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Entrevista a João Maria Pinto – Cantor e Actor



Este ano, com o grupo Teatro a Barraca, estrearam a peça “Tartufo”, de Moliére, uma peça com linguagem cómica que aborda as relações humanas que envolvem a religião, o poder, a ascensão social, a manipulação de valores e sentimentos e a falência da ética moral necessária para a solidez do tecido social da actualidade deste texto. Uma sátira que aborda o contraste/cumplicidade entre a hipocrisia e a credulidade. O que significa para si poder representar esta peça que aborda temas tão cruciais para a reflexão sobre a sociedade dos nossos dias?

TARTUFO

Os textos de Moliere são clássicos e como tal representam-se em qualquer época com a mesma carga crítica. Foi um êxito absoluto em Lisboa e em todos os locais onde foi representado este TARTUFO.

Para “A Barraca” também representou peças a partir de autores como Frederico Garcia Lorca, Gabriel Garcia Márquez, José Saramago ou Zé do Telhado: Querido Che, Pedro e Inês, Afonso Henriques… Esta última aborda, entre outros temas, duas realidades culturais. Como se sentiu por poder representar peças destes autores, e estes temas sobre guerreiros e revolucionários?

AFONSO HENRIQUES

É sempre um prazer revisitar temas históricos e construir personagens dessas época e distantes. Foi sobretudo uma aprendizagem. Neste lote de peças, tenho particular carinho pelo Zé do telhado que foi a minha estreia profissional como actor/músico e também inesquecível pelo contacto com o saudoso Zeca Afonso.

Participou nas séries Ballet Rose, Conta-me Como Foi, a curta Cowboys na António Maria Cardoso, o filme Assalto ao Santa Maria, As Ondas de Abril, a peça 1936 O ano da morte de Ricardo Reis, todos trabalhos sobre o fascismo ou relacionados com ele. Como lidou com o facto de representar nestes trabalhos sobre um período tão negro e horrível da nossa história? Que aprendizagens tirou destes trabalhos?

SOBRE O FASCISMO

Sou do tempo em que a luta contra o fascismo se fazia sentir e naturalmente tendo sofrido na pele os horrores de uma guerra a todos os título injusta, não podia deixar de me sentir confortável ao criticá-lo em diversas representações.

Representou também para as séries João Semana e Ferreirinha. Foi motivador e enriquecedor para si participar numa série sobre uma mulher que revolucionou o Douro e numa série sobre Júlio Diniz e a forma como faz ligação ao mundo moderno, mas hesitante e medroso?

FERREIRINHA

Fui educado numa família que possui fortes ligações ao Douro. Naturalmente defendo o papel da mulher em qualquer sociedade e foi com enorme prazer que trabalhei neste projecto.

O que sentiu ao dar vida a uma personagem em Velhos Amigos, nesta história/série de aventura, que trata temas como o direito que os idosos têm a viver, o abandono dos pais pelos filhos como é o caso da sua personagem, numa série que também vinca muito a amizade?

VELHOS AMIGOS

Velhos amigos foi mesmo um encontro muito especial de velhos amigos...Actores que admiro muito e com os quais adorei trabalhar. Embora defenda que os filhos não são para os pais, acho que abandoná-los muito novos é bastante criticável. O problema dos idosos é bastante difícil de solucionar numa sociedade tão cheia de valores materialistas....

Quando esteve na tropa, com outros seus camaradas criaram as canções do Niassa em Moçambique. Para si, foi crucial ter estado na origem destas músicas contra a guerra, contra o Estado Novo, e que representam um lamento e protesto pelas condições de vida da tropa? Hoje continua a cantar canções populares e de protesto como as de Fausto e a participar em iniciativas do AJA – Associação José Afonso. O que o faz continuar a cantar canções de protesto e que importância tem para si poder dar voz às canções populares?

CANCÕES DA GUERRA

Não sou responsável por nenhuma canção do Cancioneiro do Niassa, apenas me limitei a proceder à sua recolha e divulgação do qual fiz o mais que pude, tendo gravado imensas cassetes que circularam por todas as zonas de guerra e posteriormente gravei para a Emi/Valentim de Carvalho com a colaboração de vários cantores.

Toco viola desde muito novo e sempre que possível, participo também como músico nos espectáculos da Barraca. Músicas do Fausto, do Zeca, do Orlando Costa, etc. Fazem parte do meu repertório musical e sempre que surge uma oportunidade, não deixo de cantar as cantigas da guerra.

Representou para o filme Quarta Divisão que abordava o desaparecimento de crianças, a pedofilia e a violência doméstica. Que importância teve para si ter representado num filme com temas tão delicados e fulcrais para os dias de hoje?

BALLET ROSE

Temas que me tocam bastante. A pedofilia é sem dúvida a aberração mais difícil de suportar. Tenho dois netos e não posso sequer Imaginar que possam um dia sofrer esses horrores, sejam eles rapto ou pedofilia.

Malucos do Riso,Levanta-te e Ri, Maré Alta, Camilo-Presidente, Sagrada Família, Os Compadres, Donos Disto Tudo, Refrigerantes e Canções de Amor são vários trabalhos seus no registo de humor. De que forma é que trabalhar no humor é importante para si e fundamental para o público?

COMÉDIAS

O registo de comédia é-me sempre muito apetecível. Penso que todos os actores devem passar por ele de vez em quando. É difícil e muitas e muitas vezes não agradamos a determinado público, mas há sempre um dia em que os deuses favorecem a comunicação e a explosão do público nos invade a alma!

Quais são os seus sonhos para Portugal?

VOTOS

Costumo desejar aos meus amigos, Saúde, Paz e Amor!

Porque não desejar o mesmo para o meu País?

Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras

Entrevista: Pedro Marques Correcção: Fátima Simões

14 de Dezembro de 2017

13 de Dezembro de 2017

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