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Entrevista a Luís Filipe Borges – Actor, Escritor, Argumentista



Foste apresentador, co-apresentador dos programas “Sempre Em Pé”, “Revolta Dos Pastéis De Nata”, “5 Para A Meia Noite”, “Conta-me História” e escreveste as séries da RTP “Conta-me Como Foi”, “A Rede”, “Liberdade XXI”, “Não Me Sai da Cabeça”, “Aqui Tão Longe” e “O Mundo Não Acaba Assim”.

Em que medida estes programas e trabalhos como argumentista, apresentador e humorista te têm ajudado a crescer e a desenvolveres-te?

São a minha vida, a minha âncora profissional e a rede de segurança preferida. Abordar sozinho e em silêncio aquele cursor piscante num écran branco que espera; ou estar num palco, só com as minhas palavras e ideias. Nunca é monótono, nunca é repetitivo, depende sempre de ti.


Referiste-me que és “completamente anti “novo acordo”. Na tua opinião, como escritor, argumentista, actor, de que forma o novo acordo tem prejudicado a língua e como é possível lutar e reverter os danos que tem causado?

É um atentado patético, decidido por burocratas tachistas, sem quaisquer efeitos práticos que não sejam o ruir atabalhoado da Língua (e desafio quem quer que seja a dizer-me que autor português o Brasil começou a ler por causa deste Desacordo…). A forma de lutar é a desobediência civil.


No primeiro confinamento escreveste para o programa de humor “Chamadas para a Quarentena" e, com alguns amigos, criaram “O Mundo Não Acaba Assim". O que representeou para ti

poderes criar e participar nestes dois programas que pegaram, simultaneamente, na arte, no humor, nas questões do dia-a-dia, nos medos e nos comportamentos em resultado da pandemia?

Foi um privilégio notável porque trabalhei com pessoas de quem muito gosto e tanto admiro; porque é raríssimo num país como o nosso ver um conceito ser decidido e aproveitado em tão pouco tempo (gratidão, por isso, à RTP); e ainda porque se tratou de algo que começou por mera brincadeira, amor à camisola (queríamos muito fazer algo juntos, já agora enfrentar dalguma maneira criativa a época incerta pela qual todos passávamos), e acabou por se tornar num projecto profissional onde escrevemos, realizámos e contámos com o talento de largas dezenas de actores brilhantes.


Com o Nuno Costa Santos fizeste a série documental “Mal Amanhados - Os Novos Corsários das Ilhas” que, depois, foi igualmente editado em livro. Como correu esta experiência de mostrar as histórias, vidas e obras dos Açores de lés a lés? Que importância teve e tem para ti este programa que há muitos anos desejavas fazer?

É o projecto da minha vida, uma fantasia que acalentava desde os tempos da faculdade. Foi a minha estreia como produtor, e ainda escrevi, montei, narrei, apresentei, ah, e… conduzi a carrinha (risos)! Não podia estar mais orgulhoso desses 4200 kms percorridos pelas 9 ilhas. Ultrapassou os meus sonhos mais loucos. Cada episódio foi visto por pelo menos meio milhão de pessoas, o livro está prestes a entrar na 3ª edição e o feedback é avassalador e comovente. Há novas sementes a serem plantadas em relação a esta aventura, que não ficará por aqui, e tratou-se do primeiro programa com a chancela da RTP-Açores – em 37 anos – a ser exibido pela RTP1.


Criaste dois documentários: um sobre o arquitecto Souto Moura e o outro sobre o artista plástico Manuel Cargaleiro. O que te motivou no trabalho deles e o que aprendeste com as suas obras?

Sou director de conteúdos da Clara Amarela Films e temos tido a boa fortuna de conseguir ganhar sempre alguns projectos documentais nas Consultas de Conteúdos da RTP. Em Souto Moura fascina-se a busca incessante, obsessiva, pela perfeição; e em Cargaleiro seduziu-me a sua ingenuidade e alegria. Quer um quer outro são artistas totais, sem peneiras nem vícios nem poses. E, como alguém que é essencialmente visto como comediante, agrada-me (e realiza-me) quebrar o molde, furar o rótulo que me é imposto. Temos outros documentários na calha. Por exemplo, encontramo-nos a filmar com Eunice Muñoz e Ruy de Carvalho, o que faz com que tenha de me beliscar frequentemente para ter a certeza de que está mesmo a acontecer (risos)…


Quais são os teus sonhos para Portugal?

Utópicos. O regresso da ética republicana, o fim do clientelismo, o respeito pela cultura, o incentivo e premiação do mérito. Nunca acontecerá, mas como sonhar ainda não paga imposto…



Obrigado pelo teu tempo, votos de bom trabalho.


Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques

Correcção: Fátima Simões

29 De Junho de 2021


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