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Entrevista a Pedro Inês – Dançarino, Músico, Actor




Tem um reportório de estudos incrível. Estudou dança moderna e clássica. Psicologia. Tem participado em várias peças de teatro e cinema. E ainda, é musico.

De que forma a conjunção das várias disciplinas funcionaram como precursoras das restantes; existe uma linha condutora?


A linha condutora é o “fazer para mostrar”. Depois de frequentar o curso de psicologia decidi estudar dança. Fi-lo em Lisboa e Frankfurt. Trabalhei como bailarino baseado em Amesterdão durante muitos anos. Gradualmente e devido a um conjunto de factores, fui gravitando para o teatro. E é entre o teatro e o cinema que trabalho hoje em dia. Espero poder continuar a fazê-lo até ao fim dos meus dias.


Silence is a Boy é a banda musical que criou com algumas pessoas amigas depois de lhes mostrar o que ia fazendo um pouco à laia de passatempo. Como surgiu a ideia de escrever as letras em forma de personagem de história fictícias? Existe alguma relação com as outras vertentes da sua experiência profissional?


A minha vontade de me expressar musicalmente vem do mesmo sítio que o meu amor ao teatro e ao cinema. E à literatura e à pintura e à história e à filosofia e à arquitectura, etc. Quase tudo tem a ver com a minha experiência profissional.

Sobre a primeira pergunta, eu quando escrevo letras estou a escrever ficção e acho que faço parte da maioria. É claro que a minha biografia informa a maneira como escrevo ficção. Mas, em geral, a ficção também informa a minha biografia.


Representou no filme e série “Os Maias: Cenas da Vida Romântica.”

Que importância teve para si ter representado o Egas e ter representado uma obra de Eça De Queiróz?


O personagem escrito pelo Eça de Queiroz chama-se João da Ega. O Egas é, talvez, o Doutor Egas Moniz?

Não há amor como o primeiro. É o meu primeiro filme. A primeira vez que trabalhei com o João Botelho. Aquela equipa ficou-me cravada no coração. Como família.

Em relação à obra, é de um prazer técnico enorme poder articular este texto nestas circunstâncias e com este objectivo, um filme.


Participou na série “Sul”.

O que nos pode falar sobre a sua personagem violenta, duma série sobre uma realidade tão dura, com tanta violência, mentira, desigualdade?


A minha personagem no Sul não era de todo violenta. Estar-me-á, por ventura, a confundir com um colega, de feições também aquilinas, de seu nome Isac Graça?

A personagem que interpreto é a de marido da inspectora da PJ. Enfermeiro, desempregado, pai recente.


No primeiro confinamento recitou o Monólogo adaptado do texto "O Que É O Neo-abjeccionismo" do Luiz Pacheco e no campo da representação, fez de Luiz Pacheco na série “3 Mulheres” sobre a dictadura portuguesa, e também representou na série “A Espia”. Como foi dar vida e voz ao Pacheco e recitá-lo?

Como é para si poder trabalhar a dicotomia da história da censura e da liberdade?


O Pacheco e o Ian Fleming nunca se sentariam à mesma mesa, tê-los na mesma pergunta é deveras vertiginoso.

O Pacheco é um personagem muito importante na história da literatura portuguesa do seculo XX. Existem muitas lições na sua biografia.

Nunca trabalhei, realmente, a dicotomia da história da censura e da liberdade.


Para além destas séries históricas participou também no filme “Peregrinação” ambos também trabalhos sobre a história portuguesa.

Que importância teve para si este trabalho sobre este período da história Portuguesa?


Para além da importância Primeira que é fazer cinema, estar a trabalhar com gente incrível, colaborar e contribuir, a importância para mim deste trabalho é ter tido a oportunidade de estudar o século XVI e ser pago por isso. É o século da expansão marítima, do Leonardo Da Vinci, do Camões e do Shakespeare. E é também um século de incontáveis barbaridades.


Participou como narrador nas comemorações “Os 100 Anos de Amália” no Centro Cultural de Belém

Como foi para si participar como narrador Dos 100 anos da Amália, a voz do Fado?


No passado mês de Dezembro eu participei num espectáculo musical, pensado e encenado pelo João Botelho que se chama “Amália, a voz maior que o fado”.

O meu papel é o de narrador/apresentador que faz a ponte entre o vários interpretes musicais. Foi um prazer e um privilégio enormes poder ver a Ana Quintans, a Luz Casal, o Camané, o Ricardo Ribeiro, o Mário Laginha, o Carlos Manuel Proença, o José Manuel Neto e muitos outros a trabalhar de tão perto.


Durante o primeiro período dos recentes confinamentos, realizou alguns vídeos, como a leitura do Capítulo II Do Nome De Guerra de José Almada Negreiros e aproveitou um dos momentos épicos do Big Brother e fez igualmente um vídeo.


Na sua opinião, que importância tem para si poder trabalhar a poesia e o humor em tempos de confinamento como temos vivido de forma intermitente?


Eu não faço leituras. Há quem faça leituras muito bem. Eu trabalho textos, incorporo-os e apresento-os a encenadores, realizadores ou directamente ao espectador.

Como eu vivo a 2500km de Lisboa, já há muitos anos que estou habituado a trocar ideias e a colaborar artisticamente electrónicamente através da troca de ficheiros de texto, som e vídeo.

Durante o primeiro confinamento, resolvi apresentar três vídeos que trabalham cada um à sua maneira a questões levantadas ou impostas por tais circunstâncias.


E finalmente, quais são os seus sonhos para Portugal?


Eu sonho pouco, mas quero um Portugal europeu, com um SNS vigoroso e um plano educativo e escolar equilibrado e modernizado. Quero que taxem os cabrões dos ricos e que protejam os pobres e os fracos. Quero um Portugal que vai ao cinema e ao teatro e que lê livros no trânsito em vez de estar a brincar com rebuçados no telefone.

Um país em que jogar na raspadinha é um hobby da terceira idade não precisa de sonhos, precisa de um pontapé no cu.


https://www.instagram.com/real.pedro.ines/

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: Ana Filipa Monteiro

26 de Abril De 2021

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