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Entrevista A Lady Gaga Sobre Rodas - CARMINHO SOBRE RODAS



Fez esta publicação em Setembro de 2021 em reacção a uma publicação dum humorista sobre os Paralímpicos. “Como a sociedade vê as pessoas com deficiência:” Que impacto é que a visão negativa e constantemente depreciativa impede as pessoas com deficiência de terem uma vida sem barreiras, violência, falta de visibilidade e terem uma vida independente?


Desde sempre que existe esta visão de que a deficiência é um castigo e um inferno. Há pessoas que crêem que pessoas com deficiência são coitadinhos, ou que merecemos até este “castigo” que retratam. E por isso, é muito mais fácil para a sociedade resumir o tema da deficiência ao tabu ou à ignorância, acabando por se tornar uma barreira nas vidas de pessoas com deficiência.


Escreveu esta publicação em 20 de Maio de 2021 “Quando não podes ser independente porque não tens acessibilidade”, para celebrar o “DIA MUNDIAL DA CONSCIENTIZAÇÃO SOBRE A ACESSIBILIDADE”. O que falta para que haja uma total consciencialização sobre a acessibilidade e concretização sobre a acessibilidade e para que as pessoas com deficiência possam ter uma vida independente?


Em primeiro lugar, é preciso que a deficiência deixe de ser um tabu no dia a dia e para a sociedade em geral. Quanto mais abertura e facilidade existir à volta deste tema, maior vai ser a quebra do estigma de que as pessoas com deficiência são incapacitadas e que não merecem ser ouvidas. Claro que esta normalização começa em casa e na educação escolar (coisa que em pleno século 21 ainda não acontece). Se esta consciencialização não existir, o tema da acessibilidade passa a ser desvalorizado, e acho que a sociedade não quer compreender o impacto que a acessibilidade tem na vida de uma pessoa com deficiência. Porque dá trabalho. Muitas vezes penso que as pessoas vivem na ignorância, e sinto que a maior parte gosta disso. Acomodam-se e deixam-se ficar por aí.  Para elas é muito mais fácil ignorar o desconhecido do que perguntar e pensar sobre o assunto.

 

Escreveu no Instagram: “Viagens Sobre Rodas – Fica a saber onde podes passar o teu Verão sem qualquer problema de acessibilidade”. O que é preciso para que isto deixe de ser uma realidade e que as pessoas sobre rodas possam passar férias em todo o lado, com todas as condições e acessibilidades?


Acho que esta pergunta remete muito à resposta anterior. Enquanto a mentalidade da sociedade não decidir mudar e evoluir, o problema da acessibilidade vai continuar a crescer de dia para dia. Vêmo-nos a ser tão inclusivos e mente aberta para tudo, até para as coisas mais descabidas, mas para o que realmente interessa decidimos ficar quietos.


Publicou no instragam: “Os nadadores salvadores estavam a ver tudo e não ofereceram ajuda!”. De que forma a não prestação de auxílio a pessoas com deficiência vos tem prejudicado e como é possível combater esta falta de auxílio e preconceito? 


É importante referir que eu não estou à espera de receber ajuda aonde quer que vá. Quanto mais independente eu puder ser, melhor. Mas se eu me encontro num local que se diz acessível e no final de contas não é, e se existem profissionais que estão a ver que estou a passar dificuldades e mesmo assim não ajudam... estão à espera que eu me levante milagrosamente e que peça ajuda? A partir do momento em que se é um profissional, seja de saúde, seja salva-vidas e se vê uma situação destas a acontecer, cabe a esse profissional socorrer e ajudar. Quando isto não acontece, não só é falta de profissionalismo, como também de civismo. E isso também é uma das grandes barreiras para a independência de uma pessoa com deficiência.

 

Publicou no Instagram “Vamos falar da Feira do Livro? Ou Melhor da acessibilidade da Feira do Livro?” Em que medida é que esta enorme barreira e falta de acessibilidade e atenção a esta luta vos prejudica diariamente?


