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Entrevista a José Vaz – Coordenador Do Rancho De Leiria



Esteve preso antes do 25 de Abril em 73 por fazer campanha política, como anti-fascista e contra o crescimento do fascismo e do nazismo.


Como a sua experiência de combater a Ditadura Fascista? Que aprendizagens obteve dessa luta?


O sentido do dever cumprido. Como democrata, entendi estar do lado certo. Vivi na Covilhã, que como é sabido, tratava-se à época dum meio de forte implantação operária, com tradição anti-fascista. Os relatos que me chegavam, foram a “pedra de toque”, para escolher o lado da barricada.

Para si, em tempos como este, que importância tem o trabalho anti-fascista e o conhecimento na primeira pessoa das agruras e das prisões, da censura, do fascismo de salazar e caetano?


Penso que vivemos de novo um tempo perigoso. Veja-se o que vai acontecendo um pouco por todo o Mundo. O crescimento do populismo, a par com uma direita, que se está a aproveitar, dum certo desencanto, com a classe política. Tenho pena que as gerações mais jovens não sejam elucidadas do negro tempo que o fascismo infligiu aos povos. No que ao povo português diz respeito, penso que se deveria dar mais conhecimento do que foi o campo de concentração do Tarrafal (de inspiração nazi).


Fez várias partilhas e publicações contra o recente novo acordo ortográfico.

O que o tem levado a ser contra e a recusar veementemente o novo acordo ortográfico?


Penso que as línguas devem evoluir por elas próprias, e não devem ser impostas por decreto. O actual presidente da república, enquanto comentador televisivo não estava de acordo com o acordo. Depois de eleito, nunca mais se pronunciou sobre o tema, para cumprir com o dito “decreto”. A palavra “bué”, surge no nosso dicionário paulatinamente, emergiu, não foi imposta… “A minha Pátria, é a língua portuguesa”.


Como pessoa da cultura, da palavra, da representação, acredita que ainda é possível despertar as



pessoas para a defesa da Língua Portuguesa





É sempre possível. Ainda estamos a tempo de reverter a situação.



Há mais de trinta anos que se dedica ao folclore. Tem trabalhado como poeta, declamador, e como actor desde os anos 70 e tem sido coordenador do Rancho de Leiria.

O que o tem motivado a trabalhar as raízes e a cultura folclore e o que tem aprendido ao longo destes anos?


Temos um passado que nos orgulha, em torno deste “fenómeno”. Se compreendermos e assimilarmos o passado, mais fácilmente poderemos construir o futuro. Se preservamos a memória dos nossos antepassados, é no folclore e na etnografia, onde podemos beber o conhecimento do povo que fomos e somos.

O que significa para si todo este seu legado e dedicação ao folclore?


Dediquei-me ao folclore, por influência dos arranjos do Zeca Afonso e outros tantos “baladeiros” como se lhes chegou a chamar. As minhas raízes são da Beira Baixa. É uma região com um folclore riquíssimo, daí a integrar estruturas do folclore regional e nacional, foi um salto. Penso que todo o cidadão deve doar algo de si próprio, à sociedade em que está inserido.

Como homem da cultura, como vê a gravíssima situação das artes e da cultura em Portugal?


Estamos de facto a atravessar uma situação muito preocupante. Há situações de que vamos tendo conhecimento, que são autênticos dramas. Os políticos deveriam criar um gabinete de crise, que se debruçasse sobre o estado das artes em geral. Temos que investir na cultura. Quando não, mais tarde iremos pagar uma factura muito pesada. A identidade do povo, também se vê no grau cultural desse mesmo povo.

Quais são os seus sonhos para Portugal?


Que Portugal não se canse de acreditar nas suas potencialidades. A história diz-nos que sempre vencemos as dificuldades contra tudo e contra todos. Afinal, como disse o poeta António Gedeão (1906-1997) “O sonho comanda a vida”, deixemos Portugal sonhar.


Obrigado pelo seu tempo, votos de bom trabalho.

Projecto Vidas e Obras Entrevista: Pedro Marques Correcção: Ana Filipa Monteiro

25 De Dezembro de 2020




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