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Entrevista a António Cova

Como foi a reacção do público nos primeiros concertos dos Assacínicos?

Boa tarde antes de mais... quero agradecer-te o prazer e a honra de tamanha entrevista que faço com todo o prazer e disciplina que me compete. Pois bem...meu caro...a reação foi bastante extraordinária e adversa transversalmente, pois garanto-te que o público reagiu de uma forma um tanto ou quanto boquiaberta pela expressividade encontrada e depois defraudada. Foi assim...foi assim...meu caro.

Quando começaste a escrever letras e a compor canções?

Comecei a escrever letras uma de cada vez inicialmente, depois comecei a juntá-las e fazia sílabas, mais tarde surgiram as frases e aí é que tudo começou. Fiquei muito contente mesmo... Quanto às músicas... comecei a compô-las quando, ainda em novo, as encontrei desarrumadas. Aí decidi: Não! Isto não pode continuar assim...e comecei a compô-las.

Tiveste duas bandas com o mesmo nome: os Assacínicos. Como descreves o som da primeira banda e quanto tempo esta durou?

Assacínicos foi realmente a minha primeira banda e só depois é que surgiram os Assacinicos, muito mais tarde. A minha segunda escolha foi apenas porque me fartei da primeira banda por não ter qualidade nenhuma. Decidi abandonar o projecto e formei os Assacínicos deixando para trás os Assacinicos.

Que músicas tocavam? As letras eram de que autoria?

Atenção...As músicas não tocavam sozinhas, éramos nós quem as tocava...mal, mas éramos nós.

Oh...meu caro!...nem queiras saber...se quisesses saber até te dizia, mas prefiro dizer-te mesmo. Olha... tocávamos muitas e cada vez mais. As letras eram de minha autoria, felizmente. E sempre tive a preocupação de ser eu a ter a autoria de escrevê-las, não fosse outro por detrás de mim e me sacasse essa oportunidade.

Quando é que criaram o projecto Assacínicos com o Ramos, o André, o Pedro Punk…?

O Ramos nunca tocou nos Assacinicos, ainda tentou tocar mas depois apareceu o Cyborg e tirou-lhe o lugar. Diga-se que foi bem merecido. Criámos o projecto por volta de 2002, numa tarde em que olhámos uns para os outros e acenámos a cabeça como que a dizer: “ou vai, ou racha!... Depois mais tarde quando nos juntámos pela primeira vez, ainda não nos conhecíamos, foi amor à primeira vista.

Porquê a eterna comparação da parte do público entre a banda e os Mão Morta?

Porque eu nos primeiros concertos que realizámos, tinha sempre os braços para baixo e parecia que estavam mortos e as mãos abanavam muito...Foi a partir daí... mas depois comecei a alterar essa postura. Ajudou-me muito começar com aquele gesto de pedir ao público para bater palmas...estás a ver aquilo que se faz com os braços no ar?.... e a bater com as mãos uma na outra?...foi isso que comecei a fazer. A partir daí até deixei de começar a ter preocupações e problemas de falta de circulação sanguínea, deixei de começar a ter varizes por exemplo....

Qual foi a razão de não ter havido promoção do CD “Foi tudo por tua culpa”, bem como concertos com a mesma finalidade?

A promoção fugiu, quando fui a ver ela já ia a muitos metros de distância e não consegui sequer gritar-lhe. Não é que ela não ouvisse, eu é que não consegui mesmo gritar. Não foi por culpa dela, foi tudo por minha culpa.

O que te fez escolher o Pedro Marques para a curta e a Filipa Rodrigues para o vídeo-clip –bastou-te ter-nos visto na rua para pensares logo “são estas pessoas que escolho para a curta”?

O Pedro Marques foi escolhido sobre um forte movimento de casting e porque sabíamos à partida que teria uma interpretação fortemente correspondida à realidade que se pretendia. Claro que à partida, quando escolhemos estas duas pessoas, o objectivo era fazermos um filme pornográfico em que os dois se despiam e conversavam durante horas a fio de prumo, mas a actriz em questão não aceitou o convite e o Pedro Marques, por respeito à rapariga, acabou por ceder em fazermos os dois filmes em separado.

De que maneira é que descobriste o teu enorme talento – e genialidade – para cantar, compor e representar?

