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Entrevista a Luís Pinheiro



(It Gets Better Portugal entre 2015 e 2017 Foi um dos fundadores e Vice-Presidente desta Organização Não Governamental (ONG) sobre os direitos LGBTI e agora está no projecto Gis – Centro de respostas para a comunidade LGBTI, que é um dos projectos da associação Plano I. Como têm sido estes trabalhos e este envolvimento nos direitos, na protecção e ajuda das pessoas LGBTI e que importância têm para si?

Desde muito novo que penso que é necessário termos uma voz ativa na sociedade, de fazermos algo por aquilo que acreditamos ser o mais correto, não sermos apenas os críticos de bancada. Neste seguimento, algures entre 2014/2015 recebi um convite para fazer parte de um coletivo de jovens que tinha como intenção transformar o projeto Tudo Vai Melhorar Portugal numa associação. Foi um período bastante importante na minha vida, primeiro porque foi o meu primeiro contacto com o associativismo LGBTI e depois porque tive a oportunidade de conhecer e de trabalhar com pessoas com visões muito dispares da minha. Constituiu-se como uma experiência muito enriquecedora tanto a nível pessoal como profissional. Foi no âmbito do Tudo Vai melhorar que fomos convidados para o segundo encontro anual da associação Plano I, nesse encontro tive oportunidade de conhecer o centro Gis e o trabalho que iria iniciar em Matosinhos. Passado alguns meses surgiu um concurso para psicólogo no centro Gis ao qual concorri e felizmente fiquei em primeiro lugar consequentemente encontro-me a trabalhar neste projeto. A luta pelos direitos LGBTI e a luta pelos direitos Humanos são exatamente a mesma. Quando discutimos estas questões temos a ideia que estamos a discutir para uma minoria e esquecemo-nos do quadro maior, dos direitos fundamentais independentes da orientação sexual ou identidade de género das pessoas.

Neste momento são vários os casos de psicólogos, psiquiatras, médicos e outros que fazem “tratamentos de cura”. Que danos pode causar o facto de se trabalhar em comunidades LGBTI, sobretudo com jovens?

Qualquer profissional tem de seguir a sua conduta com base no que é cientificamente validado, neste sentido, e visto que não existe validação científica nas terapias de reconversão ou de reorientação sexual, não me parece viável falar nessas abordagens. Apenas digo que qualquer intervenção psicológica que crie mau estar ao utente encontra-se proibida pela Ordem dos Psicólogos Portugueses. Contudo é importante não nos esquecermos que a comunidade LGBTI foi e ainda é vítima de um estigma e discriminação muito grande, como tal, surgirem “profissionais” que defendem este tipo de abordagem apenas vai prejudicar os processos de aceitação que muitas vezes as pessoas LGBTI ainda estão a realizar.

Esteve entre 2015 e 2017 com o projecto” Tudo Vai Melhorar”, que trabalha para mostrar aos jovens LGBTI os níveis de felicidade, potencial e positivismo que as suas vidas poderão alcançar. O que nos pode dizer sobre a experiência deste projecto?

Como já tinha dito anteriormente a minha participação no Tudo Vai Melhorar foi muito enriquecedora, tanto pessoalmente como profissionalmente, conheci muita gente da comunidade LGBTI. A grande diferença do TVM para outros projetos era o prisma positivo que tinha, ou seja, transmitir a ideia que independentemente da orientação sexual e identidade de género cada jovem podia aspirar a ter os mesmos sonhos e objetivos da sociedade maioritária. Ainda utilizo muito material criado pelo TVM (It gets better Portugal) nas minhas formações, alias aconselho vivamente a quem ler isto a fazê-lo. Existem duas minisséries fantásticas (Já melhorou / Vamos falar?) totalmente gratuitas no youtube.

Que diferenças sentiu na vida dos jovens LGBTI?

Por ser um projeto online é muito difícil percebermos o impacto real existente do mesmo mas o que tenho a certeza é que as narrativas e as séries criadas pelo It gets better Portugal servem para moldar o pensamento sobre as questões LGBTI. Neste sentido acho que não afetou apenas a vida dos jovens LGBTI, afetou e continua a afetar a vida de todas as pessoas que tem contacto com o projeto.

