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Entrevista a Paulo Oisiovici – Historiador – Mestre em História Contemporânea



A sua dissertação de mestrado foi sobre "Estaline nos manuais escolares de Brasil e Portugal" onde se focou nestas premissas Revolução Russa, socialismo, comunismo, ditadura do proletariado e URSS sob o governo de Stálin. Está a preparar a edição da obra “O vento da História redime STALIN". É um dos poucos estudiosos a nível mundial sobre o papel de Stálin na revolução russa. O que o motivou nesta tarefa?

O que me levou a realizar pesquisa sobre Estaline nos Manuais de Portugal e Brasil foi o facto de observar durante minha carreira de professor que à revelia da abertura dos arquivos estatais russos e de pesquisas importantíssimas realizadas por historiadores de diversas nacionalidades a partir dos documentos dos referidos arquivos, a narrativa nos manuais escolares e nas aulas do ensino básico e nas universidades continuam a repetir a mesma narrativa de décadas, gerada pela obra Robert Conquest, que integrou os quadros do Serviço de Informação britânico e da CIA após radicar-se nos EUA. Esta obra já foi derrubada com abertura dos arquivos russos e por resultados de pesquisas mais rigorosas. Há na narrativa hegemónica sobre Estaline e as URSS uma série de informações distorcidas convenientes aos objetivos ideológicos e corporativos de pseudo historiadores que apresentam o capitalismo como única alternativa para a humanidade.

Quanto a informações sobre a minha vida tenho a dizer que ingressei no Partido Comunista do Brasil em 1976 e militei nele até 1986. Colaborei com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Correntina-BA; fundei a Associação dos Pequenos Agricultores de Correntina-BA e o Sindicato dos Professores de Correntina-BA, atualmente sou sindicalizado, mas não milito mais no Sindicato dos Professores de Correntina-BA.

Sou o único historiador brasileiro a realizar pesquisa nos Arquivos Estatais Russos, a partir de fontes primárias, sobre Stálin e a URSS. Estou no momento realizando pesquisa específica sobre o Relatório Khrushchev apresentado ao XXº Congresso do PCUS, o Pacto Ribbentrop-Molotov também conhecido como Pacto de Não Agressão Germânico-Soviético, cujos documentos sobre o assunto foram desclassificados em 2019. A pesquisa tem se dado, em especial, a partir os documentos que se encontram nos Arquivos do Presidente da Federação Russa sobre as Relações URSS-Alemanha 1932-1941, assim como sobre o massacre de Katyn a partir dos documentos do "pacote fechado nº 1". Na realização do trabalho de pesquisa já traduzi do russo para o português dois artigos dos historiadores russos S. Strigyn e V. Shved, além de diversas reportagens e laudos da perícia que provou a falsificação dos documentos do "pacote fechado nº1", reconhecida, inclusive, pela Corte Europeia de Direitos Humanos, em 2012. Realizei ainda a tradução para o português, do Relatório da Comissão Especial N. Burdenko que realizou a exumação dos cadáveres dos prisioneiros de guerra poloneses na Montanha dos Bodes, floresta de Katyn, próxima a Smolensk, além de já ter traduzido diversas correspondências de V. Iliukhin, deputado da Duma Russa responsável pela instauração da comissão de investigação dos documentos do "pacote fechado nº1", cuja morte repentina não foi ainda devidamente explicada. Foi realizada por mim a transliteração e tradução dos termos do acordo de não agressão Ribbentrop-Molotov e do seu Protocolo Secreto. Traduzi também para o português, o Boletim do Arquivo do Presidente da Federação Russa sobre as Relações URSS-Alemanha 1932-1941 cujo redator responsável é o historiador S. V. Kudryashov. Tais documentos desconhecidos no Ocidente, contribuirão para o estabelecimento da verdade histórica sobre Estaline a URSS possibilitando a derrubada de mitos transformados em cânone por força do mercenarismo acadêmico e por uma gigantesca e milionária campanha editorial e mediática.

Quais são os seus sonhos para Portugal e para o Brasil?

Meu sonho para Portugal e Brasil é, em especial, que os jovens estudantes tenham acesso a um ensino de História de qualidade, baseado em factos e não em discursos ideológicos oficializados e difundido pelos media, que através de aulas oficinas no trabalho com diversas fontes, construam o seu próprio conhecimento histórico, sem manipulações e de forma multiperspetiva conforme recomenda a UNESCO, para que possam atingir uma consciência histórica compatível com a complexidade das nossas sociedades na atualidade.

Obrigado.

Paulo Oisiovici.

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho. Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: Paulo Tojeira

21 de Abril de 2020

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