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Entrevista a André Crespo

“André Crespo natural de Leiria, 36 anos, licenciado em Educação Física, actualmente Professor na Ilha do Corvo.

Foi praticante de andebol no União de Leiria, Juve, ACS, Cal, ACS e 1º de Maio Foi técnico de Bâmbis no Sporting Clube de Portugal Foi técnico na CAL em escalões de formação e seniores, tendo na época 2003/4 levado a sua equipa Juvenis a Campeão Nacional da 2ª Divisão. Enquanto técnico os atletas João Ferreirinho, Filipe Oliveira, Victor Santos e Pedro Portela atingiram a Selecção Nacional. Foi técnico do ACS em Juvenis tendo alcançado o 4º lugar no Campeonato Nacional da 1º Divisão. No ano de 2006 recebeu o Galardão do Desporto da Câmara Municipal de Leiria.”

Pequena Biografia cedida pelo pai do entrevistado.

Entrevista a André Crespo

Foi fácil o teu processo de adaptação no Académico?

Para começar quero começar por dizer que o Académico foi o clube mais importante da minha vida. Quando cheguei ao Académico, convidado pelo Paulo Clemente e mais tarde pelo Luís Pinto, vinha do ACS. O ACS é um clube espectacular e onde verdadeiramente me apercebi da importância de treinar duro e acreditar no trabalho que desenvolvia. O trabalho na altura programado pelo Eduardo Santos, fazia sentido e era muito bem organizado. Para além disso, o ACS é um clube bairrista e com grande afecto pelos atletas do clube. O facto de ter essa grande ligação afectiva ao ACS, poderia criar uma maior dificuldade de adaptação ao Académico. Mas não foi assim. Fui super bem recebido pela estrutura directiva, Luís Pinto, Nuno Neves e pelos dirigentes do clube o que facilitou numa primeira fase a adaptação e posteriormente o crescimento emocional e desportivo que o Académico me proporcionou dado que me deram total liberdade para ser criativo, improvisar e errar. Era um clube que aceitava o erro como parte do processo e era um clube onde ninguém era dono da razão. O Académico é o clube da minha vida e oxalá um dia possa voltar a ter Andebol.

É um motivo de orgulho para ti veres o João Ferreirinho e o Pedro Portela em grandes clubes e como melhores atletas portugueses? Bem como teres o Filipe Oliveira e o Luís Portela a disputarem a fase final para a subida à 1ª divisão – é um dever cumprido?

Antes de mais eu tenho orgulho em todos os atletas que treinei. Desde o Ferreirinho ao Diogo Jerónimo. Com o passar dos anos fui aprimorando esse orgulho na inclusão e no partilhar das emoções e do treino com todos os jogadores. Se numa fase inicial da carreira como treinador, não dava oportunidade a todos (de jogar) com o passar dos anos esse tornou-se um dos aspectos mais importantes na minha forma de estar no desporto – todos terem oportunidades em número e em tempo. Todos têm direito de crescer e de demorar o seu tempo.

Quanto ao Ferreirinho, Portela, Fila, e agora mais recentemente o Duarte Carregueiro, são atletas de eleição e que aproveitaram (uns melhor que outros) o potencial que têm. Obviamente que é bom saber que o talento deles não ficou pelo caminho, e que no trabalho que desenvolvemos em conjunto eles ganharam bases para poder triunfar.

Sendo Professor, como vês a situação geral dos professores e da escola pública – todo o facto de não saberes o dia de amanhã, e para onde vais...

É um assunto muito delicado. Portugal passa por uma grande crise... não a financeira, mas a crise de falta de ideias e de orientação para definir que país queremos para o futuro a curto, médio e longo prazo. A escola pública poderia ter um papel determinante na operacionalização dessas ideias e de orientações concisas. Contudo, a crise financeira parece que absorve tudo o resto. Dizem-nos que temos de ficar quietos, cortar nos gastos, cortar nas pessoas e evidentemente cortar na qualidade do ensino – turmas maiores, escolas sem funcionários, mega-agrupamentos onde as pessoas não se entendem porque a confusão é gigante. Por outro lado, o ensino deveria mudar bastante – estes ministros e as suas equipas, passam a ideia de que o ensino deve ser essencialmente científico. Cortaram horas no Desporto Escolar, cortaram horas em área projecto, cortaram horas na música e cortaram horas em Educação Visual e Tecnológica. Ora eu acho que estas disciplinas deveriam ser preservadas, e as escolas deveriam ainda ter clubes de arte e teatro (extra-curricular), de forma a que os alunos ganhem competências reais de vida e não apenas competências matemáticas e conhecimentos científicos muito aprofundados... depois os bons alunos, serão obrigados a emigrar e os que não eram bons em ciência e matemática, ficam cá sem competências algumas... Por outro lado, parece-me que a escola cada vez menos desenvolve o espírito crítico. Quanto a mim, devia ser obrigatório os alunos do 10º; 11º e 12º anos deveriam ter história e introdução à política. Aprender noções de esquerda e direita. Socialismo, comunismo, social-democracia, liberalização... conhecerem de forma correcta os diferentes conceitos para mais tarde exercerem a sua cidadania de forma responsável e sábia. E enquanto a escola pública vai sendo “dizimada”... o privado financiado pelo estado vai aumentando o seu monopólio...obviamente com a colaboração dos nossos ministros de direita.