Isso meu caro, é um grande segredo que não posso revelar, até me vêm as lágrimas aos olhos por saber que tenho tanta genialidade e talento. Obrigado meu caro, sinto-me muito agradecido e serás sempre bem vindo a minha casa.

Foi fácil conquistares o público com as tuas letras?

Não foi fácil ao inicio, mas recentemente tem sido mais fácil, agora ficam logo conquistados à segunda letra, o problema é quando falo rápido demais e o público fica sem perceber qual foi a segunda letra que disse. Hás vezes tenho de repetir as palavras, ou declamá-las por sílabas e devagarinho, mas tem corrido tudo bem, obrigado pela pergunta.

Todas as letras que escreves, e as que já escreveste, tiveram origem em quê – filmes, outras letras, coisas que se passam nas ruas...?

Tiveram origem na antiguidade, lembro-me sempre do tempo dos Romanos ou dos Incas, mas também tiveram origem nas ruas, nos becos mais escuros do meu pensamento e no lodo visceral das profundezas do horizonte defraudado por uma manha submersa em dúvidas. É só filmes na minha cabeça...

Acreditas que algum dia viverás só da música ou da arte que crias? Como vês a situação da música e da cultura?

O futuro só a Deus pertence, nunca se sabe se não poderei viver da música ou do canto, sei lá...Olha, Barrabás também duvidou de Deus e Jesus castigou-o com uma chinelada nas costas e não foi por isso que a terra deixou de andar em torno do sol.

Qual foi o projecto que mais gostaste de fazer e aquele em que gostaste mais de participar?

Foi o projeto das águas pluviais e esgotos que efetuei para a Freguesia de Esmeralda do Alentejo. Os excrementos tiveram que ser todos bombeados para a estrada pois nas casas não estavam numa cota suficientemente alta para que a merda fosse transportada para os colectores de forma gravítica

E os teus pais? Respeitam e admiram o teu trabalho musical?

Os meus pais são das pessoas que mais me incentivam e respeitam. No Natal passado oferi-lhes um Cd dos meus. Acho que foi um acto de justiça pois eles é que tinham pago a factura que chegou da fábrica depois de ter mandado fazer os quinhentos Cds.

Que projectos tens em mente para o presente e futuro?

Vou responder-te isso na pergunta que farás três perguntas à frente....

Beijo Negro, Vanda e Anna Akhmatóva são projectos para voltarem à cena?

Não sei , mas espera... vou perguntar-lhes. ( agarra no telefone...) “Estou?...Sim...Então o que acham de voltarem à cena, pergunta-me aqui o Pedro Marques...Então? Querem Voltar?... Ups ...desligaram!”

Quando eras adolescente imaginavas-te na pele de músico e actor? De cantares estas letras um tanto ou quanto agressivas e outras mais erótico-pornográficas?

Imaginei-me sempre nessa pele, antes de me surgir, à coisa de dois anos, um problema grave de urticária crónica. Aí tudo mudou e comecei a pensar de forma completamente diferente e simplificada, sobretudo pelas análises metódicas que efectuo sistematicamente quando me é oportuno. As letras erótico-pornográficas foi um complemento do acaso que se entranhou consequentemente e de uma forma sintéctica.

Gostavas de ter continuado a trabalhar com o Diogo Baena e Ricardo Espírito Santo?

Gostava bastante, só que eles nunca me pagaram o suficiente para poder continuar a trabalhar com eles, trabalhei com eles dois anos e eles nunca me pagaram nem um café...portanto...imagina...Não é qualquer um que aguenta isto, sobretudo quando não estás à espera que te tratem desta forma, que muitas vezes até irrita.

Como surgiu a letra do tema Fase Terminal e a ideia para a sua curta-metragem?

A letra surgiu quando decidi realizar um argumento tendo em vista a oportunidade de fabricar um conteúdo que se enquadrasse numa história que seria um veiculo condutor para o filme que acabámos por efetuar. A ideia surgiu quando andava à procura dela, depois apareceu-me à frente e sugeri que ficasse comigo, mas tive que pagar por isso, como é óbvio.

Como foi para ti teres acompanhado as filmagens da curta-metragem e do vídeo clip Chávenas Quentes? Foi a primeira vez que te viste envolvido num vídeo e numa curta?

Claro que curti, se me perguntar novamente se existe alguma rodagem de um filme que eu curta, voltarei a responder-lhe que claro que curto. Desta vez também curti, apesar de ter também analisado as coisas noutros parâmetros e de ter visto com outros olhos que não os meus.

