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Entrevista a Mariana Violante do Grupo 32/Leiria da Amnistia Internacional


Foste recrutadora do projecto “Face to Face” e já tens contribuído depois disso para o próprio projecto. Como tem sido estimulante dar a cara pelo mesmo? Através deste projecto, que ideias/ colaborações têm surgido?

1- O Face to Face foi a melhor porta de entrada que poderia ter tido para a minha participação na Amnistia Internacional. É um projecto exigente que nos obrigada a saber tudo, ou quase tudo, sobre o trabalho da Amnistia, para poder responder às dúvidas das pessoas que procuramos trazer como apoiantes para a organização. Com o Face to Face obtive um treino muito importante, que me permitiu ser coordenadora do grupo de Leiria e depois candidatar-me a órgãos sociais da Amnistia portuguesa. Tem sido, portanto, muitíssimo estimulante para o meu trabalho na organização.

Há cerca de 10 meses entrevistaram várias personalidades de Leiria sobre a situação dos refugiados do Médio Oriente e partilharam uma mensagem dos jovens do Colégio Dr. Luís Pereira da Costa para o governo, para que os refugiados não sejam tratados como mercadoria. Para ti, que importância tem abordar-se o tema dos refugiados e a sua constante miserável situação? Como é que iniciativas como estas podem ser uma mais-valia para se consciencializar a população acerca da situação dos refugiados?

2- Cada pessoa com quem falamos sobre a questão das pessoas refugiadas é um potencial novo aliado na luta por melhores condições de vida para todas as pessoas, e cada vez que falamos com a população portuguesa é uma oportunidade para esclarecer mitos que se vão cristalizando em alguns círculos menos esclarecidos quanto a esta questão. O nosso trabalho com as escolas é importantíssimo nesse sentido. E vale a pena dizer que Portugal é dos países europeus com a população mais acolhedora e onde a sociedade civil se vai organizando como pode para ajudar quem mais precisa. É, portanto, um bom país para se pressionar os governantes a fazer mais pelas pessoas refugiados, uma vez que ainda há muito por fazer.

No início deste ano foste com o José Tavares fazer uma sessão à Escola Calazans Duarte, sobre as Comemorações da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Houve uma apresentação de uma aluna sobre os direitos das mulheres (1). De que forma é que estas sessões e intercâmbios de ideias e projectos podem dar a conhecer a violência e os ataques aos direitos humanos e das mulheres? É importante e essencial?

3- O nosso grupo tenta fazer o máximo de acções em escolas, porque acreditamos muito no potencial da Educação para os Direitos Humanos (EDH). Desde o início, o tema da discriminação de género é um dos principais pontos de abordagem, através de várias campanhas da Amnistia, e temos tido várias sessões muito bem sucedidas neste campo. Também já fizémos uma exposição sobre o tema, “A Violência de Género Começa Numa Piada” que tem ainda hoje reações muito positivas e já passou por vários pontos do país. É um trabalho, a meu ver, absolutamente essencial para fazer pensar a violência a que as mulheres estão constantemente

sujeitas na nossa sociedade.

Estás inserida na Rede de Acção Jovem da Amnistia Internacional (ReAJ). Como é que tem sido esta experiência? Como coordenadora do Núcleo de Leiria e como colaboradora desta Rede, de que forma é que estes projectos são enriquecedores para os jovens?

4- Desde que regressei a Leiria que não faço parte da ReAJ, embora colaboremos com eles em algumas acções. O próprio grupo de Leiria é muito jovem e concebe sempre as duas acções a pensar na juventude, uma vez que acreditamos que a nossa força de Activismo será tanto maior quanto mais jovens participarem nela, uma vez que os jovens representam uma importante faixa etária da população e tem uma tremenda capacidade de mobilização. Além disso é para eles/as que queremos criar um mundo mais justo e de plenos direitos. Faz sentido que sejam as camadas jovens a tomar as rédeas do Activismo, dando o exemplo aos mais velhos e aos ainda mais novos.

O Núcleo de Leiria recomeçou há um ano, e estás na Amnistia desde 2012. De acordo com esta experiência, como é que tens visto a luta contra a violência, principalmente a violência exercida sobre as mulheres? O que tens aprendido e como é que as lutas que tens travado têm sido enriquecedoras para a tua formação enquanto mulher e enquanto coordenadora?

5- Neste momento já não sou coordenadora do grupo, mas independentemente disso, todos/as no grupo temos como uma das principais questões a tratar a violência de género. O nosso trabalho foca-se também em desconstruir o status quo societal que ainda permite tanta violência contra as mulheres. No meu caso pessoal, sinto que a Amnistia é uma organização que me permite defender os meus valores feministas com efeitos muito concretos nas vidas das mulheres que ainda sofrem várias discriminações e abusos. A abordagem da organização procura pôr de lado moralismos e ideologias, com o fim último de tratar dos problemas concretos das mulheres que são vítimas de violência doméstica, estatal, sistémica. Da mulher que sofre em casa em silêncio.

Da mulher que não tem agência sobre a sua vida e por isso não pode escolher se quer ou não casar e ter filhos. Da mulher que não pode decidir quando já não quer ter mais filhos, quer através de acesso a contraceptivos e cuidados de saúde, quer quando precisa de recorrer a um aborto. Da mulher que é vítima de tráfico sexual, porque a sociedade ainda não está preparada para falar abertamente sobre prostituição, empurrando-a para as profundezas da exploração. Tudo isso são temas com os quais trabalho na Amnistia, que são da máxima urgência. Aprendi e aprendo muito sobre esta realidade todos os dias.

Quais são os teus sonhos para Portugal?

6- Para responder a esta pergunta não me chegava o tempo de antena que tenho, certamente! Tenho muitos sonhos. No que diz respeito aos Direitos Humanos, e mais concretamente aos Direitos das Mulheres, sonho com o dia em que os direitos que já estão consagrados na lei se traduzam em comportamentos. Com homens que sejam aliados das mulheres, em vez de se queixarem que andamos a ser chatas com esta conversa do feminismo. Com crianças que sejam educadas em casa e na escola para serem parceiras e solidárias, sem terem coisas de menino e de menina, num mundo completamente cristalizado a azul ou cor de rosa. E sonho que a luta das mulheres se transforme também numa luta interseccional, que abranja também as lutas LGBTQI+, as lutas das pessoas racializadas, as camadas esquecidas da população portuguesa, que não são poucas. Ainda há muitas lutas para fazer em Portugal, e em todas elas as mulheres terão um papel preponderante.

(1) Com o título “Todos os homens são iguais… mesmo as mulheres."

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: Jú Matias

08 de Agosto de 2018

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