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Entrevista ao Paulo Pereira

Entrevista ao Paulo Pereira entre várias coisas Músico, Investigador, dinamizador cultural, Botânico, Biólogo e Ecólogo

Começou o “Andanças” depois de ter tido conhecimento das danças através do Erasmus. De que forma foi importante a sua insistência com os seus amigos para a criação do “Andanças” e que importância tem para si a partilha de das danças tradicionais, teatro, música, através do Andanças e da “Pé de Xumbo” da qual foi presidente? De que forma estes trabalhos o fizeram crescer?

O objectivo inicial foi o de criar um movimento folk em Portugal, assente em três pilares: as danças (folk, populares, portuguesas), os instrumentos tradicionais e a música. Por isso a motivação foi sempre muito grande, porque sabíamos estar a partir pedra, a fazer algo de novo. Para a questão dos instrumentos foi criado mais tarde o encontro de tocadores, pequeno evento de grande impacto, já que contribuiu para a recuperação de instrumentos como a viola campaniça ou a flauta de tamborileiro. Mas para a música e dança, o Andanças foi e é um evento de referência em Portugal. Só por curiosidade, o meu critério de programação dos grupos nos primeiros 9 anos de Andanças tinha pouco a ver com as danças populares; convidei grupos que sabia que tocavam o tempo todo e pela noite adentro. Este facto foi muito importante para pegar o bichinho da música tradicional a muitos portugueses. O critério de programação para a dança tinha a ver com os mestres de dança convidados, que se queria o mais abrangente possível.

É investigador na área da Ecologia o que tem aprendido e através do “Andanças” do “Macromia”, Ideias Sustentáveis e outros projectos em que esteve e está inserido como foram fundamentais para a sua aprendizagem e partilha de conhecimentos?

Sim, sou biólogo, botânico e ecólogo. Tenho uma vertente mais técnica, onde por exemplo agora estou a trabalhar para fazer a Lista Vermelha da Flora de Portugal, mas tenho uma vertente de partilha de conhecimentos, que exerço através de projectos como a Rota da Água e da Pedra (http://rota-ap.pt) e também como guia (em eventos turísticos, de conservação de natureza, com amigos, festivais de natureza, etc). Esta partilha é para mim essencial, já que sou um apaixonado pela natureza, e esse fogo está sempre presente nos passeios interpretados que faço.

Tem o projecto “Macromia” em que dinamiza a Natureza, o ecoturismo, rotas, estudos ecológicos e ambientais. Para si como é enriquecedor e fundamental promover a natureza, a ecologia, a cultura, a valorização do património?

Sim, sem dúvida. Acredito que a partilha do nosso património natural e cultural é fundamental para desenvolver o gosto das pessoas por tudo o que nos rodeia. Essa vivência a meu ver é curativa, e aprofundarmos a nossa ligação às nossa raízes e às raízes da natureza é absolutamente fundamental para a nossa sobrevivência como espécie. Sou um radical militante, no sentido de aprofundarmos as nossas raízes à Terra e à Cultura.

Escreveu o livro “RIOS, Ecoguia para a descoberta do Vouga”. O que levou a querer dar a conhecer o Vouga através deste livro, e no Andanças dava a conhecer por exemplo as serras de S. Pedro do Sul. Como é enriquecedor podermos conhecer melhor as nossas terras e gentes?

É absolutamente necessário descobrirmos e conhecermos o nosso património. Só esse conhecimento nos permite olhar com respeito para tudo o que nos rodeia, em última análise, para o próprio universo. Fiz esse livro e mais tarde coordenei ainda o do património natural de Vouzela, onde a abordagem é semelhante. São projetos que resultam de um esforço para valorizar o território onde me encontro do ponto de vista natural, porque acredito que esse é um activo muito importante para o futuro desta região e das populações que aqui vivem.

Tem nas notas do seu facebook textos sobre os recibos verdes, porque foi e é crucial para si abordar este tema, como quem vive como trabalhador independente e como alguém criador duma empresa? O que podem e devem as pessoas conhecer sobre os recibos verdes?

Eheh. Sim, porque na minha vida activa trabalhei 95% a recibos verdes. Tem a ver com uma necessidade de justiça que me é quase patológica. No caso dos recibos verdes, finalmente começam a dar alguns passos para que sejam mais justos, mas até ao momento, éramos tipo os sem abrigo do sistema contributivo português. Pagamos muito e não temos direito a quase nada. Sou militante de causas que considero justas, como a floresta autóctone (em detrimento das plantações) ou a independência da Catalunha.

Esteve 12 anos nos “Uxukalhus”, esteve também no “NO MAZURKA BAND” e leva cerca de 20 anos a promover a música tradicional. O que representa para si tocar a música tradicional, música Folk, recriá-la e poder promovê-la? Como tem sido esta viagem da música pelos palcos de Portugal e além fronteiras?

A música para mim é e será sempre uma parte muito importante da minha vida. A música tradicional motiva-me por ter a ver com as nossas raízes, e o trabalho que tenho feito com esses grupos foi basicamente de reinvenção das nossas tradições. O gozo que isso me dá está muito para além dos concertos e das retribuições financeiras. A música tem para mim também uma importante dimensão espiritual, que permite estreitar a minha conectividade com o Universo. Curiosamente, nos últimos tempos tenho feito música de todo o mundo (norte de áfrica, Cabo Verde, América do Sul, ilhas do pacífico), composto para bandas sonoras de pequenos filmes de natureza, e tenho também feito mais música clássica. Para mim tocar música é absolutamente imprescindível, e é-me impossível estar mais de 3 ou 4 dias sem tocar. Cada vez mais, a síntese da minha vertente musical e natural é simples, e mesmo quando faço interpretação da natureza há sempre um momento musical.

Quais são os seus sonhos para Portugal?

Sonhos de prosperidade e de progresso social. Poderia falar de muita coisa, mas acho que o mais importante por fazer é uma dinamização do interior e do campo, que pode ser feita de muitas maneiras, mas a regionalização seriam um bom primeiro passo. Sou um otimista compulsivo, e acredito que cada vez mais virá gente para o interior, para as aldeias e para as serras, se houver algum tipo de incentivo. A nova agricultura, o turismo, os empregos desde casa, a industria amiga do ambiente, estão hoje acessíveis fora dos grandes centros urbanos; se esta dinâmica for acompanhada por alguma modernidade (boa conectividade, apoio às famílias, escolas, apoio às empresas, etc), com certeza que muitas famílias saíram dos grandes centros urbanos. É que a qualidade de vida é infinitamente superior no Portugal rural. E é isso, o meu desejo para Portugal, um desenvolvimento para fora do litoral, harmonioso e em respeito pela natureza.

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques Correcção: Paulo Tojeira

2 de Janeiro de 2018

02 de Dezembro de 2018

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