A falta de acessibilidade impede que eu seja independente. Tenho a sorte de estar rodeada de gente que me apoia e que contribui para a minha independência, mesmo quando a acessibilidade é inexistente e sou uma sortuda por poder dizer que consigo fazer quase tudo... mas há que não tenha esse apoio e que precise de se desenvencilhar sozinho diariamente, mas que infelizmente não o pode fazer porque o nosso país não se preocupa acabando muitas vezes por nos tirar a liberdade e a dignidade...


Celebrou no instagram “Julho é o Mês de Orgulho das Pessoas com Deficiência”. Que importância tem para si esta celebração e o que é preciso para que haja respeito, conhecimento, e valorização das capacidades?


Sendo agora mais velha, e conhecendo melhor e abraçando mais o mundo da deficiência (que faz parte de mim, mas que neguei durante muitos anos), sinto orgulho por fazer parte desta comunidade e por dar voz a esta causa importante. E o mês do orgulho das pessoas com deficiência serve exactamente para isto: mostrar que a deficiência em vez de ser uma maldição como se pinta na maioria dos livros e filmes da televisão, é pelo contrário, uma forma autêntica de abraçar o desconhecido e não ter medo nem vergonha de o fazer, não só para quem faz parte desta comunidade, mas também para aqueles que sentem receio de abordar este tema.


Celebrou no Instagram “6 de Outubro - DIA MUNDIAL DA PARALISIA CEREBRAL”. De que forma este dia e todos os dias podem ser determinantes para a luta contra o estigma, a indiferença, na paralisia cerebral e toda a violência que as pessoas com deficiência sofrem diariamente?


O dia a dia de uma pessoa com deficiência, é uma luta permanente contra o estigma que há à volta deste tema. Não existe um dia em que não haja uma pessoa com deficiência que não sofra de capacitismo, seja por crianças, adultos e idosos... uma pessoa sem deficiência pensa que a pessoa com deficiência lhe deve justificações, sem sequer conhecer a pessoa em questão.

“Mas afinal o que é que te aconteceu?” “Tu sais à noite e vais beber um copo? Não devias”... entre estas vêm muitas outras. E, apesar de muitas vezes não responder, muitas vezes fico incomodada por me fazerem sentir que estou a fazer algo que não devia estar a fazer, mesmo se for a coisa mais inofensiva do mundo como ir jantar fora com o namorado, por exemplo... fico mesmo desconfortável.

 

Há vários anos que luta pelos direitos das pessoas com deficiência, por uma vida independente, pela acessibilidade, pelo respeito e dignidade, o que tem aprendido, o que a tem motivado e que importância tem para si todo este trabalho de luta, de apoio, de consciencialização, de denúncia? E o que nos pode dizer mais sobre esta sua luta?


Steve Jones, membro da banda The Sex Pistols costumava dizer: “O caos deve ser criado para que a mudança aconteça”.

 Nos últimos anos esta frase tem-se aplicado muito à minha vida como pessoa com deficiência e também como activista pelos direitos de pessoas com deficiência. Não só porque todos os temas que abordo seja na minha página de redes sociais, seja noutras entrevistas e trabalhos, provocam alarido e muitas vezes de forma provocativa. Mas também por perceber que se eu não falar sobre estes temas, se eu não espicaçar, ninguém irá reagir e a mudança não irá acontecer, por muito pequena que seja. Sinto que aos poucos e poucos eu, e muitas outras pessoas com deficiência vamos mudando e contribuímos para a mudança de mentalidades mais inclusivas, e isso para mim é gratificante e faz-me querer continuar a desempenhar este papel, por muito que às vezes esta luta seja exaustiva.


Quais são os seus sonhos para Portugal?


Gostaria muito que Portugal deixasse de agir como um país de terceiro mundo em termos de mentalidade, porque sejamos sinceros Portugal é um país cheio de cor mas que pensa a preto e branco levando consigo neste registo as gerações futuras… e isso assusta-me. Não tenho medo de dizer o que penso, e por isso é que apelo aos jovens da minha geração e das gerações que se seguem: assim como há muito mais para além de um ecrã, também há muito mais para além de uma deficiência, e cabe-vos a vós observarem isso e abraçarem o desconhecido. Não temam! Sejam diferentes, façam a diferença, FAÇAM PARTE DA DIFERENÇA!



Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

 

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: João Aristides Duarte

21 De Maio De 2024

 

 

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