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Entrevista a Bruno Gascon – Realizador

“O que acontece quando estamos sós? Boy é um thriller psicológico sobre privação de liberdade e o que acontece quando a solidão se apodera do ser humano.” (http://www.cinept.ubi.pt/pt) Que importância dá a estes problemas da solidão e da privação da liberdade?

Todos os meus filmes reflectem sobre o ser humano, psicologia e interacções sociais, por isso a solidão e a privação de liberdade fazem parte da lista de temas que me dizem muito. Na nossa sociedade, ou seja, no mundo actual, de uma forma ou de outra são sentimentos que existem em todos nós mesmo que nem sempre tenhamos noção disso. A minha intenção no "Boy" era mostrar precisamente isso e que muitas vezes somos nós que restringimos a nossa própria liberdade.

“New York, New York New York, New York is a small short film about dreams, hopes and about what truly matters in life: the journey you made and not the destination”. Continua a ser uma reflexão dos dias hoje?

De certa forma continua a ser uma reflexão actual. Cada vez mais vemos pessoas a arriscarem fazer os seus próprios projectos. Essa curta acaba por ser uma metáfora para a necessidade de cada um de nós lutar para conseguir tornar real aquilo com que sonhamos, no entanto eu acabo por nem considerar esse projecto como uma das minhas curtas pois foi algo feito de improviso com o actor e num contexto muito específico.

Realizou a curta Vazio que aborda os problemas de depressão e a Linha SOS Voz Amiga, a incompreensão, o desespero. O que o motivou a abordar este tema? Para si era um tema urgente a ser tratado e mostrado? O que nos pode falar sobre ter transmitido um pouco do trabalho da SOS Voz Amiga?

Na altura em que escrevi a curta vivíamos sob uma grande depressão devido à crise. O trabalho da SOS VOZ AMIGA era por isso mais necessário do que nunca, no entanto, tal como muitas outras instituições tinham falta de meios e de voluntários para darem resposta a todos os que deles necessitavam. Assim, a minha intenção era numa primeira instância mostrar a espiral de sofrimento que pode engolir uma pessoa que esteja a pensar em suicídio e mostrar o quão essencial e heróico é o trabalho da SOS VOZ AMIGA. Acho que ainda hoje este é um tema que precisa de mais atenção.

Realizou o filme Carga. Já falou várias vezes sobre o filme e sobre o foco do filme, o tráfico de seres humanos a partir duma máfia. Acredita que pode despertar o público em geral para esta problemática?

Acredito que conseguimos na verdade despertar as pessoas para este tema. Não só por termos sido um dos filmes mais vistos do ano passado, mas por toda a cobertura mediática que o filme conseguiu. Quando procurávamos financiamento para o filme, muitas portas foram mais difíceis de abrir e outras nem sequer se abriram porque diziam que este problema era um drama de terceiro mundo e que as pessoas não iriam querer ver algo tão pesado num filme. No entanto é com alegria que vejo que depois da estreia do filme vários projectos televisivos (novelas é séries) foram buscar este tema para os seus enredos. Gosto de acreditar que lhes abrimos portas para terem liberdade para focar algo mais pesado e que sem dúvida tem que ser falado. O poder da ficção pode ser de extrema relevância para a conscencialização, prevenção e combate ao tráfico de seres humanos.

O que aprendeu sobre o processo e o que tem aprendido até agora?

A "Carga" ensinou-me muito a todos os níveis tanto em termos de cinema, como em termos de humanidade. Graças ao meu primeiro filme encontrei o tema do meu próximo filme e pessoas com quem sem dúvida quero continuar a trabalhar. Mas a aprendizagem, claro, essa continua e vai continuar sempre todos os dias pois é a única forma de evoluir.

O facto de trabalhar os temas das migrações, dos problemas sociais, do tráfico de seres humanos, para documentários na RTP 1 e 2 de há 10 anos para cá, de que forma o ajudaram a concretizar o filme Carga?

O facto de ter estado em contacto com pessoas que passaram por este tipo de problemas fez-me decidir que a minha primeira longa metragem seria a "Carga", deu-me também consciência do quão importante é existir um cuidado e um realismo extremo quando focamos estes temas tão sensíveis, pois fazer menos do que isso é desrespeitar o sofrimento alheio.

O que o leva a abordar temas tão importantes, e problemas tão graves na vida de muitas pessoas?

Fazer um filme é um processo doloroso. Desde a escrita à sua finalização. No meu caso, como escrevo os filmes que realizo gosto de abordar temas que me façam pensar e que me coloquem questões. Acho que existe muita coisa que tentamos colocar longe da nossa vista por ser mais fácil para continuarmos a viver, no entanto, eu acredito que só podemos evoluir enquanto sociedade se falarmos sobre todos estes temas, daí a minha escolha como realizador em focar-me neles.

Quais são os seus sonhos para Portugal?

Os meus sonhos são continuar a fazer mais e melhor seja em Portugal como em outra parte do mundo. Ainda tenho um longo caminho a percorrer e muita coisa para aprender. Quero e vou fazer mais filmes que me desafiem e desafiem o público. Acredito que os sonhos se podem concretizar se trabalharmos muito todos os dias para que isso aconteça.

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: João Aristides Duarte

06 de Abril de 2019

06 de Abril de 2019

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