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Entrevista A António Simão

  • projectovidaseobras
  • Apr 29
  • 4 min read

Desde 2004 que tens realizado diversas acções de formação em vários locais - Centro Cultural de Belém, Chapitô, Teatro Aveirense, Teatro Viriato e festival MINDELACT em Cabo Verde. No Centro Cultural de Belém traduziste e levaste à cena a peça “PEÇA ALTER NATIVA” de Finn Iunker, com alunos da escola secundária Paula Vicente e actores profissionais. Convidaste o escritor Miguel Castro Caldas para uma peça original – “CASAS”, que levaste à cena com um grupo de actores não profissionais, que originou ao grupo Teatro A Todos, em 2008. Que importância tem este teu trabalho nas acções de formação, a tradução, o trabalho com os alunos e a criação do Teatro?


A formação é uma parte fundamental no percurso do artista, não só para quem aprende mas também para quem ensina. Por um lado é natural, saudável e justo, ao fim de algum tempo de experiência (não importa se curto ou longo), passar conhecimentos, mesmo sem ser muito bem pago para isso. Assegura uma certa evolução, um movimento que porventura trará resultados (não importa se às vezes bons e outras maus), nesta área das artes cénicas. O culminar da formação com uma apresentação pública dos trabalhos é, no meu caso, lógico e consequente; porque a maior parte do meu aprendizado e da minha experiência foi e continua a ser feita com a prática da realização de espectáculos. Juntar profissionais da área teatral – um autor e actores profissionais, enriquece e complementa essas acções de formação, que consistem não apenas em passar conhecimentos sobre actuação mas também sobre a totalidade da criação de um espectáculo, onde se engloba escolha de textos, traduções, distribuição de papéis, planos de ensaios, cenografia, figurinos, luz e muitas outras funções.


Representaste em dois filmes para a RTP sobre a ditadura fascista “A Hora dos Lobos” e “O Atentado”. Como foi para ti dar vida a estas personagens ambas contra o regime fascista da época?


Eu acredito que quase toda a arte deve ser anti-poder. Em parte a arte é uma forma de exprimir algo demasiado denso, forte ou importante que, por vezes, não encontra forma mais forte para se exprimir. Além da alegria e da felicidade, nas suas variadas formas, o sofrimento, a morte, a redenção, a guerra, a opressão, são e devem ter uma vida artística. Não apenas para estetizar, mas também para provocar reconhecimento, empatia, pensamento, reflexão e quem sabe alguma possível mudança, nem que seja em alguma mentalidade. Por isso, sinto-me útil quando represento algum papel que contém uma luta contra algo injusto e poderoso.


Representaste também para estas séries “Três Mulheres, Madre Paula a Rainha e a Bastarda”, “Lissabon Krimi” e no cinema com Manuel Pureza, Sérgio Graciano, Tiago Guedes, João Maia, Luís Filipe Rocha e Mário Barroso. Como foi para ti representar nestas séries e trabalhar com estes realizadores?


Para um actor trabalhar em várias áreas com vários profissionais é sempre bom. Permite evoluir na técnica (e não só), mas de uma forma que sem trabalhar não se conseguiria.


Traduziste cinco peças do autor norueguês Finn Iunker: “The Aswering Machine”, “Play Alter Native”, “Iphigenia”, “Dealing with Helen” e “Orkhon's Death”. Que importância têm estes trabalhos de tradução para ti?


Traduzir é ir ao âmago do processo artístico da concepção de um espectáculo. Como escrever. É inventar as vozes, as cenas, os ritmos; é transformar os assuntos e sobretudo a forma como se vai abordar o que se quer contar, numa outra língua. Traduzir, para mim, é também tentar encontrar a melhor e mais justa forma de retransmitir tudo aquilo que o autor quis que fosse contado. Mas é, como com os outros intervenientes numa peça de teatro, uma interpretação.

Fundaste duas produtoras de espectáculo: a APA e o Teatro de Inverno. Que importância tem para ti teres fundado estas produtoras e o trabalho como director dos Artistas Unidos?


Se conseguirmos criar ou ajudar a criar, a nossa própria ou uma estrutura com a qual nos identifiquemos, ficará muito mais objectivo o trabalho de conseguirmos falar do que nos interesse e, sobretudo, com quem nos interessa. Ajuda-nos a não estar tão dependentes da “ bondade de estranhos” e a traçar um caminho mais claro na nossa profissão.


Estás nos Artistas Unidos desde 1995 onde tens trabalhado como actor, encenador, assistente, produtor, e hoje és um dos directores da Companhia. Como tem sido trabalhar com nestas várias vertentes, desde 95, nos Artistas Unidos?


Tem sido uma experiência enorme com coisas positivas e negativas mas sobretudo com uma importância inegável no que toca ao legado e à história que uma estrutura como uma companhia de teatro consegue reunir com o passar dos anos. A própria evolução do trabalho para os artistas e criadores é imensa e inegável mas não só, também para os espectadores, a comunidade e a cidade.


Criaram este hashtag #UMACASAPARAOSARTISTASUNIDOS como forma apelo: De que forma é possível lutar por um tratamento digno para a cultura, para o teatro, e que os grupos de teatro deixem de ser despejados, e deixem de ter o seu presente e futuro hipotecado pelo poder político?


A única forma que temos é de continuar a fazer, a trabalhar e a insistir de todas as formas e em todos os sítios onde o possamos fazer. Alertar e fazer ver ao poder político que a cultura é essencial na identidade e no pensamento individual e colectivo de toda e qualquer população, como a educação e até como a religião, porque não?


Quais são os teus sonhos para Portugal?


Pedro, sou de uma geração cujos sonhos desapareceram algures no início dos anos 2000. Pela minha parte serei sempre um pessimista, é a minha natureza, portanto os sonhos que tenho são um pouco tenebrosos. Embora por vezes fique satisfeito por distinguir vislumbres de esperança por aí e pensar que nem tudo está perdido. Para Portugal gostaria que as classes dirigentes fossem mais sociais e até humanistas e menos mercantilistas ou capitalistas. Que fosse reajustada ou até recriada a estrutura para sustentar as artes cénicas e os artistas e que fosse evolutiva; e também mais justa, simples, coerente, atenta e dotada de meios suficientes.



Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.

 

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: João Aristides Duarte

31 De Março De 2025

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