Acredita que esse projecto pode ser uma mais-valia para tantos jovens LGBTI que ainda sofrem homofobia, transfobia, ou outro tipo de violência?

Existem vários projetos a nível nacional que servem como mais-valia para os jovens LGBTI e claro que o trabalho realizado pelo It gets better Portugal é um deles. Existem outras associações e coletivos que fazem um trabalho fabuloso, a associação plano i, a Ilga Portugal, a casa Qui, rede ex aequo, amplos, opus gay, portugalgay.pt, panteras rosa, blergh e tantos outros/as, cada um com os seus objetivos e método de trabalho, mas todos/as com um trabalho meritório na área.

Deu formação sobre orientação sexual e identidade de género e Violência Doméstica entre Pessoas do mesmo Sexo em Coimbra e Aveiro. Para si, como é trabalhar estas problemáticas tão delicadas?

Além de psicólogo sou formador e tive oportunidade de participar num projeto de capacitação da AKTO tendo realizado 2 cursos sobre orientação sexual e identidade de género e uma de violência doméstica entre pessoas do mesmo sexo para públicos estratégicos, foi uma experiência única trabalhar com outros/as técnicos/as estas questões, aprendemos muito a dar formação, aprendemos outras visões. Considero extremamente importante estes momentos de formação e reflexão sobre estas questões e espero num futuro mais próximo que seja algo mais generalizado. Discutir direitos humanos nunca é tempo perdido.

De que forma é que devemos estar alerta sobre estas problemáticas?

Todos/as nós temos uma responsabilidade com o próximo e com tudo que nos rodeia, temos o poder de intervir e mudar o meio em que estamos inseridos, por exemplo a violência domestica é efetivamente um problema de todos e de todas nós, todos/as temos a obrigação de denunciar, temos de ter uma intervenção mais ativa na sociedade e deixar de estarmos focado apenas em nós e nas nossas vidas.

Como formador e como psicólogo, como é possível combater a violência doméstica?

A violência doméstica é um problema estrutural multidimensional e multifatorial, não é só a psicologia que tem que dar resposta, mas sim um conjunto de áreas, temos de trabalhar em equipa para combater este flagêlo social. A VD é um fenómeno que sempre existiu na nossa cultura, só que antigamente era pouco identificado e estas realidades ficavam dentro ambiente familiar, com muito trabalho começou a ser trazido ao debate público … e ainda bem que o foi feito, não nos podemos esquecer que a base da violência de género é a própria desigualdade de género, a existência e manutenção dos estereótipos de género que dão ao homem uma supremacia sobre a mulher… basta olhar-mos para os dados para percebermos que a VD é um crime de género, no sentido Homem para mulher, não quer dizer que não existam mulheres agressoras nem homens vítimas… porque claramente existem, mas os dados apontam claramente um sentido na VD.

Como é que acha que a formação sobre orientação sexual e de género pode ser determinante para a sociedade?

A sociedade para evoluir tem de ter conhecimento, imbuir conhecimento especializados em técnicos que diariamente se confrontam com realidades tão diferentes é um grande passo. Não podemos culpabilizar os profissionais que não tiveram comportamentos mais corretos com as pessoas LGBTI quando muitas vezes nunca pensaram ou sequer estudaram sobre esta área de estudos. A formação profissional contínua é uma arma de mudança com um poder incalculável para a mudança da sociedade.

Quais são os seus sonhos para Portugal?

Espero que Portugal se torne um País de maior inclusão, onde independentemente da nossa orientação sexual, identidade ou expressão de género não nos seja vedada as oportunidades. Que uma criança que nasça na Foz (Porto) tenha as mesmas oportunidades de vida que uma que nasça no Cerco (Porto). Que o estado se torne cada vez mais social, e que deixe de ver as pessoas como números. Que o nosso sentido de comunidade cresça, que aceitemos os outros como iguais… Que sejamos responsáveis em ajudar os refugiados e todos que procuram no nosso país um porto seguro. Acima de tudo que sejamos mais humanos.

Obrigado e continuação de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista por: Pedro Marques

Correcção por: Fátima Simões

27 de Fevereiro de 2019

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