O que aprendeste como treinador e o que tens aprendido como professor?

Aprendi essencialmente a conhecer melhor as crianças e a melhor forma de lidar com elas e de as fazer aprender. Tem sido fantástico porque me permite conhecer Portugal e me permite ter experiências como a de leccionar e viver na Ilha do Corvo.

O que representa para ti o Galardão do Desporto, entregue pela Câmara de Leiria?

Pouco ou nada. Acho que na altura me deixou orgulhoso. Hoje faz parte de um passado que apenas recordo com saudade e com muita pena de não lhe poder ter dado continuidade.

Preocupa-te o estado do desporto – por exemplo do andebol e mais concretamente em Leira-- e do estado do ensino?

O andebol em Leiria continua em boas mãos. Temos bons treinadores – Nando, Vítor Santos, José Violante, André Afra, Rui Rito e muitos mais, pelo que o andebol continuará a ter a força de se desenvolver e avançar. Faz falta o Académico do nosso tempo... e faz falta os clubes terem alguns apoios...

Como julgas que se pode mudar este paradigma? Pensas que se deva de conhecer a história do andebol em Leiria, dos treinadores e atletas, para que se consigam obter novos e melhores resultados -- ter assim mais clubes e atletas?

Acho que a história do andebol de Leiria é linda, deveria ser conhecida e estar documentada. Saber na primeira pessoa histórias e momentos importantes do andebol de Leiria. Acho que Célia Afra, José Violante, José Bento teriam muito de interessante para contar. Por outro lado, acho importante para os actuais atletas que se saiba a história dos seus clubes de forma a que o sintam de uma forma mais profunda.

Foi muito importante a tua passagem pelo Sporting, como treinador dos Bâmbis?

Teve alguma importância. O Sporting na altura não tinha Bambis e a nossa equipa de treinadores (eramos 4 treinadores em estágio) que implementámos e fomentámos o andebol de formação no Sporting. Conseguimos nesse ano acabar a época com 30 atletas a treinar de forma contínua. Importante acrescentar que o nome Sporting tem um grande peso, pelo que não era difícil ter meninos e meninas para estarem e jogarem no Sporting.

Aquando no Académico, a tua primeira passagem foi como treinador dos juvenis, tendo mais tarde uma passagem pelos seniores; estas foram para ti as verdadeiras provas de fogo?

Encaro todos os desafios como sendo importantes. Os desafios que tive no Académico tiveram um peso extra, porque estava a começar... e comecei logo na 1ª divisão de juvenis, uma prova importantíssima e posteriormente conseguimos subir o juniores do Académico à primeira divisão nacional (um feito incrivelmente difícil) e mais tarde treinar o séniores foi o culminar de um trajecto maravilhoso que tive no Académico.

Perdeste a oportunidade de treinar na Juve por causa da colocação e mobilidade. Não é injusto para um professor novo ter que andar com a “casa às costas” de ano para ano? Segundo, ainda achas possível abraçares o papel de treinador na Juve? Mesmo que estejas longe de casa, e estejas sempre a mudar, tem sido importante a vivência nas terras onde tens leccionado?

Sim, treinar a equipa de juvenis femininas da Juve teria sido um desafio importante e muito estimulante. Começamos a treinar, estávamos a ter um boa empatia pessoal...mas fui colocado no Alentejo. Foi duro, deixar as miúdas e o clube (que me recebeu super bem). Por outro lado, eu tinha grandes espectativas para o trabalho que podíamos desenvolver e tinha grandes expectativas relativamente ao que eu poderia acrescentar ao andebol delas. Na actual situação do país só vejo 2 possibilidades para voltar a treinar em Leiria – ou ser colocado na zona ou por outro lado não ficar colocado. Quanto á questão da justiça e das injustiças... eu já me contentava que os ”larápiozecos” deste pais fossem julgados e punidos pela justiça Portuguesa. Não é possível haver um roubo monumental como o do BPN e não haver um tipo que seja que vá parar á cadeia. Não acho justo que Cavaco tenha lucrado e muito com um banco que ao qual nós andamos a pagar todos os meses. Mas isto dava pano para mangas. Quanto às gentes do nosso país e locais pelos quais tenho andado – tenho tido a sorte de ir parar a locais fantásticos e de fazer grandes amizades por esses sítios. Apesar de perder alguma estabilidade pessoal e emocional, andar por estes locais dá-me uma sensação de liberdade muito boa e permite-me conhecer gente fantástica. Acho que chegará o dia em que vou querer assentar e fazer um trabalho mais continuado.

O que tens aprendido com essas vivências, com as gentes e com os locais?

Não se trata de aprender no verdadeiro sentido da palavra. Trata-se de viver com eles e ser um deles. E sentir que nos tornamos num “deles” é uma sensação óptima.

Que histórias tens dos teus tempos do andebol?

Tantas... mas tantas. Mas a melhor

O que é que o desporto e o ensino significam para ti? E que papéis devem ter na sociedade?

O Desporto e o ensino são uma paixão. Adoro ensinar e adoro fazer parte da vida de crianças e ajudá-las a crescer.

Quais são os seus sonhos para Portugal?

Um Portugal justo, culto, educado, ecológico e organizado. Um país onde todos tenham igualdade de oportunidades. Um país virado para as suas raízes, para a sua cultura. Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

Obrigado pelo teu tempo

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques Correcção: Sílvia Dias

26 de Fevereiro de 2014

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