Quem teve a ideia de passares a escrever uma crónica quinzenal no Semanário Região de Leiria? Gostaste da experiência?

Olha camarada...foi exactamente a mesma pessoa que passado um ano decidiu que deveria deixar de a escrever. A experiência foi bastante confortante, droguei-me durante um ano para ganhar coragem e discernimento para comentar e analisar os momentos mais complexos da actualidade. Foi um ano desgastante e ainda hoje me lembro como se fosse ontem, apesar de parecer que foi a semana passada.

Qual foi o projecto ou a ideia mais marada que criaste?

Foi sem duvida a Horribils Casa, evento do qual me orgulho a plenos pulmões! Consegui reunir uma equipa formidável, na qual também te inseriste. Foi um gosto e um prazer ver aquele objecto de performance crescer. Foi extraordinariamente prazeroso e se existem dúvidas que as apontem a lapiseira vermelha como nos tempos da inquisição, antes do 25 de Abril!

Tiveste apoio no início do teu percurso artístico?

Não tive qualquer apoio camarário nem extraordinário. Cresci às minhas custas e tive que ir trabalhar para sustentar o meu vício pelas artes. Pois é meu caro...é que isto é um vício...não sei se sabes...Estou tão agarrado que ainda agora arranquei uma série de sobrancelhas para conseguir desenhar no meu rosto um pássaro no sobrolho.

Qual foi a cena mais marada, ou mais estúpida, que te aconteceu em concertos?

Foi quando uma fâ me disse que gostava das músicas e pediu-me um autografo...mas queira que assinasse com a caneta dela e eu assinei. eheheheh...

Ainda te lembras da primeira letra que escreveste e da primeira canção que compuseste?

Epá...já não me lembro...deixa cá ver...ena bem...então não é que me esqueci...Olha já sei!... Epá...já não me lembro...

Qual a razão das tuas letras se centrarem em torno da sexualidade – de terem este cariz erótico-pornográfico –, alucinações, droga e álcool?

A razão é que desde miúdo que tenho um fascínio pelas drogas, pelo álcool, e pelos carizes eróticos e afins...Eu costumava tirar as rodas aos carros e trocava os braços das bonecas pelas rodas. Sempre foi assim...Ainda hoje tiro as rodas aos carros quando os pneus se furam, só que não há bonecas proporcionais às rodas dos carros hoje em dia...

Aos seis anos começaste a fazer teatro com o “Quiné”. O que aprendeste com ele? Foste encenado por ele durante quanto tempo?

Aprendi muito meu caro...Comecei aos seis anos de idade. Aprendi a tentar deixar de ser eu mesmo. Ainda não sei se consegui.

Como foi teres participado nas Comemorações dos 100 anos da República?

Foi uma verdadeira merda, tirando a oportunidade de contracenar com o Carlos Bartolomeu e com o Fernando. Mas gostei de ver o carro antigo na Praça Rodrigues Lobo, até consegui cumprimentar o dono e tudo.

O facto de teres participado neste projecto, e teres cantado para vários festivais organizados pelo Fernando Alvim, têm-te dado mais projecção. Tem sido importante para promoveres o teu trabalho?

Tem sido importante e divertido sobretudo e todos. È sempre um prazer trocar duas ou três palavras com o Alvim, Alguma vezes até consigo trocar mais e aí fico mesmo contente. Grande abraço Alvim se me estiveres a ler ou a ouvir se estiveres a ler isto em voz alta!

Tens tido propostas e reacções positivas?

Não pá,... não têm aparecido nada e já estou a pensar desistir de aceitar tanta proposta. Estou a começar a bater no fundo comunitário internacional.

Pintura, Harmónio Noise, Promessa Cega... O que podemos esperar de novo?

Vou lançar brevemente um DVD com todo o espólio cinematográfico que possuo em meu poder e que pretendo demonstrar em formato de DVD a um publico em geral. E tenho mais algumas surpresas na manga que não pretendo revelar pois ainda estão a ser pensadas. Pode ser que entretanto surja alguma coisa...é só para deixar o suspense em entreaberto sempre à espreita, não vá o diabo tecê-las.

Obrigado, votos de continuação de bom trabalho.

Entrevista por: Pedro Marques

Correcção por: Sílvia Dias

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