duarte e Tiago R. Santos.

8 - Escreveste argumentos para a série “Conta-me Como Foi”, uma série sobre um período negro e devastador da nossa história. Foi fácil escreveres sobre esse tempo? O facto de ser um período tão cinzento e tão mau para a nossa História e de ter na série belíssimos actores e actrizes foi o motivo que te fez aceitar o convite para escrever os 8 argumentos?

Era impossível recusar a oportunidade de participar na escrita da 4ª e última oportunidade duma série amada pelos portugueses, um triunfo absoluto a nível de produção televisiva nacional. Os meus dois colegas e amigos nessa equipa de escrita têm a mesma idade do que eu pelo que, para nós, foi particularmente aliciante escrever sobre um período imediatamente anterior ao nosso nascimento. Felizmente, tínhamos uma consultora histórica excepcional – Helena Matos – e alguns ‘consultores’ amadores muitíssimo dedicados: pais, tios, avós! Foi seguramente um dos trabalhos que mais me orgulho de ter feito até hoje.

9 - “Feitos ao Bife” foi um programa em que integraste um grupo de júris. Sentires-te no papel de crítico e de avaliador foi uma tarefa fácil e desafiadora?

De maneira nenhuma foi fácil. Mas o grande ambiente entre a equipa, o facto de estarmos todos genuinamente divertidos com o nosso papel, ter entrado voluntariamente em sketchs que quebravam essa possível barreira entre concorrentes e jurados e; sobretudo, o objectivo solidário de cada emissão – em que o prémio do vencedor era entregue a uma instituição à escolha, ajudou a desanuviar essa eventual tensão.

10 - Depois de trabalhares para os jornais, rádio, televisão, teatro, cinema e mais uma série de coisas para as quais tens um enorme talento, quais são os teus projectos para o futuro?

Escrever um romance, realizar uma longa-metragem, ser pai.

11 - Que mensagem gostarias de deixar para os jovens desempregados?

Qualquer mensagem que pudesse deixar cheiraria a conselho pretensioso e palmadinha nas costas. Digo apenas que não se encontram sozinhos na luta e que, da parte que me toca, numa ínfima escala, sentirei sempre a responsabilidade profissional de os entreter e dignificar. Dizer a verdade a brincar, para citar Almeida Garrett.

12 - O que significou para ti o facto de teres encenado uma adaptação de uma peça de Almeida Garrett? Foi enriquecedor como aprendizagem enquanto actor e encenador?

Antes de mais, deixa-me agradecer-te a pergunta reveladora de tremenda pesquisa! Fico surpreendido, acredita. Sobretudo porque é um projecto bem antigo, estava ainda no liceu, em Angra do Heroísmo… Foi, sem dúvida, extraordinariamente enriquecedor, até porque foi a minha primeira verdadeira experiência de palco, com muita gente à frente, num espaço magnífico (Teatro Angrense). Aprendi essencialmente as primeiras bases do trabalho em palco, algum controlo da ansiedade e adrenalina e ainda tive a incrível oportunidade de conhecer Ruy de Carvalho (que interpretou Telmo Pais, a mesma personagem que eu ia fazer) e que me deu, amável e como se falasse com um igual, preciosos conselhos.

13 - Tendo em conta a situação em que vivemos, quer na cultura, quer na política social, que opinião tens sobre como sair deste paradigma, progredir e criar soluções de interesse para todos?

Quem me dera ter a resposta. Duvido dum sistema que elimina o Ministério da Educação, renego um governo que destrói de forma lenta e prolongada o Estado Social, não acredito num país com taxas de abstenção nos 60%. Admiro os empreendedores, os emigrantes, todos aqueles que perseguem um objectivo e lutam sem esperar por subsídios, quem sai à rua e se manifesta.

14 - Quais são os teus sonhos para Portugal?

Uma democracia verdadeiramente participativa, com referendos regulares, candidaturas independentes e medidas de iniciativa popular no Parlamento. A refundação da classe política, totalmente desacreditada, com a destruição do caciquismo e a eliminação das clientelas partidárias. Uma drástica reforma do aparelho do Estado, que é o maior consumidor/glutão das nossas receitas, bem como o pai desse monstro clientelar.

Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista por: Pedro Marques Correcção por: Fátima Simões

23 de Outubro de 2013

22 de Outubro de 2013

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